Não há dor de amor que o brega não cante — nem coração partido que não encontre consolo em seus refrões. No começo, para muitos, era só dor de cotovelo. Amores, traições, saudades e promessas embaladas por vozes dramáticas, arranjos e letras para os quais alguns torciam o nariz para ouvir. Mas o brega voltou a tocar onde sempre teve morada: no coração.
Em Fortaleza, o gênero que por décadas foi visto como “cafona” se reinventa em festas lotadas, setlists dançantes e um novo público que, longe de esconder o gosto, canta cada refrão como se fosse a última declaração de amor.
Para a estudante Núbia, 26, batizada pelos pais em homenagem à cantora Núbia Lafayette, só o brega consegue exprimir sentimentos em volume máximo.
Acompanhada dos amigos na já tradicional quarta-feira brega do Boteco Cultural da Ângela, no bairro José Bonifácio, a jovem se mostra contente ao perceber que a cena fortalezense tem abraçado esse gênero em eventos e programações.
“Eu fui criada ouvindo brega por tabela, porque meu avô gostava muito. Minha avó detestava, reclamava, mas ele nunca deixou de ouvir. Quando dei por mim, eu já me pegava cantarolando e assoviando as músicas, mas era uma coisa meio sigilosa, sabe? Hoje em dia já perdi essa vergonha e acho que consigo sentir o que ele sentia.”
Quem comanda os discos de vinil e um bingo nos intervalos da festa é o DJ Diego Penaforte, do projeto Cotovelo Brega.
Nomes clássicos do brega no Brasil
Mas a iniciativa não é a única: o brega deixou os cantos discretos das rádios AM e das feiras populares para ocupar as pistas de dança da Capital e conquistar os mais jovens em festas marcadas pelo encontro de gerações.
É o que demonstra o historiador, pesquisador e DJ Canuto, criador do Paradão Popular. “(O brega) é uma música desprezada pela crítica cultural, pela indústria. Há um certo desprezo pelo brega que é histórico. O Paradão meio que surge dessa vontade de fazer justiça e tratar o brega com respeito.”
Uma relação respeitosa que é cultivada por Canuto desde a infância — nas feiras, ruas e histórias familiares. “Meus avós tinham uma pousada na região do Cariri. Nessa pousada passaram muitos artistas como Nelson Gonçalves, Sidney Magal, Reginaldo Rossi”, conta.
Moacyr Franco
Leno e Lilian
Gilliard
Ao colecionar referências nas famosas aparelhagens de Belém, o historiador se viu encantado: “Eram multidões que iam para ouvir música diretamente do vinil, essas músicas dos anos 60, 70”.
Mas ele sabia que o desafio seria entender como o brega se expressa em Fortaleza, cidade que, segundo o DJ, tem uma identidade própria.
“A gente tem o brega no Recife, o brega em Belém, mas Fortaleza tem o seu lado também. A gente tem uma identidade que não é uma coisa nem outra. É uma coisa nossa daqui.”
Nomes como Genival Santos, Bartô Galeno, Ivan Peter e Waldick Soriano, todos com vínculos com o Ceará, ilustram a força da cidade como polo dessa música popular. E a resposta, segundo Canuto, vem da escuta das pessoas: o repertório da festa é, em grande parte, formado por memórias afetivas do público.
“As pessoas vão trazendo as necessidades de tocar tal música, que faz parte da vida de alguém. Já conheci uma Verônica que tem o nome por causa da música ‘Verônica, me sinto tão só’. É a partir dessas memórias que o repertório vai sendo montado.”
Desde a primeira edição do Paradão Popular, a festa tem atraído fãs fiéis do brega, entre jovens adultos e famílias inteiras.
“Lembro de um rapaz que comemorou o aniversário levando os pais para o brega. Ele chorou mesmo, de verdade, pelas memórias que aquilo despertava. Não é raro as pessoas irem às lágrimas.”
Esse aspecto intergeracional não passa despercebido nem mesmo por visitantes estrangeiros. “Tenho um amigo francês que pesquisa música brasileira e ele falou: ‘Uma festa anti-etarismo é o brega. Tem todas as idades aqui. Isso é muito louco’”, compartilha o DJ.
A presença crescente da juventude nos bailes bregas de Fortaleza também revela uma virada cultural. “Fortaleza sempre gostou muito de brega. Não é novidade. Mas o que a gente tem visto é uma redescoberta por parte de outra geração, a geração das redes sociais, do TikTok”, observa Canuto.
