Geração Z. O que fazem? O que comem? Como vivem? Como gastam? Não são poucas as matérias, os vídeos, os livros que tentam explicar os comportamentos dessa geração marcada pela digitalização. Os primeiros nativos digitais viraram objeto de estudo pelo mundo inteiro.
No universo financeiro não seria diferente. Economistas tentam descobrir o que os motiva a investir. Grandes indústrias tentam descobrir o que os motiva a gastar. Já os jovens tentam descobrir como viver com saúde mental em um mundo em colapso.
Assim como tudo em toda ciência, entender o comportamento de um grupo é uma questão complexa. Embora compartilhem algumas características, em muitos outros recortes e realidades, os membros desse grupo podem ser totalmente distintos.
O termo Geração Z surgiu nos Estados Unidos por volta de 1990 e início dos anos 2000. Passou a ganhar popularidade quando empresas especializadas em pesquisas de mercado começaram a usar a expressão para descrever jovens que cresceram com acesso à internet, redes sociais e tecnologias móveis.
Conforme o Oxford Learner’s Dictionaires, Gen Z significa: “a geração nascida no final dos anos 1990 ou no início do século XXI, percebida como familiarizada com o uso de tecnologia digital, internet e redes sociais desde muito jovem”.
Quando analisamos a definição com os recortes de um país desigual, feito o Brasil, é preciso compreender que o acesso à internet passa a alcançar mais de 50% da população urbana somente a partir de 2014, e rural em 2019, segundo dados do Modulo de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicilio de 2023.
População brasileira com acesso à internet por porcentagem
A Geração Z brasileira, assim como a estadunidense, tem suas particularidades. Quando tratamos do comportamento deles no universo financeiro, o contexto social pode pesar mais que comportamentos coletivos, explica o economista e professor da Universidde Federal do Ceará, Érico Veras.
Isso não significa, por exemplo, que não existem padrões na relação que a Geração Z tem com dinheiro, e na relação das instituições financeiras com a Geração Z. Só reafirma o cuidado para não isolar situações em um universo complexo como o da economia.
O surgimento do Pix mudou o comportamento financeiro da população. Dados do Banco Central mostram que o montante em cédulas e moedas em circulação caiu de R$ 370,4 bilhões em 2020 para R$ 341,6 bilhões em 2023. Uma queda de 7,7%, reflexo do surgimento de novas tecnologias financeiras de pagamento.
A Geração Z lidera a mudança. Familiarizada com os meios digitais, ela não custou e adotar Pix e cartões de crédito regularmente na rotina financeira. Uma pesquisa guiada pelo Instituto Ipsos, mostra que 14% dos jovens entre 18 e 25 anos nunca fizeram um saque em caixa eletrônico, e 7% nunca visitaram uma agência bancaria.
“Todas às vezes que precisei abrir uma conta em um banco tradicional foi de forma involuntária, para receber uma bolsa da faculdade, para receber um salário, nunca por vontade própria”. Assim, Felipe Amaral, 26, descreve o início de suas relações financeiras com grandes bancos.
Felipe é professor de biologia em uma pequena escola particular e ganha um pouco mais de um salário mínimo, já que não tem a carga horária completa. Relata que a primeira vez que precisou abrir uma conta bancaria foi quando estava na faculdade, para receber uma bolsa de incentivo acadêmico.
“Fui até a agência, abri a conta, mas logo em seguida abri uma (conta) em um bando digital. Só usava a do banco tradicional mesmo para receber, assim que caia lá eu transferia para o digital”, completa.
Ele conta que foi na mesma época que teve seu primeiro contato com um cartão de crédito, fornecido pelo banco digital. Felipe relata que nunca deixa de se surpreender com os limites de crédito oferecidos, sempre muitos maiores que sua renda. “O limite do meu cartão chega a ser quase seis vezes maior que meu salário”.
Por essa razão a atenção com as finanças é redobrada. Para não acabar caindo na tentação de parcelar coisas de mais.
"Às vezes tem algo ali que você quer comprar e só que o dinheiro não dá, mas aí o cartão tem aquele limitezão. Você acaba ficando naquela de ‘se eu fizer um esforcinho, dá para encaixar’". E, às vezes, é nesse “da par encaixar” que muita gente acaba perdendo o controle dos gastros e se endividando.
