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Os legados positivos do enfrentamento à Covid-19 no Ceará
Reportagem Especial

Os legados positivos do enfrentamento à Covid-19 no Ceará

Sociedade, ciência e governos avançaram, em velocidade recorde, para crescimentos em questões assistenciais, pesquisa e de gestão de emergências

Os legados positivos do enfrentamento à Covid-19 no Ceará

Sociedade, ciência e governos avançaram, em velocidade recorde, para crescimentos em questões assistenciais, pesquisa e de gestão de emergências
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Em 15 de março de 2020, um domingo, a Secretaria da Saúde (Sesa) confirmou os três primeiros casos de Covid-19 no Ceará. Nos últimos três anos, o mundo se viu diante de um vírus respiratório novo e capaz de provocar quadros clínicos com danos além do sistema respiratório.

Pandemia do Coronavírus teve início em março de 2020 (Foto: Sonar)
Foto: Sonar Pandemia do Coronavírus teve início em março de 2020

A sociedade lidou com fechamentos de fronteiras e diferentes níveis de restrição, passou a entender termos técnicos e foi desafiada pelo fortalecimento de discursos negacionistas — advindos inclusive de governantes. Ao mesmo tempo, sociedade, Ciência e governos convergiram em velocidade recorde para avanços que se tornam legados positivos do enfrentamento à Covid-19.

“Um legado indiscutível é a ampliação da capacidade instalada dos serviços no Ceará. Ocorreu a aquisição de equipamentos extremamente importantes, abertura de leitos, abertura de UTIsUnidades de Terapia Intensiva no Interior…”, avalia Antônio Rodrigues Ferreira Júnior, professor e vice-coordenador do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual do Ceará (Uece). “O sistema da saúde pública, inclusive na parte tecnológica de equipamentos, está mais preparado.”

Conforme a Sesa, o Governo estadual investiu mais de R$ 2,14 bilhões em recursos aplicados no combate ao coronavírus. O Estado implantou Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) em cerca de 20 municípios. O Ceará ganhou ainda 611 leitos hospitalares, entre UTI e enfermaria — um aumento de 15%.

Rodrigues aponta que outro “legado importantíssimo" foi uma maior visibilidade do potencial do Sistema Único de Saúde (SUS).

Aplicativo Conecte Sus foi criado durante a pandemia do Coronavírus com informações sobre a vacinação e a doença (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Aplicativo Conecte Sus foi criado durante a pandemia do Coronavírus com informações sobre a vacinação e a doença

“O SUS passou a ser discutido na mesa do jantar da família e efetivamente como um sistema que precisa ser defendido como público, gratuito e universal de qualidade o que antes, muitas vezes, não víamos”, diz. “Num momento em que o sistema esteve muito exigido e que muitas vezes a parte do sistema privado não conseguiu dar conta, a população se viu sendo cuidada e acompanhada nos mais vários níveis de atenção pelo SUS.”

A ampliação do diálogo entre os entes federativos também é destacada pelo especialista. “Por um não-diálogo tão claro e direto com o Ministério da Saúde, o Governo do Estado tomou para si o protagonismo das ações em conjunto com os municípios. Em vez de cada município ficar pensando isoladamente como contornar situações complexas, pensavam em conjunto. Isso ajuda no planejamento inclusive de médio e longo prazo”, analisa.

“Não menos importante, os profissionais precisaram adequar suas práticas a partir de conhecimentos científicos. Esses conhecimentos também vão ajudar para que os profissionais, em outras situações, inclusive de novas pandemias que poderão acontecer, estejam melhor preparados para lidar com situações complexas”, completa Rodrigues.