Para ele, a busca por algo mais verdadeiro pode explicar o interesse. “A música feita hoje em dia vai seguindo padrões, se torna muito plástica, muito artificial às vezes. Quando você escuta uma música de 50 anos atrás e ela ainda faz sucesso, você sente muita verdade naquilo”.
Canuto acredita que o brega carrega, acima de tudo, histórias de vida. “O Odair José cantava ‘Eu vou tirar você desse lugar’, que faz alusão a um amor proibido com uma prostituta. E ele realmente se apresentava em todo tipo de ambiente. Ou seja, tem um grande fundo de verdade nisso tudo. E as pessoas sentem isso através da música”.
Odair José está entre as vozes indispensáveis para o repertório do Paradão, que também inclui Reginaldo Rossi, Bartô Galeno, Genival Santos, Fernando Mendes e Diana. “Aqueles que já faleceram, a gente segue exaltando. E os que estão vivos, a gente celebra em vida”.
O show começa antes da música. Helano Moreira, 66 anos, desce as escadas de casa como se estivesse entrando no palco. A plateia — que mais parece uma legião de amigos — o espera no Bar do Helano, no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza. De chapéu preto e óculos escuros, ele não canta apenas Waldick Soriano. Ele é Waldick.
Minutos depois, volta com a voz impostada de Cauby Peixoto. Em instantes, veste um paletó cravejado e, com um buquê de rosas nas mãos, encarna Roberto Carlos. Cada mulher da plateia recebe uma flor e a noite se enche de aplausos.
“Tem show aqui que eu compro 80 rosas e falta mulher pra receber”, conta Helano, sorrindo como quem entende que o brega é antes de tudo afeto.
O bar, que começou com música ao vivo apenas às sextas e sábados, virou ponto de encontro afetivo de quem ama cantar, rir, se emocionar — e ouvir histórias embaladas por canções populares que falam de amor com dor, de saudade sem fim e de promessas sussurradas à meia-luz.
O próprio Helano rejeita rótulos pejorativos sobre o brega. “Para muita gente, brega é uma coisa cafona, sem qualidade. Para mim, mostra a criatividade do brasileiro. É história. Muitos compositores tiveram coragem de contar sua vida nas músicas”, afirma.
Nascido em Limoeiro do Norte, Helano diz que a ligação com Waldick começou ainda na infância. “Uma vez ele foi cantar em Limoeiro, e eu, menino, vi aquela figura de preto, de chapéu. Depois cheguei em casa, arranjei um chapéu preto e nunca mais tirei. Já são 47 anos com ele na cabeça”, lembra.
“Quando eu vim para cá, fiz parte do Coral do jornal O POVO. Cantamos com Roberto Cardoso, Milton Nascimento, Dominguinhos, turma do Circo Voador, tudo por intermédio do Coral do O POVO. 1984, quando Roberto Carlos veio fazer show, ele chamou o nosso coral. Na época, o maestro era Eduardo Lage. Foi um show muito bonito.”
Mais tarde, quando um amigo o ouviu cantar “Eu Não Sou Cachorro, Não” no bar, o comentário foi inevitável: “Rapaz, tu só falta o óculos pra ser o Waldick.”
Daí nasceu a ideia do tributo — e o que seria apenas um número no repertório virou atração fixa. “No outro sábado eu desci de paletó, chapéu, óculos. Não deu 10 minutos e o bar tava lotado”, conta.
Vieram outros personagens. Um cliente ofereceu uma peruca e um blusão cravejado para que Helano encarnasse Cauby. Outro trouxe a peruca para o Roberto Carlos. E, assim, o artista foi assumindo o posto de cover mais carismático da Cidade.
O sucesso dos shows, no entanto, não é medido por curtidas nem curtumes. “Aqui não tem panfleto, não tem outdoor. É só no boca a boca”, diz.
E o boca a boca funciona. Há quem frequente o bar religiosamente há mais de uma década, quem comemore aniversários ali, quem reserve a mesma mesa toda semana.
“Tem gente que vem só dois, três, aí o pessoal convida outro, e pronto. Todo mundo fica amigo. Nunca teve confusão. É só família”, orgulha-se.
Durante a pandemia, o palco foram as telas. Helano fez 289 lives direto do bar, cantando todos os dias, aprendendo novas músicas, atendendo pedidos — e recebendo contribuições de lugares como Bélgica, Argentina e Portugal. “Teve gente que mandou trinta reais, teve quem mandou mil. Foi o que segurou a barra. Eu aprendi muita música nesse tempo.”
