“Indivíduo que possui capacidade para idealizar”. Se você lê esse enunciado, é possível que imagine uma criança ou um adolescente. Por outro lado, se você olha para a palavra “negócios” é possível que imagine alguém com 40 ou 50 anos de idade.
Juntando os dois enunciados, contudo, chega-se à definição que os dicionários trazem para o conceito de empreendedor.
E, dentro desse universo, destacam-se os jovens com idade entre 18 e 34 anos, que já representam mais de 40% dos empreendedores iniciais (com empresas abertas a menos de 42 meses) no Brasil, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Pesquisa referente a negócios com até 42 meses
Neste processo, alguns estereótipos sobre empresários com menos de 35 anos estão sendo rompidos, tais como o de que esse público seria formado majoritariamente por pessoas que estão sucedendo seus familiares nos negócios.
Na verdade, apenas 12% se enquadram nesse perfil, menos da metade dos que simplesmente decidiram empreender, que são 25%, conforme pesquisa da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje).
Isso porque a familiaridade com as novas tecnologias tem ajudado a empurrar esse tipo de profissional para o empreendedorismo.
Também o alto nível de escolaridade chama a atenção entre os jovens empreendedores, uma vez que 70% deles têm ensino superior completo ou pós-graduação, também segundo a Conaje.
Esse dado representa uma mudança no perfil de jovens que, por necessidade, começava a empreender muito cedo e abandonava os estudos, histórico relativamente comum nas biografias de empresários que montaram seus negócios em meados do século passado.
Apesar do aumento da escolaridade, apenas 10% dos jovens empreendedores buscam suporte para abrir ou expandir suas empresas nas universidades ou incubadoras de negócio.
Neste sentido, o Sebrae aparece como principal rede de apoio para esse público, sendo apontado por 27% dos pesquisados. Para Alci Porto, o fato de a instituição trabalhar a educação voltada para o empreendedorismo desde o ensino fundamental explica essa procura.
Porto, que é diretor técnico do Sebrae-CE, lembra, contudo, que a participação crescente da juventude entre o total de pessoas que começa a empreender guarda relação também com as altas taxas de desemprego.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na faixa entre os 18 e os 24 anos esse percentual chega a 18%, mais que o triplo do registrado entre quem tem entre 40 e 59 anos.
Essa questão do empreendedorismo jovem passa por alguns fatores: o primeiro é realmente a mudança do patamar do emprego.
"As pessoas estão migrando para o empreendedorismo até por não ter emprego como se tinha anteriormente. Outro fator é que a sociedade descobriu, na inovação, formas de atender suas demandas com novas plataformas, dominadas pela juventude”, observa Porto.
“São profissões do presente e do futuro e isso ajuda nessa inserção, já que quem está nesse ambiente digital em geral é jovem. Então, você tem uma safra que está fazendo parte de um ambiente de relacionamento novo. As empresas tradicionais também estão procurando esses jovens como forma de solucionar gargalos”, complementa o diretor-técnico do Sebrae-CE.
Por sua vez, o coordenador-geral da Associação de Jovens Empresários (AJE) de Fortaleza, David Macedo, diz que o próprio conceito de juventude está se transformando.
A entidade, que praticamente dobrou o número de associados no pós-pandemia, revisou seu conceito de empreendedor jovem, que passou a incluir pessoas com até 38 anos de idade.
“A longevidade do ser humano vem aumentando a capacidade de empreender também”, ressalta Macedo. Nesse contexto, ele destaca entre os papéis da associação “ser um grande hub de informações para que esse jovem empreendedor possa se conectar com todos os campos, verificando as oportunidades que mais se encaixam no negócio dele”.
Nesse sentido, outra característica que marca a atual geração de jovens empreendedores é que eles têm apostado nos mais diferentes modelos de negócios, das startups às franquias.
Devido às dificuldades de captação de grandes recursos para iniciar um novo empreendimento e mesmo para idealizar um negócio original, um número expressivo de jovens tem apostado no mercado de franquias.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Tom Moreira Leite, aproximadamente 23% dos interessados em abrir a primeira franquia e que ainda estão investigando o mercado têm entre 18 e 34 anos.
"Na principal plataforma de informações sobre franchising, 21,4% das procuras são de jovens de 18 a 24 anos, o dobro do registrado antes da pandemia.”
