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Os sinais que a economia brasileira dá após seis meses de governo
Reportagem Especial

Os sinais que a economia brasileira dá após seis meses de governo

| CONJUNTURA | Principais indicadores econômicos do Brasil têm apresentado bons resultados neste primeiro semestre de 2023. Alguns cenários se repetem em relação ao primeiro governo Lula, em 2003, como a melhoria na balança comercial. Desaceleração da economia internacional tem sido menos intensa, dólar e inflação em queda geram novas perspectivas

Os sinais que a economia brasileira dá após seis meses de governo

| CONJUNTURA | Principais indicadores econômicos do Brasil têm apresentado bons resultados neste primeiro semestre de 2023. Alguns cenários se repetem em relação ao primeiro governo Lula, em 2003, como a melhoria na balança comercial. Desaceleração da economia internacional tem sido menos intensa, dólar e inflação em queda geram novas perspectivas
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“Revisamos nossa projeção para o crescimento do PIB em 2023”. Esse foi o anúncio que diversos bancos, consultorias e economistas fizeram sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil a essa altura do ano.

Para que esse movimento ocorresse, uma série de fatores se movimentaram em relação ao primeiro trimestre. Mas após seis meses, é possível definir quais sinais a economia brasileira dá?

Uma onda positiva no mercado financeiro tem revisado as previsões para o crescimento nacional em 2023. Isso além das estimativas do Banco Central, em consulta ao mercado pelo Boletim Focus, que subiu a projeção de 0,78% (no início do ano) para 1,84% na edição da última segunda-feira, 12 de junho.

Esse resultado foi seguido por uma série de bancos, como o Inter, que elevou suas expectativas para o PIB de 2023 para 2%. A XP de 1,4% para 2,2%. Já o Bradesco subiu de 1,8% para 2,1%.

Banco Central, bancos e consultorias reavaliam previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.(Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)
Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil Banco Central, bancos e consultorias reavaliam previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

O Itaú Unibanco é outro exemplo de grande banco que elevou suas perspectivas para a economia nacional, de 1,4% para 2,3%, mostrando-se o "mais otimista" dentre as análises futuras para o PIB.

A explicação do banco para a revisão é o "crescimento acima do esperado no 1T23 e da expectativa de que, a despeito dos efeitos do aperto monetário, o consumo vai se manter sustentado pela renda nos próximos trimestres."

O Itaú ainda melhorou a projeção para o crescimento em 2024, subindo de 1% para 1,5%. E também as previsões para o mercado de trabalho, prevendo que a taxa de desemprego chegue a 8%, ante os 9% previstos anteriormente.

Evolução do PIB do Brasil - série histórica recente

Michael Roubicek, professor de Gestão Financeira na Fundação Vanzolini, do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e sócio da 3Capital Partners, empresa de M&A, diz que essa mudança de percepção dos agentes econômicos é uma superação ao pessimismo observado no início do ano, por conta do receio levantado tanto em função das declarações eleitoreiras do agora presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto com a perspectiva de déficit público sem controle.

Ele lembra até algumas projeções de possível recessão durante o ano ou no segundo semestre de 2023. “No entanto, a inflação vem tendo uma trajetória de queda efetiva, se aproximando do teto da meta do Banco Central."

"Os juros elevados não vêm prejudicando as perspectivas de crescimento econômico e as estimativas vêm subindo, indicando que pode chegar a 2% no ano”, analisa Michael, frisando ainda as boas previsões para o agronegócio, que já foi o grande motor da economia no primeiro trimestre.

O senador cearense Cid Gomes (PDT) "deu aula" de macroeconomia para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência no Senado. Esse é um dos episódios marcantes de um primeiro semestre de críticas ao BC pela manutenção da taxa Selic em 13,75%(Foto: Pedro França/Agência Senado)
Foto: Pedro França/Agência Senado O senador cearense Cid Gomes (PDT) "deu aula" de macroeconomia para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em audiência no Senado. Esse é um dos episódios marcantes de um primeiro semestre de críticas ao BC pela manutenção da taxa Selic em 13,75%

O novo ânimo na economia reverbera também no mercado financeiro e de câmbio. O dólar nesta semana de 12 a 16 de junho, chegou ao menor patamar em 12 meses, a R$ 4,85.

E, de acordo com os dados da B3, nos últimos 12 meses, muitos investidores chegaram para a renda fixa, atraindo 4 milhões de novos investidores e gerando R$ 1,8 trilhão em montante no fim do primeiro trimestre, alta de 42% em relação ao mesmo período do ano passado.