Hoje, além de Waldick, Cauby e Roberto, ele também incorpora Nelson Gonçalves — o único personagem que o fez tirar o inseparável chapéu. “Quando eu apareci sem ele, teve gente que ficou chocada. Nunca tinham me visto assim. Teve até quem dissesse: 'Tu devia ficar sem, ficou bonito'.”
No palco improvisado do bar, não há cenografia. Só há entrega. Helano canta como se estivesse sozinho no quarto, mas recebe os aplausos de quem vê nele o retrato de um Brasil apaixonado, melodramático e sensível. A cada nota, a cada flor, o brega deixa de ser sinônimo de exagero e vira espelho daquilo que sentimos, mas nem sempre sabemos dizer.
“Eu digo sempre: isso aqui não fui eu que comprei. Foi meu público que me deu. Foi a amizade, o carinho, o respeito. É isso que sustenta o bar. E o que sustenta o brega também.”
Com uma carreira ligada à produção cultural, a cearense Ingrid Barbosa — ou DJ Indgri, como é conhecida — tem ajudado a redesenhar os contornos do brega contemporâneo. No comando do projeto Brega que Pariu, criado ao lado da pernambucana May Villanueva, Indgri aposta numa fusão de estilos que coloca o brega no centro do debate cultural.
“O projeto nasceu em 2019, inicialmente como uma festa produzida pela May, que é pernambucana e queria fazer experimentações com o brega aqui em Fortaleza. De cara, eu curti demais a ideia do rolê e achei esse nome Brega que Pariu simplesmente genial”, narra.
“Desde pequena, ouvia aqueles bregas mais tradicionais em momentos de descontração com a família”, relembra. Mas foi em uma viagem a Recife, ainda na juventude, que o gênero ganhou um novo significado.
“Lá, o brega é praticamente um estilo de vida, muito parecido com o nosso forró de favela aqui de Fortaleza. Marcou muito ver meus amigos pernambucanos cantando aquelas músicas a plenos pulmões... E o mais legal foi perceber que algumas delas eu até já conhecia, mas em versões de forró. Isso me aproximou ainda mais do gênero.”
A estética da “sofrência em mesa de bar” é, segundo ela, o que dá cor e textura ao brega. “Além da sonoridade envolvente, é a estética que me encanta. O brega tem uma identidade muito própria, um apelo cultural que é bem característico aqui no Nordeste. As letras que falam sobre amores não correspondidos, conflitos conjugais... todo mundo acaba se identificando um pouco. Quem nunca sofreu de amor, né? (risos)”
No Brega que Pariu, a proposta é justamente multiplicar sentidos. O set da dupla transita por diversas vertentes, do tecnomelody ao bregafunk, do carimbó ao piseiro.
“Iniciamos o projeto de forma bem experimental, misturando bregas mais tradicionais com carimbó, tecnomelody, arrocha e o próprio bregafunk, que na época estava super em ascensão”, explica.
“Com o tempo, fomos adaptando o nosso DJ set de acordo com a proposta de cada lugar e também adicionando outros ritmos como piseiro, funk e, claro, o forró de favela. A nossa curadoria é muito viva, buscamos sempre nos manter atualizadas, acompanhando o que está rolando no momento, mas sem deixar de lado os grandes hits atemporais.”
“O brega ainda sofre preconceito, principalmente por ser um ritmo vindo da periferia, muitas vezes associado a estereótipos e preconceitos de classe”, afirma. Mas Indgri também enxerga transformações importantes em curso.
“Ao mesmo tempo, ele está, sim, ocupando novos espaços e ganhando mais prestígio. Muito impulsionado pelas trends na internet e pela nova geração, que tem se apropriado desse som com orgulho, ressignificando e ampliando seu alcance.”
Durante décadas, o brega foi visto com desdém por parte da crítica musical e das elites culturais brasileiras — como ainda o é. Ligado às periferias urbanas, ao romantismo popular e ao melodrama cotidiano, o gênero acumulou estigmas — mas também milhões de ouvintes fiéis.
Hoje, esse cenário apresenta mudanças. Prova disso é a sanção do Dia Nacional do Brega, instituído no início de 2025 pelo presidente Lula e celebrado em 14 de fevereiro, data de nascimento de Reginaldo Rossi, um dos maiores ícones do estilo.
