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Estrangeiro no comando do nosso futebol? O perfil dos treinadores da Seleção Brasileira
Reportagem Especial

Estrangeiro no comando do nosso futebol? O perfil dos treinadores da Seleção Brasileira

O italiano Carlo Ancelotti deve ser o novo treinador da Seleção Brasileira de Futebol. Apesar de parecer estranho, não seria a primeira vez que um estrangeiro assumiria o comando do símbolo máximo do futebol nacional. Levantamento do O POVO mostra um raio-X dos técnicos que já estiveram na beira do gramado pela Amarelinha

Estrangeiro no comando do nosso futebol? O perfil dos treinadores da Seleção Brasileira

O italiano Carlo Ancelotti deve ser o novo treinador da Seleção Brasileira de Futebol. Apesar de parecer estranho, não seria a primeira vez que um estrangeiro assumiria o comando do símbolo máximo do futebol nacional. Levantamento do O POVO mostra um raio-X dos técnicos que já estiveram na beira do gramado pela Amarelinha
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A Seleção Brasileira de Futebol está passando por um momento de transição e que sempre é acompanhado por olhos do mundo inteiro quando acontece: a escolha de um novo treinador. Mas ao contrário de como ocorreu nas últimas décadas, um componente inusitado entrou em discussão, que é a possibilidade real de um estrangeiro assumir o comando da Canarinho. Apesar de incomum, esta não seria a primeira vez que alguém de fora do País ocuparia a dianteira da pentacampeã mundial.

Pensando nisso, O POVO preparou um levantamento de todos os treinadores efetivos que já regeram a Seleção Brasileira desde 1914, traçando um perfil de local de nascimento, raça/cor e idade desses personagens. Além do mais, será possível conferir nas linhas abaixo o tempo em que as mais de 50 comissões técnicas permaneceram no cargo, assim como o desempenho de cada uma em termos de vitórias, empates e derrotas.

 

 

Treinadores estrangeiros na Seleção Brasileira

O sucesso de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro a partir de 2019, – como Jorge Jesus, no Flamengo, e Abel Ferreira, no Palmeiras –, somado aos constantes fracassos da Seleção Brasileira nas últimas cinco Copas do Mundo acendeu uma forte discussão no esporte nacional. “Que tal um treinador não-brasileiro à frente da Canarinho?”, foi a pergunta de inúmeros torcedores, jornalistas, comentaristas e outros personagens que fazem parte do ambiente futebolístico local.

Nesse cenário, nomes mundiais como do italiano Carlo Ancelotti começaram a entrar em pauta, inclusive na própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Resultado disso é que informações internas da entidade máxima do futebol nacional dão conta de que haveria um acerto com o treinador italiano. Oficialmente, nenhum contrato está assinado, uma vez que o profissional tem vínculo com o Real Madrid até o meio de 2024. Sua eventual chegada, portanto, só poderia acontecer após esta data.

Multicampeão por onde passou, a ideia de Ancelotti à frente da Seleção Brasileira agrada boa parte dos torcedores, apesar de muitos outros ainda torcerem o nariz para essa possibilidade. Sua principal alegação é de que isto significaria uma perda de identidade nacional. Ao longo da história, porém, a Amarelinha já foi comandada três vezes por profissionais estrangeiros. Veja abaixo quem foram:


Caso a contratação de Ancelotti se concretize, portanto, ele será o quarto estrangeiro a comandar a equipe brasileira, sendo apenas o segundo a assumir o cargo de maneira efetiva. Confira as nacionalidades de todos os treinadores da Seleção ao longo dos anos a partir de 1921:

 


Rio de Janeiro domina o comando da Seleção Brasileira

Até o ano de 1922, a Seleção Brasileira não era dirigida por uma única pessoa, mas por uma comissão técnica formada por diversos jogadores. Estes eram responsáveis pelas convocações, escalações e treinamentos, sendo um deles o representante da equipe dentro de campo perante ao juiz. À época, quem assumia esta função era chamado de “técnico”, que hoje é o que é conhecido por capitão.

É difícil encontrar registros confiáveis sobre os integrantes que fizeram parte dessas comissões, as quais estiveram à frente da equipe em sete oportunidades. Das poucas informações daquele período disponíveis na internet, porém, todas levam ao padrão que se repete até os dias de hoje, que é a predominância de profissionais do Sul e do Sudeste no comando da equipe verde e amarela.

Inclusive, enquanto até mesmo treinadores estrangeiros já tiveram oportunidades na seleção nacional, as regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste nunca tiveram um representante sequer neste cargo. Tanto é que das 57 trocas de comandos efetivos que ocorreram desde 1914, 47 foram com profissionais nascidos em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou São Paulo.

Além das sete comissões técnicas e dos 57 treinadores do Sul e do Sudeste, a equipe contou com: dois por profissionais cuja naturalidade não foi identificada pela reportagem; um comando por treinador estrangeiro; e um comando dividido por um estrangeiro e um brasileiro, que foi o caso de Flávio Costa e Joreca (Portugal), em 1944. Veja abaixo essa distribuição.