Neste sentido, o diretor da Regional Nordeste da ABF, Fernando Ribeiro, ressalta que o mercado de franchising tem um cardápio imenso de oportunidades.
"Então, nesse momento em que o jovem quer empreender ele vai poder escolher vários segmentos, com suas respectivas variações de investimento inicial para virar um franqueado”.
Para o CEO da Frango no Pote e membro da Comissão “Next Generation” da Associação Brasileira de Franchising (ABF), Carlos Júnior, em linhas gerais, o jovem tem uma visão muito à frente do mercado e a gente acredita muito nesses franqueados.
"Na nossa rede, por exemplo, 40% dos empreendedores estão na faixa dos 25 aos 35 anos”.
Já o diretor da Anjos Colchões e Sofás, Leonardo dos Anjos, exalta a conexão dos jovens com as plataformas digitais e o quanto isso agrega aos negócios.
“Esses franqueados trazem algo muito bom e têm nos ensinado a trabalhar no marketing digital, nas redes sociais, e a maioria das vendas ocorre por esses meios”, cita.
Mesmo em segmentos com tradição de atrair empreendedores com mais de 35 anos, a procura por jovens tem aumentado, conforme a gestora de expansão da Maria Brasileira, Juliana Pitelli.
“De dois anos para cá está caindo essa média de idade e hoje já tenho franqueados com 23 anos”, exemplifica a executiva.
A CEO da Honest Market, Ana Paula Moraes, afirma que no caso das microfranquias, cujo investimento inicial não passa de R$ 135 mil, o apelo junto ao jovem é maior. “Teve um franqueado que disse: 'Eu posso investir num MBA ou comprar uma franquia e aprender na prática'. Isso marcou”, exaltou.
O gerente de unidades de negócio da Milon, Edilson Gomes, avalia que mesmo os jovens que ainda precisam de ajuda para investir em uma franquia buscam rapidamente conseguir autonomia. “Ele quer realmente a independência dos pais. Então, procura entender, estar informado e saber como faz”, diz.
Por fim, a gerente de expansão do Instituto Gourmet, Patrícia Rocha, argumenta que a questão da independência financeira está intrinsecamente aliada à realização profissional do jovem empreendedor.
“A gente tem uma margem de 30% de lucro médio. Isso faz os jovens entrarem de cabeça, mas junto a isso eles também querem ter a sua própria escola”, conclui.
A médica Joyce Duarte Caseiro e o economista Pedro Moraes tinham 27 anos quando descobriram que tinham duas empreitadas desafiadoras pela frente: um filho a caminho e o Alzheimer do avô dela.
Um ano depois, a difícil procura por uma instituição que pudesse acolher o idoso levou o casal a criar seu primeiro residencial sênior, no município de Jaguariúna (SP), em 2014.
“A Joyce estava recém-formada em medicina querendo ajudar a família, eu em economia, trabalhando numa multinacional e nós resolvemos fazer uma casa para cuidar do avô dela. Foi uma necessidade nossa, um problema da família, que ao resolvermos, acabamos percebendo que poderíamos resolver o problema de um monte de outras famílias”, lembra Pedro.
Após abrir a segunda unidade em Campinas, também no interior paulista, logo, o Terça da Serra se expandiu.
Em 2020, por exemplo, a marca chegou a Fortaleza (CE), onde tem três unidades. Hoje, a rede de residenciais para idosos planeja fechar o ano com cerca de 170 unidades franqueadas pelo País, além de três próprias.
“Esse ano, a gente já está apresentando crescimento de 70% de faturamento da rede, no comparativo com o ano passado e a gente está com um crescimento no número de unidades por volta de 40%. A nossa rede deve fechar o ano faturando próximo de R$ 110 milhões”, projeta Pedro.
Sobre os diferenciais do negócio, Joyce cita a versatilidade de opções tanto para o público-alvo do serviço quanto para os investidores. “Os idosos podem morar, passar o dia ou passar uma temporada. Nosso investimento inicial também varia de R$ 100 mil a R$ 800 mil”, afirma.
Campina Grande, na Paraíba, é conhecida pelos festejos juninos, mas também por ser um dos grandes centros universitários do País.