“O crédito no Brasil, lá atrás, era bastante restrito. Só para gente ter uma ideia, quem tinha cartão de crédito? Quem tinha dinheiro. Hoje mais da metade dos brasileiros tem cartão de crédito. Você abre uma conta numa fintech qual for e ganha um cartão de crédito”, explica Érico Veras.
O professor pontua que falar de acesso a crédito é complexo, principalmente entre jovens. “Temos que pegar extratos sociais separado. Se você for universitário, por exemplo, os bancos te oferecem cartão de crédito com a maior facilidade”.
O economista exemplifica que quando tratamos da juventude universitária precisamos considerar outros fatores que os bancos também consideram na hora de oferecer crédito. Um exemplo do que pode influenciar a liberação de crédito para jovens são seus financiadores soberanos.
“A maioria dos estudantes com condições de frequentar a universidade, unicamente a faculdade, vêm de famílias com condição (financeira) um pouquinho melhor. E aí o banco dá crédito para eles, porque se eles não pagarem a conta, provavelmente os pais vão ajudar. Então isso é o que chamamos de ter um financiador soberano”, detalha.
Existe, na lógica dos bancos, uma confiança de que a família não permitirá que o jovem fique inadimplente. Realidade que muda, por exemplo, nos casos em que o jovem trabalha e ajuda a sustentar a família. Nesses casos, Érico explica que questões familiares podem levar ao endividamento.
O professor explica que atualmente a juventude sofre principalmente por não conhecer os produtos financeiros. “Tem muita gente que confunde. Cartão de crédito é meio de pagamento. Não é dinheiro, não é renda”. Aí a gente escuta: ‘eu pago muito cartão de crédito’. Não, você não paga muito cartão de crédito, você gasta muito e isso vem no cartão de crédito".
Não é difícil encontrar nas redes sociais, como o TikTok, vídeos em tom humorísticos de pessoas relatando os seus relacionamentos, quase tóxicos, com cartões de crédito.
Para Érico, esse comportamento pode ser resultado de uma série de fatores. Não se trata somente de uma falta de educação financeira, para entender os hábitos de consumo de alguém, precisamos entender também o significado do dinheiro na vida dela.
Eduarda Araújo, 21, e Amanda Nara, 20, são estudantes de Agronomia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e consideram que o hábito de consumo dos jovens está relacionado com a impulsividade motivada por emoções.
“A nossa sociedade, com certeza influencia você a ser consumista, até sem você querer. É algo quase inconsciente. A gente tá num ambiente até um tanto ameaçador e hostil nesse sentido de gastar e consumir, que pode afetar até sua saúde mental”, comenta Eduarda.
Um estudo sobre os hábitos de consumo da Geração Z, publicado pela Universidade Potiguar, do Rio Grande do Norte, pelas administradoras Simone Beatriz e Lurdes Marlene, aponta que, embora valorizem qualidade e preço, a busca por autoafirmação e status social influencia as decisões de compra dos jovens, especialmente em moda e cosméticos.
“Nossa relação com dinheiro é pura emoção”, explica Érico Veras. Se compramos algo de marca, queremos que vejam. Se estamos tristes, compramos para nos sentirmos melhor. Quem nunca ouviu falar da shoppingterapia?
Entre os principais gastos apontados por Eduarda e Amanda, estavam: alimentação, trasporte, livros, cosméticos e academia. Elas também comentaram sentir ser muito mais fácil consumir por meio da internet e já fizeram compras impulsivas após “um dia ruim”.
São essas compras mais emocionais, que deixam alguns jovens felizes por adquirir e depois tristes, por sentirem estar gastando de mais. As incertezas com o futuro, os preços altos de bens maiores e os efeitos climáticos que tornam o futuro ainda mais incerto, deixam a relação da Geração Z com o dinheiro ainda mais delicada.
Principalmente quando atividade simples, como sair com os amigos e ir a uma festa, podem representar um gasto significante para quem ganha pouco. O direito ao lazer esbarra na esperança de conseguir juntar uma poupança para o futuro.
Catherine Prato, 27, trabalha como educadora ambiental e aponta que, no mês, seus principais gastos são com compras de mercado e saídas com amigos para restaurantes e cafés. Um momento de lazer que considera precioso e indispensável.
