Logo O POVO+
Saúde da gestante: evolução dos cuidados ajuda a desmistificar gravidez
Reportagem Especial

Saúde da gestante: evolução dos cuidados ajuda a desmistificar gravidez

Mitos relacionados à gestação estão ficando para trás com a produção de mais conhecimento científico sobre a saúde das grávidas

Saúde da gestante: evolução dos cuidados ajuda a desmistificar gravidez

Mitos relacionados à gestação estão ficando para trás com a produção de mais conhecimento científico sobre a saúde das grávidas
Tipo Notícia Por

 

 

Grávidas podem ou não fazer exercício? Tem que comer por dois durante a gestação? Precisa ficar deitada durante o parto? Esses e outros mitos permeiam a mente de gestantes durante o período da gravidez e podem confundir, gerar insegurança e ansiedade. Com o avanço da ciência, a assistência a grávidas evoluiu e algumas crenças repassadas entre gerações de mulheres tiveram o efeito positivo comprovado. Já outras, que não têm embasamento, foram desmistificadas.

Exercício físicos de médio e alto impactos com orientação de profissionais de saúde entraram para a rotina da gestação (Foto: FREEPIK )
Foto: FREEPIK Exercício físicos de médio e alto impactos com orientação de profissionais de saúde entraram para a rotina da gestação

A transição do parto domiciliar para o hospital, no século XIX, foi feita quando a ciência ainda não tinha tantas informações sobre a gravidez. Havia poucas faculdades de Medicina, e o conhecimento em obstetrícia não era tão difundido entre os médicos. Com isso, algumas práticas adotadas nessa época se tornaram ultrapassadas depois da realização de mais pesquisas.

Para a obstetriz Juliana Mesquita, alguns dos mitos que são difundidos atualmente não surgiram “nem há 100 anos”, alimentados pela falta de conhecimento científico sobre a saúde das gestantes. Nessa época em que a Medicina ainda não tinha protocolos seguros e baseados na ciência para o parto, as internações podiam ser traumáticas, segundo a profissional.

Saúde na gravidez leva em conta o aspecto nutricional da gestante(Foto: FREEPIK)
Foto: FREEPIK Saúde na gravidez leva em conta o aspecto nutricional da gestante

“Parecia cena de tortura. Deixavam as mulheres sem comer, sem acompanhante, sem a roupa do corpo, deitadas e amarradas [durante o trabalho de parto]”, afirma. Hoje, já é possível saber que se movimentar durante o parto tem benefícios, bem como se alimentar em meio ao processo.

“A gente sabe que quando a mulher se movimenta, se verticaliza, ela sente menos dor e o parto acontece mais rápido. Ela precisa da liberdade de movimento. E se a informação não chega, elas não sabem que podem caminhar durante o trabalho de parto”, afirma Juliana. Tornou-se comum ver vídeos de gestantes na internet até mesmo dançando no hospital junto aos profissionais de saúde.

Comer também dá forças e energia à grávida, além de ajudar os sinais vitais do bebê. Outro mito relacionado ao parto é a necessidade da raspagem dos pelos pubianos, pois eles eram considerados “sujos”. “Hoje pode escrever no plano de parto que não quer que raspe, porque a gente sabe que é uma barreira de proteção contra microrganismos”, diz.

Juliana lembra também que era comum o rompimento da bolsa das mulheres e a injeção de ocitocina, o hormônio responsável pelas contrações, para acelerar o parto sem distinção de casos. “Isso pode piorar o desfecho para a mãe e para o bebê, com maior risco de laceração”, informa a obstetriz. “Hoje, você só pode usar esses recursos se existir justificativa clínica, se o benefício for maior que o risco”, explica.

 

 

Saúde da gestante: quantidade ou qualidade na alimentação?

 

Além do momento do parto, a gestação é rodeada de mitos desde os primeiros meses. Grávidas acabam recebendo desinformação sobre como nutrir o corpo para se manterem saudáveis e dar mais chances para um bom desenvolvimento do feto. É comum ouvir que gestantes precisam “comer por dois”, pois estão gerando outra vida.

A nutricionista Tatiara Monção explica que não é bem assim. “A gestante precisa de um adicional de calorias para gerar energia. No entanto, um adulto precisa de 2 mil calorias por dia, por exemplo, então para uma gestante adulta, 200 calorias a mais pode ser suficiente. Não deve comer igual, mas a quantidade a mais é pequena e é relacionada ao tempo de gestação”, diz a especialista em nutrição materna e infantil.

Alimentação durante a gravidez é uma das temáticas mais importantes na fase gestacional(Foto: FREEPIK )
Foto: FREEPIK Alimentação durante a gravidez é uma das temáticas mais importantes na fase gestacional

O medo em torno da mudança corporal também afeta as gestantes, que ainda se sentem cobradas para manter um padrão de beleza magro durante e logo após a gestação. Apesar disso, Tatiara afirma que é comum e esperado que grávidas ganhem peso, em alguns casos até 17 kg durante a gestação, e ainda continuem saudáveis.