Movimento parecido ocorre na renda variável, mesmo com os juros em alta. Cerca de 1 milhão de pessoas abriram contas nos últimos 12 meses. E, nos primeiros três meses do ano, pela primeira vez na história da B3 o número de contas superou a marca de 6 milhões (chegou a 6,1 milhões), somando um montante de R$ 439 bilhões sob custódia.

 

 

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Dentro desse cenário, alguns desafios são importantes. Levantamentos recentes mostram que a confiança de consumidores e empresários está impactada, indicando menor interesse em investir nos negócios ou adquirir bens e serviços no mercado. Algumas pautas que dependem do Congresso também geram “calafrios” no mercado.

Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), César Augusto Bergo, a análise não é 100% positiva. Para os próximos meses, segundo o economista, há interrogações importantes, como a capacidade do governo em aprovar reformas e arcabouço fiscal.

"A aprovação do arcabouço fiscal está para sair e isso ajuda o País. Temos ainda a questão da reforma tributária, que existe um empenho da Câmara de apreciar no primeiro semestre. Isso deixa o ambiente de negócios mais tranquilo, mas existe o fato de que a questão política está pesando", observa.

 

 

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Da classe média aos mais pobres: consumo das famílias no foco

Grande motor da economia nacional, a proporção de consumo das famílias veio caindo desde o início da pandemia, em 2020, retraindo sua participação no PIB de 62,89% para 60,97% em 2021, no que foi a menor parcela desde 2011. Pesquisa recente do IPC Maps projeta que as famílias brasileiras gastarão cerca de R$ 6,7 trilhões em 2023, aumento real de 1,5% em relação a 2022.

Os dados apontam para uma desaceleração da recuperação do consumo das famílias, especialmente por conta dos juros altos, inflação e poupança menor.

Para resolver a questão, o Governo aposta no aquecimento do consumo via subsídios - caso do programa para compra de veículos novos, que gera movimento também na produção industrial, além da recuperação das contas dos inadimplentes, via programa Desenrola, esperando colher frutos com aumento de demanda por produtos e serviços no fim do segundo semestre.

 

 

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Como os movimentos internacionais impactam o Brasil

Se em meados de setembro, a notícia de que a economia da China havia entrado em desaceleração e poderia prejudicar os planos para a economia brasileira em 2023, a confirmação de que o PIB da China cresceu 4,5% no primeiro trimestre de 2023 e que o país estabeleceu meta de 5% de crescimento para esse ano anima.

Neste cenário, de recuperação das perspectivas do principal parceiro comercial brasileiro, a previsão para o comércio exterior nacional melhora.

Se na virada do ano boa parte das consultorias previam que a atividade econômica global seria fraca, agora já se estima uma conjuntura positiva que possa gerar superávit acima de US$ 70 bilhões na balança comercial de 2023, o que configura um recorde histórico.

A melhoria do cenário econômico internacional - ainda que timidamente na maioria dos países - se espalha não só para a China, mas também para Europa e Estados Unidos.

 

 

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O Reino Unido observou um resultado surpreendente no índice de desemprego, que caiu para 3,8% no mês de abril em relação a março. O dado ficou abaixo dos 4% previstos e também revelou aumento no salário semanal médio em 7,2% em relação ao mesmo período do ano passado.

Mas, o que significou o resultado mais esperado da semana foi o anúncio positivo da inflação dos Estados Unidos, que desacelerou de 4,9% para 4% e ficou abaixo das expectativas, segundo os dados revelados nesta semana.

Esse quadro indica boas perspectivas, pois essas são algumas das principais economias do mundo e parceiros comerciais brasileiros. Para o economista e consultor, Alcântara Macêdo, as relações internacionais brasileiras devem se expandir muito nos próximos anos.

Investidores internacionais têm intensificado suas visitas e, no caso do Ceará, setores como o de energias renováveis e turismo são destaque.

Primeira molécula de hidrogênio verde do Ceará foi produzida no Pecém(Foto: Divulgação/EDP Brasil)
Foto: Divulgação/EDP Brasil Primeira molécula de hidrogênio verde do Ceará foi produzida no Pecém

Com a continuidade do crescimento do agronegócio brasileiro, mas também pelo crescimento da indústria de energias renováveis e a força da siderurgia, as perspectivas que se abrem são maiores ainda.

"O agronegócio no Brasil já alimenta 1,2 bilhão de pessoas, a tendência é que isso venha crescer para 1,5 bilhão de pessoas na próxima década. A indústria brasileira foi muito sucateada em alguns setores nos últimos anos, mas temos setores pujantes, como a siderurgia, a química", pontua.