Um relatório divulgado pela Night Time Industries Association (e conduzido por uma consultora inglesa, a Obsurvant), apontou que 68% dos jovens ingleses afirmam que a condição econômica é um dos fatores que mais influência a participação, ou não, em atividades noturnas.
Realizado com jovens entre 18 e 30 anos do Reino Unido, o estudo também reflete uma realidade imposta aos jovens brasileiros. A falta de dinheiro e a insegurança são fatores que podem impedir os jovens de socializar.
Um impasse injusto para quem está na flor da idade e precisa escolher entre deixar de sair, encontrar com amigos, viver um momento especial, ou poupar. O equilíbrio entre todas as esferas da vida econômica de um jovem é possível?
O economista Érico Veras explica que sim. “Quando se trata de poupar dinheiro, ter objetivos concretos é fundamental. A falta de um objetivo claro pode levar a pessoa a priorizar o presente em vez de guardar dinheiro para o futuro”.
O alto custo dos produtos e serviços pode dificultar uma vida equilibrada entra gastos e poupança, mas é preciso ter perseverança. Tarefa ainda mais complicada para os jovens que a cada dia envelhecem com a perspectiva de que não conseguirão conquistar a casa própria, um carro ou simplesmente uma vida estável.
“Atualmente tenho dois planejamentos, um é para uma viagem para fora do país e outro para me mudar de casa com a minha irmã”, conta Catherine. Para seus planos ela junta mensalmente um dinheiro e busca anotar todos os gastos em uma planilha.
A jovem relata que foi ensinada a poupar seu dinheiro desde a infância. Talvez por isso sinta que tem uma relação responsável com o dinheiro. Fator que não a impediu de ficar desanimada com as perspectivas econômicas do futuro.
“A minha angústia é pensar que estou juntando esse recurso para me mudar e mesmo assim as coisas darem errado. Tento trabalhar a cabeça e pensar na minha rede de apoio, mas imagine aqueles que não têm (rede de apoio). Imagina viver com medo das coisas darem errado e não ter um lugar para voltar?”
Não é incomum ver na internet artigos com títulos pretensiosos alegando que a Geração Z não quer ter bens como casas e carros. Muitas vezes, análises desonestas com as condições do mundo que estão deixando aos jovens. Não é questão de não querer, mas de não conseguir.
>>Entrevista Nath Finanças
Nathália Rodrigues de Oliveira, 26, mais conhecida como Nath Finanças, é referência na educação financeira no Brasil. Formada em Ciências Econômicas e pós-graduada em Gestão Financeira, ela se tornou uma das principais vozes do país quando o assunto é ensinar sobre dinheiro de forma prática e acessível, especialmente para pessoas de baixa renda.
Nascida e criada na periferia de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, Nath sabia desde cedo que a realidade econômica do seu entorno muitas vezes desestimulava as pessoas a se interessarem por finanças. No entanto, ela encontrou no conhecimento financeiro uma forma de mudar sua própria vida e, com isso, passou a inspirar milhares de brasileiros.
Em 2019, ela decidiu compartilhar seu conhecimento na internet. Conquistou um grande público e tornou-se reconhecida por sua abordagem simples e didática. Além de seu trabalho nas redes sociais, Nath é empresária, liderando uma equipe de 24 funcionários, e mantém uma coluna na revista Extra.
Ela também é autora de dois livros: Orçamento sem falhas e O plano perfeito, escrito em parceria com o escritor Ziraldo, voltado para a educação financeira infantil.
Com sua trajetória, Nath se tornou não apenas uma influenciadora, mas uma verdadeira defensora de uma educação financeira mais inclusiva, mostrando que entender de dinheiro pode transformar vidas.
OP+ — Esta entrevista parte de um ponto, talvez um senso comum, de que a juventude está mais desesperançosa em relação ao futuro financeiro. Ela não junta, não tem interesse em investir, porque julga ser impossível conquistar bens como casa e carro. Então, por que juntar para algo incerto, que talvez nunca chegue? Você, como alguém que observa o mercado, a economia e o público mais jovem de perto, qual é a sua visão sobre isso?
