Antes uma peculiaridade do rio Ceará, o
Explicação do médico e historiador, João Flávio Nogueira."
Um local que, por volta de 1929 a 1943, recepcionou inúmeras aeronaves, muitas delas de
Uma divergência entre poderes públicos — de um lado o Ministério Público do Estado (MPCE), do outro a Prefeitura de Fortaleza, faz com que o espaço continue — há 80 anos (e contando) —, abandonado.
Na quarta-feira, 31 de maio de 2023, depois de um pedido do MPCE pelo tombamento do Hidroporto Condor ser acatado pela 14ª Vara da Fazenda Pública de Fortaleza, ficou pré-estabelecida a revitalização da área e a construção de um museu que retrate a história do local.
A ação é resultado de Inquérito Civil instaurado pelo MPCE, em 2014, sugerido pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Ceará (Crea-CE), para verificar a necessidade e a possibilidade de tombamento do Hidroporto.
A Prefeitura de Fortaleza contestou a solicitação e afirmou a impossibilidade de recuperar o Hidroporto por se tratar de "um bem particular que se encontra destruído e de impossível restauração".
"O Hidroporto é um bem particular. Atualmente, não temos nenhum projeto específico para a área", confirma em nota a Prefeitura.
De acordo com Ann Celly Sampaio, titular da 135ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, apesar do valor histórico, a Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor) informou que não havia processo de tombamento em qualquer parte da área referida.
Ao O POVO, a promotora de Justiça respondeu algumas indagações acerca do tema.
Primeiro filho de Alberto de Souza, comerciante e proprietário do Albertu's Restaurante e da
Quando começava a se fundar o Clube de Regatas da Barra do Ceará, obra orquestrada pelo presidente Oswaldo Rizzato em sociedade com o político Antony Costa, Alberto pai se mudou para a Barra com a esposa, Maria Lopes, e quatro filhos a tiracolo.
Na juventude, Francisco Alberto não teve a oportunidade de se deliciar com o funcionamento do Hidroporto. Mas a memória guarda detalhes históricos.
“O rio Ceará é referência da aviação de Fortaleza por conta do Hidroporto. Falavam que aqui era um ponto comercial, tinha um charme. Acho que foi a maior obra da Barra do Ceará. Eu tenho muita vontade de conhecer um dia. Só tem em Recife esses
Explicação do médico e historiador, João Flávio Nogueira."
O sogro, Raimundo Maia da Silva, saiu de Natal, no Rio Grande do Norte, para trabalhar no Hidroporto por dois anos (de 1942 a 1944). Somados, são mais de 80 anos de tradição da família Maia na Barra do Ceará.
“Ele era funcionário da Panair do Brasil S.A., com carteira assinada e tudo. Ele era conhecido como ‘Raimundo da Panair’, para não chamar de ‘Pané’”, lembra.
A principal preocupação de Alberto é conservar parte do legado deixado pelo pai: o restaurante. “Servir aquela peixada, tradição cearense. E, também, não podemos perder a gastronomia de dona Marisa”.
Em 2018, na Câmara Municipal, o Processo nº 706954/2018 assegurou o tombamento definitivo de três patrimônios históricos localizados na Barra do Ceará: o Albertu's Restaurantes, a Praça Alberto de Souza e o píer da Barra do Ceará.
“Isto aqui é tombado. Um patrimônio. Inclusive, ‘tô’ até esperando o deputado federal Luiz Gastão (PSD), para falar sobre o museu orgânico, que foi uma ideia da comunidade, levada a ele, e eles têm esse museu no Cariri (...) Aqui tem passeio de barco também, o nosso tá mais próximo de ser uma realidade do que o museu do hidroavião. Estão sem vontade política de fazer nada aqui na Barra”, cobra.
Francisco Alberto revela que ainda existem algumas estruturas remanescentes do
“Se você conseguir entrar, verá que ali era o hangar. Onde tinha o píer de embarque e desembarque. Faz tempo que não entro lá. Este prédio já foi tudo, foi hangar, foi a primeira delegacia da Polícia Civil, agora é motel. Inclusive, ele é um dos primeiros motéis de Fortaleza”.
Por conta disto que, de forma espontânea e risonha, seu Alberto garante: “A Barra é sempre pioneira em tudo, e no amor também".
Aos frequentadores assíduos da avenida Radialista José Lima Verde, n° 1374, o esquecimento do local culminou um sentimento mútuo. Este, de lamento.
Para preservar a história do bairro, a comunidade da Barra clama por uma estrutura que engrandeça e traga de volta as lembranças alegres que outrora experimentaram, ou, em alguns casos, apenas ouviram falar dos antepassados.
O pesquisador sociocultural Rui Rodrigues, de 41 anos, afirma sua paixão pela história que o bairro representa para Fortaleza e para o Estado.
"Toda essa área é de grande movimentação, de economia, devido ao próprio Hidroporto e a própria história da Barra do Ceará. A partir dos anos 2000, tudo foi desativado, o prédio ficou esquecido".
Não apenas por isso, Rui também tem uma outra motivação sentimental selada nas suas pesquisas. Muito próximo ao antigo hidroporto, o falecido pai, “seu Vicente”, construiu um estaleiro artesanal naval — existente desde 1973.
“Hoje, estou com esse legado. Ouvi a história dele (pai) falando do Hidroporto e aquilo foi me apaixonando. Fotos, e todas as histórias, conheço toda a magia que teve. Assim cresci, fascinado com as histórias, e hoje defendo o lugar”, conta.
A esperança de Rui é que as entidades públicas idealizem um projeto que contemple a história e traga a reestruturação e revitalização do lugar. O maior medo dele é que a área sofra especulação por parte do empresariado.
“Este é um dos maiores anseios dos moradores daqui (da comunidade), que fosse feito um museu que resgatasse não apenas a história da Barra do Ceará, mas a história de Fortaleza. Seria muito mais viável ser feito algo voltado para nossa cultura do que deixar de um grande local depredado e esquecido", destaca.
“É um local ligado ao rio, ao mar, e isso deve interessar muito a eles (empresários), mas não podemos deixar a nossa história e cultura de lado, que é tanto mazelada e marginalizada. A gente espera que tenha este investimento — que acreditamos que não seja tanto — principalmente para verem a Barra do Ceará, que é a história de Fortaleza, que é a história do Ceará, e que nós tivemos este equipamento moderno no século passado”.