A proximidade das festas de fim de ano e o pagamento do 13º salário, aliados a variantes como juros, inflação e desemprego em queda formam uma soma de fatores que geram boas expectativas aos setores econômicos nesses últimos quatro meses do ano.
Para o setor de comércio e serviços, a expectativa é ampliar em até 7% os negócios em relação a 2022.
O nível de confiança do consumidor de Fortaleza está em alta.
Para o B-R-O-bró (conjunto de meses que compõem o último quadrimestre), o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) aumentou mais 1,3% entre setembro e outubro, no que foi o terceiro bimestre seguido de análises com aumento registrado.
O levantamento, realizado pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Ceará (IPDC), da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE), aponta ainda que os índices de situação presente (como o consumidor analisa sua situação financeira) e expectativas futuras subiram também.
Os consumidores de Fortaleza também consideram que sua situação financeira atual é melhor ou muito melhor (71,1%) do que há um ano.
Sobre as expectativas futuras, 86,1% dos entrevistados acreditam que sua situação será melhor ou muito melhor do que a atual.
Os dados ainda mostram que, em relação à pretensão de compra, o valor médio a ser gasto é de R$ 613,80 e os itens mais procurados são os artigos de vestuário (22,6%); geladeiras e refrigeradores (18,8%); além dos móveis a artigos de decoração (18,4%), televisores (18%), calçados (17,2%) e aparelhos celulares e smartphones (13,9%).
A visão otimista vai além dos consumidores e também está presente no varejo. De acordo com a última Sondagem Econômica dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), houve uma retomada da confiança no segmento.
O setor de serviços é quem puxa esse movimento (93,9 pontos), que se reverberou no Índice de Confiança das Micros e Pequenas Empresas e no Índice de Expectativas, que se recupera após queda de 44% no mês passado.
No indicador do comércio, o maior avanço no índice de expectativas, de 87,3 pontos para 91,4 pontos.
Cid Alves, vice-presidente da Fecomércio-CE, destaca que o ritmo das vendas em setembro foi morno, mas tem se aquecido com a chegada de outubro.
A expectativa é que esse movimento no comércio e nos serviços melhore até dezembro.
A atratividade dos preços deve ser um diferencial neste ano, tanto que a esperança é de avanço entre 5% e 7% nas vendas em relação ao ano passado.
“O avanço deve ser significativo, até porque o que estamos vendo é a redução da carga inflacionária. Alguma inflação que ainda existe é residual, sem muita relevância no contexto geral”.
Um ponto importante destacado por Cid Alves é que a maioria das mercadorias comercializadas no varejo já estava nos estoques do comércio. Isso significa que a demanda por novos produtos à indústria segue baixa.
Esse cenário explica o recuo da produção industrial cearense de 7% desde o início do ano.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado de janeiro a agosto em relação a igual período do ano passado revela retração de 13,1%.
Em agosto, a indústria de confecção de vestuário e acessórios teve a maior queda da indústria cearense, de 3,13%. A de couro e calçados (-0,56%) foi outra que apresentou diminuição no período.
Joaquim Rolim, secretário executivo da Indústria do Ceará, explica que o longo período de manutenção das altas taxas de juros no Brasil reduziu a capacidade da indústria de ampliar investimentos produtivos e acelerou a depreciação média do capital físico, afetando a produtividade do setor.
Por isso, continua Rolim, há um cenário em estabilidade em que há expectativas positivas para o setor, que pode ser impulsionado neste último trimestre a partir da demanda do varejo, citando segmentos como o de alimentos e bebidas, têxtil, vestuário e couro e calçados.
"O último trimestre é bem movimentado no segmento varejista e, para atender a demanda comercial do final do ano, as indústrias reduzem sua capacidade ociosa para aumentar a produção", avalia.
Lia Carvalho, gerente de Marketing do North Shopping Fortaleza - que faz parte da rede de shoppings Ancar, destaca que a programação promovida pela administração para atrair clientes vai além dos descontos dos lojistas.
Inclui sorteios, promoções e ações especiais, como a chegada do Papai Noel, na primeira semana de novembro, o início das ações da Black Friday e os festejos de Natal.
Expectativa é que, com isso, as vendas em dezembro quase dobrem no shopping. Novas operações iniciadas, como Noélia Doces e Salgados, Vivara, além de obras para instalação de Starbucks prometem atrair mais público.
"Quando olhamos para os resultados de anos anteriores, a expectativa é fecharmos no acumulado do ano crescendo a frente de 2019", destaca.
Os anúncios de promoção no Dia das Crianças estão disponíveis especialmente em lojas de brinquedos, mas, a maioria dos lojistas, prepara-se mesmo é para o período da Black Friday, em novembro.
De acordo com o vice-presidente da Fecomércio-CE, Cid Alves, o período pode ser comparável ao Natal, data que historicamente era o ponto alto do calendário do comércio no segundo semestre. E, em número de vendas, a Black Friday chega até a superar.
"Acontece que a Black Friday superou o Natal em termos de faturamento do comércio em geral. Esperamos avanço nas vendas em novembro", pontua.
