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"Do que eu me orgulho": uma celebração da diversidade
Reportagem Especial

"Do que eu me orgulho": uma celebração da diversidade

No Dia do Orgulho LGBTQIA+, O POVO reúne relatos de 24 pessoas sobre o que as envaidece, seja na luta por direitos, seja na vida particular

"Do que eu me orgulho": uma celebração da diversidade

No Dia do Orgulho LGBTQIA+, O POVO reúne relatos de 24 pessoas sobre o que as envaidece, seja na luta por direitos, seja na vida particular
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A gente podia falar de celebridades que se assumem com maior frequência — equivalente à maior aceitação da sociedade. A gente podia elencar conquistas. Dimensionar lutas. Esmiuçar causas. Porque hoje é Dia do Orgulho LGBTQIA+. E quando a gente pensa nessas letras, a coletividade vem à mente.

Mas não existe coletividade sem indivíduo. E não existe diversidade sem diversificação. O POVO reuniu mais de duas dezenas de depoimentos pessoais. Orgulhos próprios, sentimentos íntimos, de pessoas que se enquadram em um dos infinitos tons da bandeira de arco-íris. A regra era simples: um vídeo de um minuto em que a pessoa explicasse do que ela se orgulha.

Não cabe a um veículo de comunicação dizer o que toca a alguém. O que nos cabe é reportar. Ouvir todas as vozes. E comunicar.

Um tema recorrente nos relatos foi a família. Seja a conquista da adoção em um casal homoafetivo, seja a chance de prover o sustento de quem se ama, seja a compreensão das dificuldades de uma mãe solo, seja a construção da própria família ao acolher quem não tinha para onde ir. Houve um objetivo comum, reiterado, de ampliar o leito familiar, algo que contrasta com a retórica de que a diversidade as quer "destruir".

Outro foi a própria sexualidade — algo que impõe, de forma talvez arbitrária, uma necessidade de resistência a um mundo de iguais. O assumir-se como forma de dar força ao outro. Ou reconhecer-se como mecanismo de paz interna. O aceitar-se como expansão de quem se é. 

Há ainda o trabalho. O reconhecimento pelas conquistas, negadas a quem vive às margens. Ou ainda a própria sobrevivência — pontos-chave num país que, apesar dos avanços, é o que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.

O recado é sobre aceitação. Cada letra com suas potências. Lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans, travestis, pessoas queer, pessoas intersexo, assexuais, panssexuais, pessoas não-binárias. O que hoje convenciona-se chamar LGBTQIAPN+, numa sigla tão mutante quanto a natureza humana. 

Para quem se incomoda com as tantas letras, para quem tem medo das ameaças ao tradicional, para quem crê em pecados irremediáveis, para quem se queixa de um mundo que muda, essa é a chance de aceitar só por hoje. Se der certo em um dia, há de dar certo também amanhã.

A coletividade protege as minorias. Força nos números. Mas a diversidade se faz nos indivíduos.

Relatos "Do que eu me orgulho"

Julyta Albuquerque, mulher cis, lésbica

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A jornalista Julyta Albuquerque, 40 anos, é uma mulher cis e lésbica. Ela se orgulha da família que constrói com a esposa e o filho, a quem chama "amores da minha vida". Ela considera a criação do filho a "maior conquista" de sua vida, destacando a importância de "celebrarmos a verdade das nossas existências" e lembrando "a luta das que me antecederam".

Rafael Mesquita, homem cis gay (ele/dele)

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Rafael, de 37 anos, é jornalista e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará (Sindjorce). Ele se orgulha de ser quem é e de amar da forma que ama, e pontua que falar sobre orgulho é uma ação de resistência contra o preconceito sofrido ao longo da vida. Ele destaca a importância da representatividade de pessoas LGBTQIA+ ocupando posições de destaque.

Jô Alves, agênero, demissexual e pansexual

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Jô Alves, 32 anos, é ume multiartista e estudante de Ciências Sociais não-binárie, pansexual e demissexual. Jô se orgulha, primeiramente, de estar vivo, por ter sido considerado uma pessoa "errada" e "desajustada" ao longo de toda a vida. Para ela, a grande conquista é seguir resistindo "para além de toda a doença mental, para além de toda a força convidando a desistir da existência, por não se sentir apto a esta existência".

Fernando Henrique Lima (FH), homem cis gay

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FH é professor da rede estadual de ensino e coordenador do projeto "Sobral no Enem". Ele se orgulha de ter saído do armário em sala de aula, ação que, embora tenha ocorrido por acaso, foi responsável por auxiliar um estudante a superar ideações suicidas. Desde este episódio, ele passou a fazer questão de se posicionar sobre o tema durante suas aulas.

Moni Porto, pessoa intersexo, gênero fluido

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Moni Porto, 33, é uma pessoa intersexo de gênero fluido. Trabalha na advocacia, faz mestrado, é parte do conselho da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica e integra a Associação Brasileira de Intersexo (Abrai). Moni se orgulha de ter sido a primeira pessoa intersexo a ter a oportunidade de presidir uma comissão temática numa Seccional da OAB.