Dietas restritivas nesse período não são recomendadas. “Tudo que eu como passa para o bebê, influencia na percepção de sabores dele. Algumas gestantes aparecem no meu consultório pedindo para tirar lactose e glúten para não dar alergia no bebê. Mas nada é comprovado que se eu tirar esses alimentos da gestante, vai evitar as alergias alimentares. Eu posso inclusive causar uma alergia”, afirma.

Focar em alimentos simples e naturais, como frutas, sucos, sopas, arroz e feijão, é o mais indicado pela nutricionista. Alimentos crus ou malcozidos devem ser evitados por causa do risco de infecções bacterianas ou virais. Já os ultraprocessados em excesso de quantidade e frequência podem levar a diabetes gestacional e alteração na pressão arterial.

 

 

Gravidez saudável deve incluir rotina de exercícios físicos

 

O entendimento de que mulheres grávidas não devem fazer esforço ou exercício ainda é muito difundido, apesar de se aplicar apenas para casos de complicações específicas na gestação. Para gestantes saudáveis e sem intercorrências, se movimentar pode trazer benefícios para a saúde física e mental.

Exercícios de força e equilíbrio promovem a saúde da mulher durante a gestação (Foto: FREEPIK)
Foto: FREEPIK Exercícios de força e equilíbrio promovem a saúde da mulher durante a gestação

“Até pouco tempo atrás a mulher era impossibilitada de fazer muitas coisas durante a gravidez por falta de conhecimento, de pesquisas e estudos”, conta a personal trainer de grávidas Aldenisa Gomes. Outro mito comum é a ideia de que os exercícios só podem ser leves e acontecer a partir do segundo trimestre da gravidez.

Apesar de existirem exceções frisadas por recomendação médica, Aldenisa afirma que, para uma gestação saudável, um treino com exercícios respiratórios, fortalecimento do abdômen, flexibilidade e força podem trazer “inúmeros benefícios não só para a grávida, mas também para o bebê” em todas as etapas.

Sabrina Vasconcelos, grávida de sete meses, pratica beach tennis para manter rotina de atividades físicas(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Sabrina Vasconcelos, grávida de sete meses, pratica beach tennis para manter rotina de atividades físicas

Foi pensando nisso que a nutricionista Sabrina Vasconcelos, 25, decidiu manter a vida ativa que levava antes de engravidar. Nos primeiros meses da gravidez, a jovem continuou fazendo crossfit, pois já praticava o esporte há um ano. Foi apenas devido aos enjôos fortes que chegaram junto do terceiro mês da gestação que Sabrina parou.

No entanto, assim que melhorou, por volta do quinto mês, passou a praticar beach tennis três vezes por semana. Nas primeiras procuras por médicos para acompanhar a gestação, Sabrina chegou a ser desencorajada a praticar esportes por uma profissional da saúde que perpetuou o mito de que ela não poderia continuar tão ativa.

“Minha sogra e minha mãe sempre falavam, mas são pessoas mais antigas, falam mais pelo cuidado. Me surpreende mais uma pessoa que é bem instruída falar isso para um paciente. Ela estava precisando se atualizar”, disse.

Agora, com sete meses de gestação e acompanhada por um médico que a orientou corretamente, os cuidados no esporte envolvem apenas evitar movimentos bruscos e de impacto. “A gravidez me limita, mas não limita minha mente. Eu não deixo de ser eu”, afirma.

 

 

Desinformação pode aumentar ansiedades

 

A gestação é um período que promove transformações nos mais diferentes aspectos da vida. A psicóloga Ana Crys Lopes explica que já é esperado algum nível de ansiedade durante o período. No entanto, as informações falsas ou contraditórias podem aumentar a aflição das gestantes.

Dicas de cuidados durante a gestação envolve acesso a informações de qualidade(Foto: MUSTAFA OMAR/UNSPLASH)
Foto: MUSTAFA OMAR/UNSPLASH Dicas de cuidados durante a gestação envolve acesso a informações de qualidade

“A desinformação vai gerando fantasias para as gestantes, e isso vai tornando o processo muito mais desafiador. Elas ficam na expectativa de algo que muitas vezes não é o real”, afirma a psicóloga. Por isso, Crys Lopes acredita que o pré-natal também precisa ser um momento de “educação e descoberta”.

“Nós, enquanto profissionais de saúde, temos que disponibilizar essas informações, alinhar com ela essas expectativas em relação ao parto, ao pós-parto, e desmistificar um pouco a ideia de perfeição, da romantização que é criada em torno da gestação e do parto”, diz Crys.

Já os amigos e a família precisam apoiar e acolher a mulher neste momento de ansiedade aflorada. “Precisam permitir que essa mulher possa verbalizar, relatar seus sentimentos e angústias”, explica. A rede de apoio é essencial para uma gravidez mais positiva. “A gente está falando de alguém que sempre cuida, e quem sempre cuida em algum momento precisa ser cuidado”, diz a psicóloga.

 

 

Mitos relacionados à gravidez

 

O que você achou desse conteúdo?