O Ceará tem registrado movimentações incomuns em suas estruturas geológicas nos últimos anos. Somente entre dezembro de 2020 e o primeiro dia de maio de 2023, foram assinalados 243 abalos sísmicos em 73 municípios diferentes. O Estado é o segundo do Nordeste com maior número de tremores de terra, contando com a média de um tremor a cada cinco dias. Nos gráficos desta reportagem, é possível observar a força desses eventos bem como os locais onde eles aconteceram e sua frequência.
A partir dos boletins divulgados pelo Laboratório Sismológico, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (LabSis-UFRN), análise da área de dados OP+ traçou um perfil dos tremores no Estado. Foram contabilizados 1.262 abalos em todo o Nordeste desde 1º de dezembro de 2020 até 1º de maio de 2023. Apesar dos números chamarem a atenção, a força desses sismos não têm, até agora, o efeito de danificar, nem de deslocar ou trincar objetos, uma vez que são considerados de baixa intensidade.
No mapa abaixo, pode-se perceber ao longo do tempo onde esses registros ocorreram, assim como suas intensidades. Observa-se ainda que os eventos puderam ser sentidos tanto em plataformas marítimas, como no litoral e no interior nordestino.
Em todos os estados do Nordeste há anotações de sismos durante 2020 e 2023. Nesse período, a Bahia foi onde mais foram registradas ocorrências do tipo, com 393 tremores. Já o Ceará e o Rio Grande do Norte são os outros que passaram dos 200, com 243 e 227, respectivamente. Pernambuco (183) e Alagoas (111) vêm na sequência.
A lista é completada, na seguinte ordem, por Paraíba (48), Sergipe (35), Maranhão (5) e Piauí (5).
Centralizado na placa tectônica Sul-Americana, o Brasil conta com tremores graças à energia acumulada nas camadas subterrâneas da Terra. Como existem fissuras nessa placa, porém, vibrações passam a serem sentidas na superfície quando essa energia é liberada (em forma de onda). Nas extremidades das placas, essa força é maior, bem como sua gravidade e os danos subsequentes.
Na Escala Richter (que vai de 1 a 9, mas sem um limite de graduação), tremores de até 5.4 graus muitas vezes sequer são sentidos, mas podem causar pequenos danos. No Ceará, por exemplo, o evento mais forte observado foi de 2.8 graus, em Jaguaretama, em 24 de outubro de 2022. Viçosa do Ceará (em 7/12/2021) e Coreaú (em 31/8/2020) surgem logo após por terem alcançado 2.7 graus, ambos.
Abaixo, confira os maiores registros de tremores de terra do Ceará entre 2020 e 2023.
Os tremores da dimensão daqueles registrados no Ceará não são fortes o suficiente para causar muita preocupação, mesmo com suas vibrações podendo ser sentidas a quilômetros de distância do epicentro. Para se ter ideia, no território cearense 88,17% dos tremores, entre o fim de 2020 e o começo 2023, não ultrapassaram os 2.0 graus.
No gráfico, é possível ver a magnitude dos sismos e os municípios onde foram registrados.
Mesmo não sendo tão intensos, os abalos sísmicos cearenses mantêm uma periodicidade considerável. Durante os 1.094 dias analisados pelo LabSis, o Ceará contou com 200 tremores de terra. É como se o Estado convivesse com um tremor a cada 5,4 dias. Na visualização abaixo, é possível observar a frequência de sismos ao longo dos meses.
Vale lembrar que dezembro de 2021 foi o mês com mais ocorrências (14); enquanto que 15 de janeiro daquele mesmo ano foi o dia com mais casos no Ceará, com sete tremores calculados.
Os 243 abalos sísmicos no Ceará ocorreram em 73 diferentes cidades, sendo duas delas com maior destaque. Trata-se de Quixeramobim e Sobral, que juntos somam 46 tremores de terra no período analisado pelo LabSis. Mais abaixo nessa lista, Cascavel vem na sequência com dez, assim como Maranguape, Canindé e Alcântara – nove cada um.
Para esta reportagem, foram coletados dados de tremores de terra do Laboratório Sismológico (LabSis), vinculado ao Departamento de Geofísica, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os dados estão disponibilizados em formato de boletins e foram coletados de maneira automática com códigos em Python e, principalmente, a utilização da biblioteca Beautifulsoup4.
Para garantir a transparência e a reprodutibilidade desta e de outras reportagens guiadas por dados, O POVO+ mantém uma página no Github na qual estão reunidos códigos e bases de dados produzidos para as publicações.