 

 

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As perspectivas para a economia cearense: energias renováveis lideram, mas indústria precisa reagir 

Prestes a divulgar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) local no primeiro trimestre de 2023, o Ceará tem desafios a superar até o fim do ano. Os dois principais são históricos, mas que conversam com contextos pontuais de setores.

Economista Lauro Chaves é professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece)(Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Economista Lauro Chaves é professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

De acordo com análise do presidente da Academia Cearense de Economia e professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Lauro Chaves Neto, esses dois desafios primários - e históricos - são: manter o equilíbrio fiscal e conseguir superar o patamar de participação defasado da economia cearense no bolo do PIB nacional.

No primeiro ponto, Lauro destaca que, num estado que tem como maiores desafios a alta desigualdade e pobreza e déficit de infraestrutura em relação aos concorrentes, motiva a necessidade de equilíbrio nas contas públicas.

"Nós temos de manter o equilíbrio fiscal, fazer o dever de casa. No setor público, principalmente em um estado com muitas desigualdades e carências como o Ceará, sempre vão existir mais demanda por recursos do que sua disponibilidade. Isso é algo que não podemos abrir mão", afirma.

"E mais", diz Lauro, esse equilíbrio fiscal não pode ser tido como meta finalística, "mas é preciso que a sociedade entenda que isso ajuda o poder público a conseguir implantar as políticas redistributivas, de infraestrutura, que vão ajudar a reduzir as desigualdades".

 

 

Luiza Trajano confronta Campos Neto e cobra redução dos juros

Em relação ao segundo desafio, aumentar a participação do PIB cearense na produção de riquezas nacional é um problema nordestino, mas o Ceará demonstra potencial para superar essa trava regional.

"Para superar essa defasagem, precisamos de um grande ganho de produtividade e atração de investimentos e nós visualizamos as energias renováveis com formação do hub de hidrogênio verde, a fruticultura irrigada, economia do mar e o turismo", avalia Lauro, que também lembra de setores tradicionais da indústria que precisam de modernização.

 

 

Declarações na semana

 

 

Agência de Risco e a melhora do cenário no Brasil

S&P Global: Agência de risco internacional melhorou a perspectiva da nota do Brasil pela 1ª vez desde 2019, afirmando que "vê sinais" de estabilidade fiscal e monetária a partir da redução do déficit fiscal (com a aprovação do arcabouço fiscal) e crescimento do PIB.

 

 

Ponto de vista

Perspectivas macroeconômicas do Brasil

Rubens Moura*

Rubens Moura, professor de ciências econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio (FPMR)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Rubens Moura, professor de ciências econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio (FPMR)

Os indicadores mensais convergem para uma inflação em queda e controlada. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) apontou um avanço econômico de 2,4% no último trimestre. Já o Produto Interno Bruto (PIB) apresentou um aumento de 1,9%, esse crescimento trimestral estava acima de qualquer expectativa, os mais otimistas esperavam um aumento de 0,6% para o mesmo período.

Ao analisar o crescimento do PIB é possível notar que o agronegócio sustentou os resultados econômicos com um crescimento em mais de 20%. Entre os produtos em destaques o milho e a soja impulsionaram o setor agrário. A soja, por exemplo, apresentou um incremento de 26%, porém o grão é plantado entre os meses de setembro e outubro para colheita de cerca de 70% no início do ano seguinte. Outro fator de destaque e a commodity, que está com uma previsão de queda de preço, o que pode diminuir o valor da exportação e do PIB.

A formação bruta do capital fixo, que é o consumo das empresas na compra de novos equipamentos, materiais e insumo, mede a capacidade do empresário em produzir. Os casos de queda na aquisição de máquinas acontecem porque o proprietário não está otimista com a demanda de mercado e reduz os investimentos. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) revelou uma queda de 3,6%, no primeiro trimestre, referente aos gastos das empresas.

As consequências têm desdobramento na geração de emprego, porque o agronegócio não gera tantas vagas quanto a indústria e o setor de serviços. Dependendo das mudanças de estratégias do Banco Central, esse cenário pode continuar, pois ambos os segmentos dependem da redução das taxas para gerar novas oportunidades profissionais.

A média mundial prevista pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano é de 2% do mundo. O Brasil está abaixo desse valor. É importante ter uma economia diversificada no setor industrial, comercial, serviços, entre outros para não depender de indicadores internacionais.

O consumo das famílias também cresceu pouco devido aos juros altos e às medidas contracionistas para controlar a inflação. O Banco Central pode trilhar um caminho para queda da taxa Selic, pois o consumo do bem durável reduziu porque depende de parcelamentos e financiamentos, meios que são impactados por altas taxas de juros.

*Rubens Moura é professor de Ciências Econômicas da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio (FPMR)

 

 

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