Nath Finanças — Eu percebo uma diferença significativa entre a Geração Z da década de 1990 e a Geração Z da década de 2010. Essas gerações têm visões completamente diferentes em relação ao dinheiro. Quando falamos de finanças e educação financeira, para quem viveu na década de 90 e está chegando aos 30 anos, o cenário é bem distinto.
Essa geração vivenciou um avanço tecnológico muito rápido, mas, ao mesmo tempo, sofreu com dificuldades financeiras e até com um certo trauma financeiro, sem nem sombra de uma educação financeira. Falar de educação financeira para nós, que enfrentamos essas dificuldades, muitas vezes causadas pela falta de estabilidade dos pais, se tornou uma questão delicada.
"Estamos muito mais exigentes e questionadores, preocupando-nos com a nossa saúde, bem-estar e, consequentemente, com a saúde financeira"
Agora, quando falamos sobre a Geração Z de 2010, vemos que ela está começando a se preocupar com questões como a compra de uma casa própria ou a falta de estabilidade no emprego. Nós passamos por um período de grande instabilidade, e isso afeta nossa relação com o dinheiro.
Já a Geração Z mais jovem, que nasceu depois de 2000, está chegando à fase adulta com muito mais acesso à informação e à educação financeira. No entanto, paradoxalmente, essa geração prefere não conversar sobre dinheiro ou normalizar essa discussão, apesar de ter mais acesso a ferramentas que podem ajudar nesse aspecto.
São pessoas com perspectivas totalmente diferentes. Inclusive, nossa geração, aos 30 anos, não aceita certos tipos de emprego que nossos pais aceitariam, como trabalhar por salários baixos e em condições de trabalho precárias. Estamos muito mais exigentes e questionadores, preocupando-nos com a nossa saúde, bem-estar e, consequentemente, com a saúde financeira.
OP+ — Por que a gente não gosta de falar sobre dinheiro? Existe alguma motivação por trás desse desconforto em falar sobre o tema?
Nath Finanças — Acho que o desconforto em falar sobre dinheiro está muito relacionado à escassez e à dor que vivemos. Muitas pessoas da nossa geração viram seus pais passando dificuldades financeiras ou não podendo comprar coisas para a gente. Pelo menos na minha experiência, quando minha mãe comprava presunto e queijo, era um luxo.
Era algo como: 'Meu Deus, estou comendo queijo e presunto!' Ou um Danone, que só podia ser comprado no começo do mês, porque no final não havia mais dinheiro para isso. Passamos por um momento de falta real, em que não conseguíamos nos organizar financeiramente. Não era por falta de vontade, mas porque, na maioria das vezes, simplesmente não tínhamos acesso.
Na primeira oportunidade de ter dinheiro, mesmo que pouco, muitas vezes queríamos gastar com coisas que nunca pudemos ter, como sair para o McDonald's, comprar uma roupa ou um tênis. E acabávamos nos endividando. Eu, por exemplo, quando fiz 18 anos, tentei fazer o meu primeiro cartão de crédito da Marisa, e acredito que não fui a única. Muitos de nós já fizemos isso, ou até emprestamos o nome para os pais, para comprar itens básicos para casa.
Essa geração passou por uma transição financeira muito difícil. Tenho certeza de que a geração de 2000 a 2010 em diante não enfrentará as mesmas dificuldades, o medo de falar sobre dinheiro e o trauma financeiro que enfrentamos. Por isso, vejo que nossa relação com o dinheiro é completamente diferente da de gerações anteriores.
OP+ — Você sente que essa geração tem vergonha de se envidar? como se sujar o nome fosse o maior pecado que ela poderia estar cometendo no início da vida adulta?
Nath Finanças — Com certeza. Não é que nossos pais não se sentissem mal, mas, naquela época, não havia alternativa. Eles 'sujavam' o nome para comprar uma geladeira, um fogão, coisas básicas. Ou compravam e ficava com o nome sujo, ou não comprava.
Ninguém vai para a cadeia por sujar o nome, mas, para a gente, só ouvir falar em SPC já gera um medo, um calafrio. O medo de ficar com o nome sujo é muito real, porque os juros são tão exorbitantes que você não consegue pagar a dívida, ela se torna impagável.