O brega tem rei — e seu trono é o coração popular
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Ao mesmo tempo, o brega conquista um novo público: a juventude, que dança e reinterpreta o gênero com entusiasmo em metrópoles como Fortaleza.
Para entender essa reconfiguração do brega e suas múltiplas expressões, O POVO+ conversou com o professor Thiago Soares, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pesquisador de comunicação e culturas populares e autor do livro “Ninguém é perfeito e a vida é assim: a música brega em Pernambuco”.
Segundo Thiago, o brega não é um gênero musical de contornos rígidos, mas uma categoria elástica marcada pela pluralidade sonora e pela profunda ligação com os territórios periféricos do Brasil.
“O termo ‘brega’ é uma reunião em torno de músicas românticas interpretadas por artistas populares, em geral pobres, oriundos das periferias. Ele circula amplamente em três territórios no Brasil: o Sudeste, o Norte e o Nordeste”, explica.
No Sudeste, especialmente nos anos 1970, nomes como Waldick Soriano, Nelson Ned e Amado Batista protagonizaram uma cena de brega romântico vinculada à seresta e à migração de artistas nordestinos para os grandes centros: “Eram sujeitos migrantes, muitos vindos do Nordeste, que cantavam músicas românticas e faziam shows em casas nas periferias”.
Já no Norte, o brega se transformou com as influências caribenhas — calypso, bachata, merengue — até dar origem, no Pará, ao tecnobrega, com sua estética eletrônica e festiva.
“No Pará, o brega vai assumir uma relação com a música caribenha, desenhando uma produção sonora particular.”
No Nordeste, o brega é atravessado por outra tradição: a do forró estilizado e das bandas de baile.
“A formação das bandas de brega capitaneadas por cantoras aqui no Nordeste vai ter uma forte influência das bandas de forró. O território vai dando uma nuance ao brega e apresentando novas texturas sonoras e performáticas.”
“Os artistas de brega também eram uma espécie de versão mais pobre dos ídolos da
Apesar da diversidade, há um fio que conecta todas essas expressões: o melodrama — uma estrutura que, conforme aponta Soares, “está muito presente na América Latina”.
Nas palavras dele, o brega é uma espécie de “tradutor moral da sociedade”, especialmente da vivência das periferias.
“O melodrama vai trabalhar com estruturas muito simples: o herói, o vilão, o traído, a mulher emancipada, a mulher apaixonada. São histórias comuns e até clichês que vão dar esse escopo moral, porque o brega também traz essa moralidade do cotidiano: o bom, o mau... E ainda traz à tona dimensões eróticas: a sexualidade, o duplo sentido são elementos muito centrais na produção da música brega.”
Esse caráter emocional e direto é o que possibilitou ao brega atravessar o tempo — e conquistar o presente.
Desde os anos 2000, o gênero passou por um processo que o pesquisador chama de “jovialização”, como no surgimento do bregafunk em Recife e do tecnobrega em Belém.
“Essas variações apelam para uma música mais dançante, mas todas estão dentro do grande guarda-chuva chamado brega.”
Com a ampliação do público e o fortalecimento das cenas locais, o brega passou a ser reconhecido por políticas públicas.
Em 2017, foi declarado expressão cultural de Pernambuco. Depois, virou patrimônio imaterial da cidade do Recife. Agora, com o Dia Nacional do Brega, entra oficialmente no calendário cultural brasileiro.
“Isso tem a ver com autoestima, com cidadania, com reconhecimento de expressões culturais que emergem nas periferias e passam a ser vistas como sintomas daquele território.”
Mas Soares alerta que o reconhecimento simbólico precisa ser acompanhado de políticas concretas.
“Os artistas de brega, mesmo sendo muito populares, não podiam concorrer a editais de festas como o Carnaval e o São João. Isso começa a mudar. Precisamos de políticas públicas de acolhimento aos artistas, de incentivo, de fomento à economia criativa do brega.”
Em cidades como Fortaleza, onde jovens redescobrem a estética do brega em festas lotadas, playlists e intervenções urbanas, o que antes era visto como “cafona” torna-se símbolo de identidade e afeto.
Como afirma o pesquisador, “para mim, tudo o que é nomeado por um povo como brega, eu entendo como brega. É uma expressão elástica, que vai se adequando e se jovializando.”
De marginalizado a patrimônio cultural, o brega vive um novo momento — mais livre e mais jovem, talvez, mas certamente tão apaixonado quanto sempre foi.