O fortalecimento das vendas em novembro com as promoções da Black Friday - que em muitos casos já evoluiu para Black Week ou mesmo Black Month, se estendendo pelo mês inteiro - permitem ao consumidor antecipar as compras antes previstas para dezembro.
O economista Ricardo Coimbra entende que há um movimento positivo se formando entre os setores. O comércio e os serviços se movimentam de forma mais ágil.
Ricardo ainda lembra que o programa de renegociação de dívidas Desenrola deve auxiliar neste processo, fortalecendo o consumo das famílias a partir deste trimestre.
"O nível de estoque de mercadorias ainda está elevado em alguns segmentos. O ritmo pode melhorar com os efeitos do Desenrola, aliado à queda da taxa de desemprego, o que gera uma certa estabilidade ao processo", analisa.
Décio Lima, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), salienta que a melhora do cenário econômico tende a favorecer os pequenos negócios e há otimismo entre os empreendedores, apesar de um nível de cautela também.
"Existe um otimismo e ao mesmo tempo uma certa cautela por parte de quem empreende, já que a demanda por produtos e serviços ainda estão abaixo do desejado (na média nacional). No entanto, os sinais concretos de melhora da economia, como o crescimento do PIB, vão fazer com que o cenário se torne mais robusto e favorável nos curto e médio prazos".
A quantidade de vagas de trabalho abertas no Ceará no período relativo ao B-R-O-bró deste ano deve gerar aumento de 5% no número de postos formais em relação ao último quadrimestre de 2022.
Entre janeiro e agosto, mais de 37 mil empregos foram criados. Os dados foram informados pelo secretário do Trabalho do Estado, Wladyson Vianna, que espera que os setores de comércio e serviços liderem em empregabilidade.
No comércio, esse movimento já pode ser observado. Stenio Sherman Cacau, gerente da Sapataria Nova unidade North Shopping, destaca que o quadro de funcionários no atendimento ao público deve praticamente triplicar, saltando dos atuais 24 para algo entre 60 e 70 até dezembro.
Os anúncios das vagas abertas já estão sendo feitos, principalmente pelos canais digitais. Stenio conta que, além das vagas temporárias, as mudanças na legislação trabalhistas passaram a permitir contratos parciais, que são bastante demandados pelas empresas.
Assim, muitos funcionários trabalham em dias específicos de maior movimento. Em comum entre todos é o treinamento. "O que sempre dizemos é que o cliente não pode deixar a loja sem um bom atendimento. A intenção é fidelizar", diz Stenio.
Uma das novas contratações da loja é a vendedora Clesiane Marques, 35. Após sete meses desempregada, participou da seleção e hoje trabalha em regime de contrato parcial.
Sua meta neste período de vendas de fim de ano é concluir os objetivos de vendas e atendimento, agradar a chefia e ser contratada em definitivo.
"Hoje eu trabalho quatro dias por semana, mas para bater as metas também venho nos dias de folga porque é uma forma de receber mais e até de se destacar", enfatiza.
Outro modelo de contratação temporária são os estágios e aprendizagem. Nestes casos, o mercado cearense está aquecido, tendo previsão de vagas abertas para o último trimestre em crescimento, de 89% nos estágios e 73% na aprendizagem quando comparado ao igual período do ano passado. Os dados são do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
Erika Araújo, gerente regional do CIEE no Nordeste, ressalta que a contratação de estagiários oferece vantagens às empresas, por ser um tipo de contrato não empregatício.
"Esse tipo de contratação para alguns segmentos dá maior liberdade, sem contar que é uma mão de obra que está cursando o Ensino Superior, traz alguns conceitos novos e podem colaborar muito com o local onde vão estagiar", destaca.
Próxima data de celebração no calendário brasileiro e uma das mais importantes para o comércio, o Dia das Crianças marca uma mudança na tendência de consumo neste período pós-pandemia.
De acordo com estudo da Ecglobal, as lojas físicas têm preferência dos consumidores para escolha dos presentes.
De acordo com os dados, 53% dos consumidores apontaram as lojas físicas especializadas como opção primordial para escolha dos presentes.
O levantamento foi realizado com 301 pessoas que detalharam suas intenções de compra.
Dentre as marcas que estão na boca dos consumidores, destaque para Estrela, Lego e Mattel. Na lista, ainda estão incluídos nomes de varejistas como Ri Happy e Americanas.
Os consumidores ainda responderam sobre o que mais influencia na escolha do presente. E a maioria (52%) disse que os interesses e gostos das crianças presenteadas tem mais impacto, à frente das promoções e descontos (13%).
Adriana Rocha, fundadora e CEO Global da Ecglobal, destaca que a pesquisa revelou ainda que 35% dos consumidores têm a intenção de levar as crianças para escolherem seus próprios presentes, criando uma oportunidade adicional para os varejistas engajarem os pequenos e tornarem a experiência de compra mais interativa e personalizada.
"Essa é uma boa oportunidade para os comércios físicos oferecerem experiências memoráveis nas lojas, como áreas temáticas ou eventos interativos que encantem as crianças e suas famílias. Além disso, descontos progressivos e ofertas especiais podem atrair ainda mais clientes, uma vez que 70% dos entrevistados têm planos de presentear mais de uma criança", completa.