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Ceará completa 110 anos em momento desafiador e busca retorno à elite nacional
Reportagem Especial

Ceará completa 110 anos em momento desafiador e busca retorno à elite nacional

Após anos de presença na Série A e disputa de competição internacional, Alvinegro está na Segunda Divisão nacional e busca resolver problemas extracampo para viver dias melhores

Ceará completa 110 anos em momento desafiador e busca retorno à elite nacional

Após anos de presença na Série A e disputa de competição internacional, Alvinegro está na Segunda Divisão nacional e busca resolver problemas extracampo para viver dias melhores
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O hino do Ceará tem um trecho que diz “teu passado é todo coberto de glórias”. É justamente nisso que o torcedor se apega à espera de dias melhores. Neste domingo, 2 de junho, o Alvinegro de Porangabuçu chega aos 110 anos de história em meio a um momento desafiador dentro e fora de campo, com foco total na busca pelo retorno à elite nacional.

O momento atual nem de longe representa o passado — não tão distante — glorioso: presença na Série B do Campeonato Brasileiro, crise política e financeira, ações na Justiça. O cenário contrasta com os 46 títulos estaduais, as três Copas do Nordeste, uma Taça Norte-Nordeste, uma final de Copa do Brasil e outras tantas campanhas relevantes em competições de nível nacional e internacional dão um conforto à torcida do Vovô.

Galeria de camisas do Vozão(Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Galeria de camisas do Vozão

"Os títulos são importantes, mas o que motiva é a possibilidade de ajudar o clube ainda mais. O trabalho é árduo, mas estou aqui para isso. O Ceará é uma instituição gigante, com pessoas sérias e que trabalham diariamente para manter as coisas em ordem e evoluindo. Isso é o que me estimula a todo dia querer o melhor para o clube", afirmou ao O POVO o presidente João Paulo Silva, à frente do clube desde março de 2023.

Antes da versão presidente, claro, existiu o lado torcedor. Aliás, ainda existe. Em 40 anos de vida, quase todos com ligação com o Ceará, João Paulo relembrou um momento único em sua vida nas arquibancadas: a final do Campeonato Cearense de 2006.

Naquele ano, o Alvinegro não vivia uma boa fase e via o rival Fortaleza, na Série A, prestes a se consagrar tetracampeão — o que seria inédito para o Tricolor à época. Para piorar, na primeira parte do Estadual, o Vovô havia sido goleado por 6 a 3 e 4 a 0.

João Paulo Silva, presidente do Ceará(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES João Paulo Silva, presidente do Ceará

“O título do Campeonato Cearense de 2006 marcou, não só a mim, mas toda uma geração de torcedores. Aquele contexto em que estávamos em uma situação inferior ao Fortaleza, ter perdido as partidas da fase classificatória e depois vencer as duas finais; foi um momento único para mim na arquibancada”, recordou o dirigente.

Recentemente, durante a apresentação do novo patrocinador master — o maior da história do clube —, João Paulo Silva foi enfático ao descartar reeleição: "No final do ano saio”. A partir daí, o dirigente sairá e ficará apenas o torcedor, com desejos para os próximos anos do Ceará.

“Se voltarmos no tempo, em 2014, o Ceará chegava ao seu centenário já projetando um avanço importante, que foi se concretizando nos anos seguintes. O que fazemos hoje é sempre pensando na frente. Em dez anos, a gente pensa em um Ceará ainda mais forte do que é hoje e que era em 2014. Um Ceará solidificado nas principais competições nacionais e buscando coisas grandes nos campeonatos continentais. Continuar avançando é a nossa meta diária, e isso vem se comprovando com as conquistas e parcerias que estamos trazendo para cá", concluiu.

 

 

Num café da Praça do Ferreira começou a história do Ceará Sporting Club

Em 2 de junho de 1914, dois jovens, Luis Esteves e Pedro Freire, saíram de casa despretensiosamente, apenas para tomar um café na Praça do Ferreira. O que ambos não sabiam é que aquela tarde no Café Art Noveau mudaria para sempre a história do futebol cearense, já que foi ali que surgiu o Ceará Sporting Club.

A ideia de fundar o Alvinegro surgiu enquanto os dois, caminhando pelo centro de Fortaleza, começaram a chutar uma pedra. O assunto virou futebol. Não tão potente como um de Gildo, mas aquele havia sido um dos chutes mais importantes do clube, que começou sua trajetória com o nome de Rio Branco Foot-ball Club.

Jogadores do Ceará comemoram título do Campeonato Cearense de 2024(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Jogadores do Ceará comemoram título do Campeonato Cearense de 2024

Logo Luis e Pedro se reuniram com mais 24 pessoas. Nesse encontro ficou decidido que Gilberto Gurgel seria presidente do Rio Branco. Com cores roxas, por inspiração na Fiorentina, da Itália. Demorou apenas um ano para que o nome Ceará e as cores preta e branca fossem adotados.

O primeiro título não demoraria muito. Aliás, os cincos. Entre os anos de 1915 e 1919, o escrete preto-e-branco conquistou a Liga Metropolitana — anos depois viria ser reconhecida como Campeonato Cearense pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol do Ceará (TJDF-CE).

Naquele momento, o Vovô já nascia trazendo um marco histórico para o esporte local: único pentacampeão do estado. Tanto é que demorou 104 anos para que outro clube — no caso, o rival, Fortaleza — conseguisse tal façanha.