População teve de lidar com lockdown e máscara como método de controle na propagação do vírus(Foto: Reuters/Pilar Olivares/)
Foto: Reuters/Pilar Olivares/ População teve de lidar com lockdown e máscara como método de controle na propagação do vírus

 

 

Linha do tempo: legados do combate da pandemia no Ceará

 

   
 

Cooperação para avanços em pesquisa e desenvolvimento científico

No tempo recorde de nove meses, uma força-tarefa desenvolveu um mecanismo de respiração artificial não invasivo: o capacete Elmo. Foram doados para a rede estadual da Saúde 2.392 aparelhos. A estimativa é de que 11.960 pessoas foram beneficiadas, pois o equipamento pode ser reutilizado até cinco vezes, após esterilização.

CRIADO NO CEARÁ, Elmo deve ser incorporado ao SUS(Foto: Tatiana Fortes / Governo do Ceará)
Foto: Tatiana Fortes / Governo do Ceará CRIADO NO CEARÁ, Elmo deve ser incorporado ao SUS

“Desenvolvemos uma expertise para enfrentamento da pandemia, isso nos dá muito orgulho. E a gente não olhou só para o Estado, a ESP saiu do seu lugar para colaborar com os processos formativos em vários estados do País”, avalia Alice Pequeno, diretora de inovação e tecnologias da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE). Formações foram realizadas por equipes cearenses no Amazonas, no Maranhão e em São Paulo. Segundo Alice, mais de 1.500 profissionais foram capacitados em todo o Brasil.

A ESP também foi responsável pelo desenvolvimento de protocolos para o manejo da insuficiência respiratória aguda, o que não havia até então. “Nesse contexto, duas grandes pesquisas passaram a ser realizadas. Uma delas, a Rescovid, objetivou avaliar a efetividade de um registro eletrônico dos pacientes hospitalizados com Covid-19, porque a gente precisava ter dados sobre a doença e sobre os doentes”, adiciona a diretora. Como resultado, há um banco com mais de 6 mil prontuários em seis hospitais, da Capital e do Interior.

A Ciência cearense também desenvolveu o estudo Elmo Registry, que teve como objetivo descrever os efeitos do equipamento. Foram analisados 2.021 pacientes de dois hospitais estaduais: Hospital Leonardo da Vinci e Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes.

Cooperação entre instituições de saúde favoreceram o desenvolvimento de vacinas e controle do coronavírus(Foto: REUTERS / Lindsey Wasson)
Foto: REUTERS / Lindsey Wasson Cooperação entre instituições de saúde favoreceram o desenvolvimento de vacinas e controle do coronavírus

“Temos com isso um banco de dados muito importante para trazer elementos sobre a história clínica da doença. Ainda é tudo muito novo”, ressalta Alice. Ela também destaca outro resultado da “junção de expertises e instituições em prol de enfrentar e resolver uma importante dor que a Saúde estava vivenciando”: a implementação da Rede de Inovação Aberta em Saúde (Rias).

A Rede se baseia em um propósito colaborativo a fim de realizar projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação voltados para a Saúde de forma a otimizar recursos. Desde dezembro de 2021, ESP e Idesco firmaram o acordo de cooperação, foram publicados os termos de adesão da Universidade Federal do Cariri (UFCA), do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), do Serviço Social da Indústria (Sesi), da Fundação Regional de Saúde (Funsaúde), da Faculdade Rodolfo Teófilo, do Instituto da Primeira Infância (Iprede) e da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Também manifestam interesse a Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece); o Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH); a Escola de Saúde Pública Visconde de Sabóia, de Sobral; a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE); a Universidade de Fortaleza (Unifor); a Universidade Vale do Acaraú (UVA); o hub de Inovação ICC Biolabs; o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); o Centro Universitário Christus (Unichristus); e a Federação da Indústria do Estado do Ceará (Fiec).
ESP e Idesco ainda programam a primeira reunião do grupo para discutir uma agenda de prioridades para 2023. Entre as pautas estão o regimento da Rias e formas de captação de recursos.

 

 

Conquistas dos investimentos e esforços coletivos no enfrentamento à Covid-19

 

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