Chris Rodrigues, gay (ele/dele, ela/dela)

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Poeta de destaque na cena artística fortalezense e ativista social, Chris, de nome artístico Poesia Viva, tem orgulho "de ser essa bicha preta, favelada, afeminada, toda tatuada e muito empoderada". Chris frisa que seu lugar de destaque serve para "ser a voz de quem não tem mais coragem para lutar".

Ana Luísa Silveira, mulher cis lésbica (ela/dela)

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Ana Luísa, conhecida como Nalu, tem 34 anos e é professora da rede pública no Rio Grande do Norte. Ela se orgulha de ser uma mulher lésbica, de falar abertamente sobre o tema com seus estudantes e de não ter desistido dos estudos, podendo, assim, se aperfeiçoar no que ama e cuidar de sua família. Ela destaca, também, ter orgulho das pessoas LGBTQIA "que tentam sobreviver um dia de cada vez".

Tales Dornelas, não-binárie, bissexual

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Tales é cientista social e ativista e tem 22 anos. Ele reforça a importância de lembrar das pessoas LGBTQIA "que já caíram pelo caminho". Para Tales, a luta por estas pessoas e por quem ainda não pode reivindicar seus direitos é motivo de orgulho, bem como a possibilidade de viver do jeito que deseja e sustentar sua família.

Eliz Nathanael de Oliveira Assunção Cesário, travesti, bissexual

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Eliz é travesti, bissexual e estuda letras na UFC. Atuando como professora, escritora e produtora intelectual, ela tem orgulho de não se sentir sozinha no Ceará e de ser fruto de travestis e de mulheres trans que lutaram e que lutam para que ela possa ter um vida digna, com acesso ao mercado de trabalho e ao ensino superior. Também se orgulha de ter sido criada pela mãe e pela irmã, que sempre a incentivaram a seguir os sonhos.

Mayara Natale de Araujo, intersexo, heterossexual

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Mayara Natale tem 34 anos, é uma pessoa intersexo, heterossexual e representa a Associação Brasileira de Intersexo (Abrai). Do que ela mais se orgulha é de ser mãe de uma menina de 7 anos que, por onde vai, "tem o prazer e a coragem de falar" que a mãe dela é intersexo. Ela acredita que ter uma filha assim é "um avanço e um ganho para a sociedade".

Jonas Aquino, homem cis gay

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Jonas Aquino tem 22 anos, é um homem cis gay e já escreveu um livro de ficção best-seller. Ele se orgulha de ter participado da Bienal do Livro do Ceará, onde falou para diversos jovens sobre a importância das literaturas queer e contemporânea. O jovem disse ter se sentido orgulhoso ao ver o brilho nos olhos de outros jovens que se identificaram com o que viram nas histórias, e também de poder falar sobre representatividade.

Beija Aragão, homem trans, pansexual

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Beija Aragão é homem trans, pansexual de 26 anos, que trabalha como videomaker, técnico em audiovisual e artista visual. O que mais o faz sentir orgulho em sua trajetória é "de poder criar várias histórias, vários mundos, a partir de corpos trans masculinos". Ele tem orgulho de, com o trabalho, "colocar o corpo no mundo e fazer as pessoas conhecerem novas possibilidades".

Dediane Souza, travesti

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Dediane Souza, 34 anos, é travesti, formada em jornalismo e com doutorando em antropologia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Ela se orgulha de ter contribuído na luta por direitos humanos da população LGBTQIAPN+ no Ceará, de ter fomentado o debate público sobre direitos humanos, principalmente das travestis e transexuais pretas que, segundo pontua, “ainda não acessaram, no contexto brasileiro, o patamar de humanidade”. Ativista tem orgulho de estar contribuindo para construir uma sociedade de respeito, “onde as identidades travestis e transexuais podem ocupar vários lugares”.

Yuri Gabriel Lopes Patrício Lima, homem trans bissexual

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Yuri Gabriel é um homem trans bissexual de 18 anos, tatuador, artista e atuante na área de design criativo. Ele se orgulha de ter passado pela transição, ter feito a mastectomia, retificado os documentos e ter se encontrado em um espaço onde pode ser homem de "uma forma muito plural". Ele também tem orgulho da família, que "desconstruiu muitos preconceitos" para acolhê-lo.

Eros Gabriel Oliveira, não binárie (agênero), bissexual

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Eros Gabriel tem 21 anos, estuda Design, é ilustradore e quadrinista. Jovem se orgulha das cicatrizes de mastectomia que têm, porque elas "simbolizam o quão longe chegou e mostram que continua resistindo e existindo sendo quem é de verdade". Além disso, artista se orgulha também de levar a "visibilidade que a comunidade precisa".