Jogadores do Ceará comemoram tricampeonato da Copa do Nordeste(Foto: Rafael Ribeiro / CBF)
Foto: Rafael Ribeiro / CBF Jogadores do Ceará comemoram tricampeonato da Copa do Nordeste

O apelido, por sinal, veio justamente por ser a agremiação mais antiga do estado. Aníbal Câmara Bonfim, presidente do América Futebol Club, contou, certa vez, que por volta de 1920, o elenco americano usava o campo do Ceará para treinar. O mandatário alvinegro à época, Meton de Alencar Pinto, chamava os jogadores de "netinhos", além de se autointitular de "Vovô".

É justamente nesse passado vitorioso que o Ceará se apega para vencer os desafios do presente e os futuros. A equipe não vive seus melhores dias e nem está onde o torcedor alvinegro almeja.

No entanto, conquistas como da Copa do Nordeste de 2023, vencida diante do Sport, em plena Ilha do Retiro, e a da Campeonato Cearense de 2024, que evitou um hexacampeonato inédito do Leão do Pici, dão esperança de dias melhores.

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Uma história marcada por ídolos no passado...

Gildo, Zé Eduardo, Tiquinho, Alexandre Nepomuceno, Petróleo, Chico, Lula Pereira, Dimas Filgueiras, Adilson, Hélio Show, Sérgio Alves e Mota... Estes são alguns dos inúmeros ídolos que o Ceará tem em toda sua história. Em comum? A paixão alvinegra.

Sérgio Alves, ou melhor, o Carrasco, costuma ser lembrado até hoje nos estádios. É difícil encontrar um torcedor que nunca entoou, seja no Presidente Vargas ou Castelão, o famoso “Olé, olé, olé, olé, Sérgio Alves". A idolatria não é para menos. Afinal, são 141 gols, quatro títulos do Campeonato Cearense, uma final de Copa do Brasil, em 1994, e o acesso à Série A em 2009. Mas não dá para negar: os 21 tentos em clássicos ficaram marcados.

Dentre as vezes nas quais balançou as redes do Tricolor do Pici, um jogo, em 2001, até hoje é lembrado com carinho. O Vovô vinha de uma sequência de 16 partidas sem triunfos sob o arquirrival. Eis que chega o dia 9 de setembro. E foi o camisa 11, de pênalti, que decidiu.

Sergio Alves, ex-jogador do Ceara Sporting Club, ídolo da torcida(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Sergio Alves, ex-jogador do Ceara Sporting Club, ídolo da torcida

“Na nossa época não tinha negócio de muita conversa com dirigentes. A gente sabia que era mais um clássico. Eu tinha acabado de voltar para o Ceará não fazia muito tempo, e nós sabíamos que era mais um clássico. Um clássico que o Ceará há três anos não vencia e poderia chegar ao 17º jogo. Eu encarei como mais um clássico. Entrei determinado e me preparei durante a semana para mudar a escrita”, disse o ex-jogador às Paginas Azuis do O POVO, no dia 13 de novembro de 2023.

Sérgio fez a camisa 11 virar mística dentro do Ceará. Tanto é que os jogadores que a assumem já são alertados do peso. Isso representa, sobretudo, o carinho e admiração que o ex-atacante criou.

E são muitas as provas de que é recíproco. Desde se recusar a escutar proposta do Fortaleza, até mesmo em um ano em que acabou sendo pouco utilizado e teve conflito com o treinador (2000), a entrar no intervalo e fazer um gol essencial diante do Brasilense, em 2009, para o time conseguir retornar à Série A.

 

 

 

….e ídolos no presente

Mas uma história tão rica não deixaria de ter ídolos recentes. E, em quase todas as passagens do clube, um goleiro acaba se destacando. De 2019 para cá, o Vovô teve inúmeros nomes da posição. Mas nenhum tão emblemático como o Richard.

Por si só, a sua chegada já chamou atenção. Contratado junto ao Paraná, chegou com a missão de substituir Éverson, atualmente no Atlético-MG. Em poucos meses de casa, porém, veio a frustração: uma lesão acabou o tirando do restante da temporada.

Depois de outras ida e voltas no departamento médico, chegou à eternidade alvinegra, especialmente nas últimas duas conquistas do Vovô, nas quais foi fundamental nas cobranças de pênalti — no Nordestão e no Cearense.

Goleiro Richard, destaque do Ceará em 2024(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Goleiro Richard, destaque do Ceará em 2024

“Ser campeão com o Ceará é único. Era um ano muito difícil (2023) depois do rebaixamento, tinham muitos jogadores novos, que não conheciam muito o que era o clube. E nós não tínhamos esse tempo. Eu conheço porque hoje o Ceará é minha vida. As conquistas nós conseguimos fazer com que os atletas sintam a grandeza e o tamanho do clube”, declarou o camisa 1. “Fico feliz de ter ajudado a conquistar a Copa do Nordeste daquele ano. Fiquei feliz de fazer parte e passar direto por mim. Não foi um jogo fácil.”, finalizou.

Richard foi do “inferno à glória” em Porangabuçu. No entanto, falta ainda a cereja do bolo: o retorno à Série A. Em 2023, uma campanha aquém do esperado adiou o sonho. Neste ano, o goleiro acredita que as coisas serão diferentes.

“É difícil falar o que faltou (para subir). Não sei falar que poderíamos ter feito diferente para dar certo. Esse ano espero que seja diferente, que possamos ter decisões mais assertivas, dentro ou fora de campo. E que o Ceará possa estar junto, se unir. É um clube só”, disse.

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