“Ele dizia: bicho, minha música é romântica e fala dos sentimentos.” Assim o químico Thiago Santos recorda o modo como seu pai, o cantor Genival Santos, descrevia a própria obra — um repertório que atravessou décadas embalando as dores e delícias do amor com a simplicidade de quem sabia tocar o coração popular.
Ícone da música brega, Genival nasceu em Campina Grande (PB), conheceu a fama no Rio de Janeiro e escolheu Fortaleza como sua morada. Faleceu na capital cearense em 2014, aos 71 anos, após complicações de um câncer.
Porém, assim como as músicas que eternizou, Genival continua presente na memória, nos discos e nos palcos em que seus filhos celebram tão importante legado.
Clássicos de Genival Santos
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“Eu tenho muitas boas lembranças da minha infância com meu pai”, conta Thiago. “Lembro que ele viajava muito. Ele tinha uma mala que nem desfazia, porque já chegava de uma viagem e ia pra outra.”
Foi nesse ritmo que o cantor tornou-se um dos nomes mais populares da música brasileira nos anos 1970 e 1980. O estouro veio após uma participação no programa de TV de Flávio Cavalcanti, episódio que o filho considera emblemático.
“Ele me contou que foi criticado por alguns jurados, como a cantora Maísa. Depois o programa recebeu uma chuva de cartas pedindo que ele voltasse. Mais de 1.500 cartas dos telespectadores! Então ele voltou ao show para cantar Meu Coração pede Paz, de Oseas Lopes. Foi ovacionado. Ali foi o grande boom.”
Mas a trajetória de Genival começou muito antes dos holofotes. Ainda menino, vendia bananas na feira com o avô. Iniciou-se na música tocando triângulo e acompanhando grandes nomes do forró, como Abdias e parentes de Luiz Gonzaga.
Com uma voz inconfundível, migrou para o chamado “brega” — termo que seu filho prefere tratar com cuidado: “Ele dizia que não existia essa questão de brega, que era música romântica. E ele acreditava que, se pegassem suas músicas e colocassem em outra batida, fariam sucesso do mesmo jeito. Porque eram atemporais.”
Hoje, Thiago vê com entusiasmo o novo interesse dos jovens por esse repertório, especialmente em Fortaleza.
A cidade que acolheu Genival nos últimos anos de vida também abriga parte de sua memória: “Teve uma festa em que eu cantei com ele num clube em Messejana. E na gravação do DVD do Vicente Nery, ele me chamou ao palco. Momentos inesquecíveis.”
O irmão de Thiago, Rodrigo Santos, segue na música e tem promovido shows e homenagens ao pai. Um novo evento, com orquestra, está sendo preparado para um teatro da Capital.
Para manter viva a lembrança do cantor, Thiago criou o canal Filho do Brega, no YouTube, onde compartilha histórias, bastidores e curiosidades sobre a carreira do pai. Ele também alimenta redes sociais dedicadas à memória de Genival.
“A gente tenta sempre fazer eventos, manter o nome dele vivo. Meu pai era muito irreverente. Em shows, fazia piadas, brincava com os colegas no palco. Ele dizia: ‘quando eu morrer, quero festa, quero música’. E foi isso que aconteceu.”
No velório, realizado no cemitério Jardim Metropolitano, uma multidão se despediu ao som de sanfona e voz — com Vicente Nery entre os que cantaram.
“Foi triste, mas foi também muito bonito. Uma festa, como ele queria. Depois que o luto passou, consegui enxergar a beleza daquele momento.”
Para Thiago, a redescoberta do brega acompanha uma mudança cultural mais ampla: “Hoje estamos nos livrando de muitos preconceitos. Antes, o brega era marginalizado por ser ligado a uma classe mais humilde, por ser forte no Norte e no Nordeste. Mas é uma música que fala do povo, do cotidiano, dos sentimentos. Quem tem sensibilidade entende isso. E é por isso que ela está conquistando novas gerações.”
Genival Santos deixou dezenas de discos e sucessos como Sendo assim e Eu te peguei no flagra. Mas, segundo o filho, queria ser lembrado sobretudo como alguém que soube fazer rir e sentir: “Como um grande cantor, um homem divertido e, além de tudo, um compositor que falava de amor”.
"Oie, como vai? :) Aqui é Karyne Lane, repórter do OP+. Te convido a deixar sua opinião sobre esse conteúdo lá embaixo, nos comentários. Se preferir, me escreva um e-mail (karyne.lane@opovo.com.br), ficarei feliz de te ler. Até a próxima!"