Em um ambiente de circulação de novas ideias e com paixão por comida japonesa, os sócios Amauri Sales e Bartolomeu Ferreira começaram um negócio de delivery de sushi e outras iguarias nipônicas com 27 e 28 anos, cada, em 2016.
“Hoje, eu sou um cara de 33 anos, com sete anos de mercado, mas o delivery veio começar a crescer de forma acelerada há cinco anos e desde então a gente tem construído uma história muito orgânica, com muito pé no chão, dando sempre um passo de cada vez e eu acho que isso acaba gerando credibilidade, apesar da idade que a gente tem”, pontua Amauri.
“Quando a Home Sushi Home nasceu, a gente tinha a pretensão de um dia se tornar uma rede franqueadora. Então, toda a estratégia foi pautada em crescer e poder levar esse modelo de negócio a todos lugares que ele possa absorver”, enfatiza o empresário.
O jovem empreendedor destaca o potencial do mercado cearense e porque decidiram investir em Fortaleza. “É uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes e um público muito quente. É a quarta maior capital do Brasil agora”, exalta.
“Então, o que fizemos? Começamos a estudar os mercados. Nossa primeira franquia foi em 2018 e, em 2020, fomos para Recife. A partir daí, os sócios de Recife decidiram investir em Fortaleza porque vislumbraram a oportunidade”, relembra.
Se o idealismo e o otimismo são mesmo marcas dos jovens, talvez isso ajude a explicar porque três amigos acreditaram que investindo R$ 5 mil cada conseguiriam criar em apenas cinco anos a maior rede franqueadora de açaiteria do País, com R$ 215 milhões de faturamento no ano passado e, pelo menos, 280 unidades.
“Eu tinha 24 anos quando tudo começou”, relembra Sérgio Kendy, um dos cofundadores da The Best Açaí.
Com início modesto e a expansão acelerada, a rede surgiu em Curitiba, no Paraná e, hoje, está espalhada por oito estados da região Centro-Sul, mirando o mercado nordestino para os próximos cinco anos.
“A gente vende tudo isso no sul, imagina no calor! A gente pensa no Nordeste, mas acho que não todas as regiões porque no Norte, principalmente no Pará, tem uma questão que é muito cultural e uma forma muito própria de consumir o açaí”, pondera Kendy.
A prevista construção de um centro de distribuição em São Paulo dos produtos da marca, no entanto, pode permitir voos mais altos para o grupo de jovens empreendedores.
“A gente tem frota própria de caminhões, fabrica todo nosso produto, incluindo vinte e quatro tipos de sorvetes, e essa estrutura de logística está a serviço do nosso franqueado”, pontua o empresário.
Além desse suporte logístico, Sérgio Kendy, destaca o retorno de investimento rápido que a franquia criada por ele com os dois sócios possibilita.
“A gente tem franqueado que com um ano tem quatro lojas. Outro que era servidor público, estava receoso de largar o emprego, mas agora está com seis unidades”, contou.
Quando se pensa em negócios do futuro, é quase impossível não pensar nas energias limpas, entre elas a solar fotovoltaica. Com o barateamento dos componentes dos painéis, não é nada incomum encontrá-los sobre os tetos de casas e estabelecimentos comerciais no Ceará e em todo o Brasil.
Com ideais de sustentabilidade, o jovem tem participado ativamente da expansão dessa indústria e não apenas como profissional da área, mas também como empreendedor. Esse é o caso da Ana Paula Ribeiro, que adquiriu uma franquia da EcoPower quando tinha 23 anos.
Hoje, com 28 anos, ela diz que, juntamente ao esposo, viu-se em um beco sem saída. "Foi em um momento que a gente teve que sair da nossa zona de conforto e enfrentar o novo. Então a gente pensou no que estava crescendo, que era esse ramo de energia solar”.
“Desde o momento que a gente entrou na Eco Power, os nossos resultados têm sido muito bons, muito satisfatórios. A gente está com quatro franquias já espalhadas pelo Mato Grosso e é uma das franquias que mais vendem no estado”, comemora.
As unidades que Ana Paula administra junto com o marido geram um faturamento mensal em torno de R$ 200 mil.
Claro que nós escolhemos “a Eco Power também pela questão da sustentabilidade que é o nosso futuro: a energia solar e a energia renovável”.