 

 

Felipão é o mais velho a ter assumido a Seleção, com 65 anos. Ancelotti pode bater o recorde

Historicamente, a média de idade dos treinadores que já assumiram a Seleção Brasileira é de 45 anos. Valor bem inferior àquele registrado quando analisamos somente os últimos dez treinadores efetivos da equipe, que é de 53 anos. O envelhecimento dos treinadores no comando da Canarinho é algo que se destaca com o passar dos anos, conforme mostra o gráfico abaixo. Isto é, com o avançar do tempo, profissionais mais experientes passaram a ganhar mais oportunidades, em detrimento dos mais jovens.

 

Último a levantar uma taça de Copa do Mundo com a Seleção Brasileira, em 2002, o técnico Luiz Felipe Scolari retornou ao comando em 2013. Chegando com a missão de dirigir a equipe no Mundial do ano seguinte, no Brasil, ele tinha 65 anos quando reestreou à beira do gramado com a Amarelinha. Com isso, Felipão tornou-se o treinador mais velho da história a assumir a Seleção.

Caso Carlo Ancelotti assuma a equipe verde e amarela, feito que deve acontecer somente após junho de 2024, essa marca será quebrada. Isso porque o italiano deve chegar com 66 anos.

Abaixo, confira individualmente as idades de todos os treinadores que já comandaram a Seleção Brasileira. Obs: aqui estão excluídos os treinadores interinos e as comissões técnicas, comuns até a década de 1920.

 

 

Seleção comandada por treinadores brancos. Luxemburgo é o único negro no cargo

Mesmo conduzido por negros em campo, o futebol brasileiro guarda a vaga de treinador quase que exclusivamente para pessoas brancas. É o que mostram os dados analisados pela reportagem, que levou em consideração a autodeclaração dos próprios profissionais, análises de imagens e pesquisas do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Nesse sentindo, dos 50 treinadores que já estiveram no comando da equipe brasileira, Vanderlei Luxemburgo aparece como único negro que assumiu o cargo de maneira efetiva em mais de cem anos de história.

Nessa contagem, foram excluídos os integrantes de comissões técnicas, que estiveram no comando da Seleção em sete oportunidades entre 1914 e 1920.

 

 

Zagallo é o treinador com mais tempo no cargo

Presente em quatro conquistas de Copa do Mundo, Zagallo é o técnico que por mais tempo dirigiu a Seleção Brasileira. Com duas passagens enquanto treinador (uma entre 1970 e 1974 e outra entre 1994 e 1998), o velho lobo contabiliza 2.864 dias somados no cargo. Além dele, apenas mais dois alcançaram a marca de mais de 2 mil dias à frente da equipe verde e amarela.

Responsável por comandar a Canarinho em três mundiais, Carlos Alberto Parreira é o segundo técnico com mais tempo no cargo. Ele assumiu a equipe nas seguintes ocasiões: em 1983; entre 1991 e 1994; e entre 2003 e 2006. Ao todo, foram 2.416 dias de comando. Na sequência, vem Tite, que assumiu em 1º de setembro de 2016 e ficou até 9 de dezembro de 2022, contabilizando ao todo 2.290 dias.

Veja abaixo o top 10 treinadores mais longevos da história da Seleção Brasileira.

 

De maneira contínua, Tite foi o que teve a passagem mais duradoura. Conforme mostrado acima, o treinador da equipe durante os ciclos das Copa de 2018 e 2022 ficou no comando por 2.290 seguidos. Flávio Costa durante 1945 e 1950 é o que vem logo na sequência, com 2.002 dias. O Velho Lobo Zagalo, por sua vez, fica na terceira posição, durante o ciclo de 1970 a 1974 (1.567 dias).

 

 

Treinadores com mais jogos, vitórias e derrotas

Apenas dois treinadores conseguiram permanecer no cargo por mais de cem jogos. São eles Zagallo, com 123 partidas, e Carlos Alberto Parreira, com 112. Na sequência, aparecem Dunga, Tite e Aymoré Moreira, com 83, 81 e 61 jogos, respectivamente. Apenas mais outros quatro nomes estiveram como treinador por mais de 50 disputas (Vicente Feola, Flávio Costa, Luiz Felipe Scolari e Telê Santana). A média de duração à beira do gramado é de 29 jogos.

 

O período em que esteve como treinador deu a Zagallo a oportunidade de obter muitas vitórias. Tanto é que foram 87 conquistas, o que lhe dá o status de maior vencedor de partidas sob o comando da Seleção. Com 61 e 60 vitórias, Carlos Alberto e Tite aparecem na sequência.

Enquanto isso, o treinador que acumula mais derrotas é Aymoré Moreira, que em 61 partidas somou 15 infortúnios. Já os técnicos com dez ou mais derrotas são Carlos Alberto Parreira, Flávio Costa e Zagallo, com 14, 12 e 10 derrotas, respectivamente.

 


Metodologia

Para esta reportagem, foram coletados dados sobre os treinadores da Seleção Brasileira por meio de diferentes sites, como da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Wikipédia, blog do professor Fabio Cunha e Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Para garantir a transparência e a reprodutibilidade desta e de outras reportagens guiadas por dados, O POVO+ mantém uma página no Github na qual está reunida a bases de dados produzida para esta publicação.

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