Rodrigo Ferreira, homem cis, pansexual, que trabalha com a arte drag queen

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Rodrigo Ferreira tem 30 anos, é um homem cis e pansexual. Ele é artista e tem como persona a “Mulher Barbada”, uma cantora e drag queen com forte atuação na cena musical de Fortaleza. Ele tem orgulho de ter chegado onde chegou e de trabalhar com a arte drag, que o permitiu ter visibilidade, alcançar projetos que almejou e mudar positivamente sua vida.

Lara Nicole Medeiros Mota, travesti, bissexual

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Lara Nicole Medeiros Mota, a Nik Hot, tem 27 anos, é travesti e bissexual. Ela é a primeira funkeira travesti do Ceará e fundadora da casa Transformar, de apoio e acolhimento. A artista sente orgulho de ter conseguido mudar os documentos e de "perante a lei ser vista como gênero feminino", conquista que considera fruto de uma luta de anos e de outras travestis que morreram em busca de direitos.

Maria Aurigele Barbosa Alves, mulher cis lésbica

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Maria Aurigele tem 35 anos, é uma mulher cis lésbica e trabalha como Diretora de Programas na Adel. Ela se orgulha de poder atuar na luta pela garantia de direitos e deveres e poder impulsionar o trabalho de empreendedorismo junto a população LGBTQIAPN+. Ela também tem orgulho de trabalhar na Adel e de poder usar esse espaço para contribuir na construção de oportunidades para a inclusão socioprodutiva de jovens e pessoas LGBTQIAPN+, fazendo do empreendedorismo “uma importante estratégia para a alteração das trajetórias de vida”.

Carolina Galvão, 22 anos, mulher cis lésbica

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Carolina Galvão tem 22 anos é uma mulher cis lésbica e estuda jornalismo. Ela tem orgulho de ter construído uma rede de afeto e de apoio onde se sente segura o suficiente e acolhida para expressar a sexualidade de forma livre, uma conquista essencial de ter permanecido fiel ao que sente e ao que deseja em termo de sexualidade e de expressão, nunca deixou de acreditar que o que sente é o correto e a forma como ama e que ninguém vai mudar isso.

Sammie Fernandes, trans não binárie, bissexual e pessoa intersexo

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Sammie Fernandes tem 23 anos, é trans não binárie, bissexual, intersexo, e trabalha como People Experience Assistant na Atlas Technologies. Jovem tem orgulho de ser quem é, de "ter sido a primeira pessoa a se assumir publicamente como intersexo" na cidade onde nasceu, em Pelotas (RS), e de lutar pelo direito das pessoas intersexo. Sente orgulho de quem se tornou e de ser uma pessoa "que faz os outros felizes".

Cauê Henrique, transmasculino e bissexual

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Cauê Henrique tem 24 anos, é transmasculino e bissexual. Ele é formado em jornalismo, atualmente trabalha como servidor público e é artista multilinguagem. O jovem sente orgulho do processo pelo qual passou, da caminhada que fez, de não ter parado de caminhar e de ter conseguido chegar onde está hoje.

Fernando Dias Vieira, homem trans e pansexual

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Fernando Dias, conhecido artisticamente como Fer Diaz, tem 19 anos e é um homem trans multiartista, que atua principalmente na área das Danças Urbanas juntamente com o @Daedancegroup e também é professor de hip-hop no ABC do Mondubim. O jovem diz ter orgulho do espaço que ocupou por “mérito e esforço próprio” e de ter superado e conseguido sair por cima de toda a violência e de todo o preconceito. Ele se orgulha ainda da trajetória como artista e de ter conseguido ter empatia com seu corpo e seu processo.

Andrezza Mendes Ribeiro, mulher cis pansexual

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Andrezza Mendes tem 27 anos, é uma mulher cis pansexual e trabalha como gastrônoma. Ela se orgulha de ter conquistado as pessoas que conquistou, de ter a rede de apoio que tem, da sua família e de sua namorada, a quem carinhosamente se refere como “meu amor”.

Calebe Rodrigues, trans não binário, bissexual

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Calebe Rodrigues tem 26 anos, é trans não binário, pessoa não binária e bissexual. Ele atua como assessor de comunicação e se orgulha de poder se expressar livremente em espaços que respeitam a sua existência e que valorizam a diversidade. Sendo um profissional respeitado no mercado, o jovem tem orgulho de ocupar o local que ocupa, mas deseja que outras pessoas trans e travestis "possam gozar de uma vida digna, com sabedoria e oportunidades iguais".

Joaquim Maria Gomes Ferreira, homem trans e pansexual

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Joaquim Maria Gomes Ferreira tem 29 anos, é Homem Trans e pansexual. Ele atua como professor e é artista multilinguagem. O jovem se orgulha de ter se tornado o que é, de ter consciência sobre isso e de ser feliz assim. Ele também sente orgulho de fazer da profissão um instrumento de transformação do mundo e do caminho que trilhou até agora para conseguir direito e qualidade de vida para as pessoas trans.

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