Eu gostaria muito que nossa geração não se sentisse tão culpada. Claro, devemos honrar nossas obrigações financeiras e pagar as contas, mas não podemos nos culpar por não conseguir pagar, pois os juros são abusivos, chegam a ser escandalosos. A dívida se torna impagável, não porque não queremos pagar, mas porque realmente é impossível.
"Essa geração passou por uma transição financeira muito difícil. Tenho certeza de que a geração de 2000 a 2010 em diante não enfrentará as mesmas dificuldades, o medo de falar sobre dinheiro e o trauma financeiro que enfrentamos"
Quando decidi falar sobre educação financeira e sobre dívidas, foi com a intenção de mostrar que, sim, estamos em uma situação difícil, mas não podemos simplesmente ignorar as dívidas. Às vezes, quando você deixa de pagar um mês de fatura, ela já se duplica e, meses depois, vira um valor impagável. Como é possível uma dívida que começa pequena virar 1 milhão? Isso é um absurdo. Não podemos normalizar esse tipo de situação.
Então, trazer a comunicação sobre educação financeira, de como lidar com dívidas e negociar essas dívidas, é fundamental. A educação financeira está começando a ser implementada agora nas escolas, algo que nunca aconteceu antes. O impacto disso, no entanto, só veremos nas gerações futuras, não na nossa.
Falando sobre o cartão de crédito, é o clássico. Quem nunca 'sujou' o cartão de crédito aos 18 anos? Seja porque emprestou para alguém, para seus pais, ou porque acabou se endividando por causa do limite alto que nos oferecem. Acreditamos que o limite é parte do nosso salário e acabamos nos enrolando. Isso vira uma bola de neve, porque não tivemos acesso à educação financeira para entender como usar o cartão de crédito de maneira inteligente e a nosso favor.
OP+ — Você entra no cenário da internet como uma pessoa que traz a questão da educação financeira e da nossa relação com o dinheiro de uma forma acessível. O que acaba atraindo muito o público mais jovem. Antes de começar a sua trajetória na internet, você sentia falta desse tipo de linguagem nas redes?
Nath Finanças — Eu senti que, em 2018, quando comecei a pesquisar, já existiam pessoas falando sobre educação financeira. Essas pessoas já estavam há uns 4 anos nesse campo. No entanto, quem falava sobre educação financeira eram pessoas que nunca saíram do ponto de partida de ser pobre, de baixa renda, de passar dificuldades, como pegar trem ou metrô. Essas pessoas tiveram acessos e sabem da importância de falar sobre finanças, mas elas falam com um recorte de classe que não reflete a realidade da maioria.
Por exemplo, falar para alguém que vive pagando aluguel, enquanto você ganhou uma casa e um carro dos seus pais, é uma realidade completamente diferente, porque você já tem segurança. E quando a gente não tem segurança, como faz? Quando não temos essa base, como lidamos com as finanças?
Então, para a nossa realidade financeira — para quem é pobre, de baixa renda, estudante, bolsista ou trabalhador assalariado — a situação é completamente diferente. Precisamos de um recorte totalmente distinto. Porque, caso contrário, estaremos sendo injustos, tanto com as pessoas quanto com a informação que estamos trazendo.
"... pessoas que antes falavam de educação financeira para um público mais rico começaram a mudar o discurso. E eu não fico triste com essa mudança, pelo contrário, fico feliz, pois elas estão reconhecendo que a realidade delas não é a da maioria"
Quando vejo que a educação financeira é dita como sendo para todos, é preciso ter calma. Existe um nicho específico. Você não pode dizer que sua educação financeira é para todos se, na verdade, ela é voltada para um recorte de classe. Ela, assim, atende apenas uma pequena parcela da população, algo em torno de 3%.
Foi por isso que decidi criar a Finanças e a NAT Play, com o objetivo de trazer esse conhecimento para um nicho maior, mais próximo da realidade da maioria das pessoas.
Eu vejo que, ao longo dos anos, até mesmo as pessoas que antes falavam de educação financeira para um público mais rico começaram a mudar o discurso. E eu não fico triste com essa mudança, pelo contrário, fico feliz, pois elas estão reconhecendo que a realidade delas não é a da maioria e estão começando a trazer o conteúdo de forma mais acessível e próxima da realidade e esse é o caminho."