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Se a Terra fosse um banco, já estaríamos no cheque-especial
Reportagem Especial

Se a Terra fosse um banco, já estaríamos no cheque-especial

Em 2025, o Dia do Esgotamento da Terra para o Brasil ocorre neste 1º de agosto, mas a Terra já ultrapassou sua capacidade de regeneração de recursos naturais, com o Dia da Sobrecarga ocorrendo em 24 de julho, o mais cedo da história. A partir dessa data, começamos a consumir mais do que o planeta pode repor. Nesse ritmo, seriam necessários 1,8 planetas para bancar a demanda atual. Porém, só existe um à disposição...

Se a Terra fosse um banco, já estaríamos no cheque-especial

Em 2025, o Dia do Esgotamento da Terra para o Brasil ocorre neste 1º de agosto, mas a Terra já ultrapassou sua capacidade de regeneração de recursos naturais, com o Dia da Sobrecarga ocorrendo em 24 de julho, o mais cedo da história. A partir dessa data, começamos a consumir mais do que o planeta pode repor. Nesse ritmo, seriam necessários 1,8 planetas para bancar a demanda atual. Porém, só existe um à disposição...
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Imagine um saldo bancário que, em vez de acumular riquezas, indica o dia em que todo o orçamento anual é esgotado, mesmo com meses restantes no calendário. Agora, aplique essa analogia ao planeta Terra.

Todos os anos, a humanidade atinge um marco simbólico e alarmante: o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day, em inglês), data em que a demanda por recursos naturais e serviços ecossistêmicos supera a capacidade do planeta de regenerá-los ao longo do ano.

Em 2025, esse dia caiu para 24 de julho, antecipando-se à data de 2024, que foi 1º de agosto. Isso significa que, por quase metade do ano, a humanidade estará operando em débito ecológico, consumindo os estoques naturais da Terra e comprometendo as condições ambientais para as futuras gerações.

 

Dia da Sobrecarga da Terra de 1971 a 2025

 

As informações foram geradas pela Global Footprint Network, organização internacional responsável por desenvolver o conceito de Pegada Ecológica. De acordo com ela, desde 1970, vivemos em constante sobrecarga ecológica.

Ainda que, nos últimos 15 anos, o Dia da Sobrecarga tenha permanecido dentro de uma faixa relativamente estável, a pressão sobre os ecossistemas globais se intensifica a cada ciclo. Ao mesmo tempo, os danos provocados por esse excedente são acumulativos, como uma espécie de juros que compõe a dívida ecológica que se amplia ano após ano.

Para chegar a essas conclusões, a Global Footprint Network utiliza uma fórmula utilizada relativamente simples. Divide-se a biocapacidade do planeta, isto é, a sua capacidade de regenerar recursos; pela pegada ecológica da humanidade e multiplica-se por 365 (ou 366, em anos bissextos).

 

Entenda quais são os conceitos principais utilizados para o cálculo do Dia da Sobrecarga

 

Vale lembrar que viver além dos limites do planeta não é uma abstração teórica, mas uma realidade com consequências concretas, conforme defende a Global Footprint Network. A organização menciona que a sobrecarga ecológica estaria diretamente ligada à perda de biodiversidade, esgotamento de recursos naturais, degradação florestal, acúmulo de gases de efeito estufa e à intensificação de eventos climáticos extremos.

Além dos impactos ambientais, essa sobrecarga gera efeitos colaterais econômicos e sociais, como estagflação, insegurança alimentar e energética, crises de saúde pública e conflitos. De modo geral, seria uma falha sistêmica de mercado, que iria subvalorizar os recursos naturais e penalizar, sobretudo, aqueles que dependem fortemente desses insumos cada vez mais escassos.

Lewis Akenji é o diretor do Hot or Cool Institute e liderou projetos sobre sustentabilidade e mudanças climáticas(Foto: Global Footprint Network)
Foto: Global Footprint Network Lewis Akenji é o diretor do Hot or Cool Institute e liderou projetos sobre sustentabilidade e mudanças climáticas

Para Lewis Akenji, membro do conselho da Global Footprint Network, é preciso agir rápido para reverter os danos causados ao planeta.

“Já se passou um quarto do século XXI e devemos ao planeta pelo menos 22 anos de regeneração ecológica, mesmo que impeçamos qualquer dano adicional agora. Se ainda quisermos chamar este planeta de lar, esse nível de superação exige uma escala de ambição em adaptação e mitigação que deve ofuscar quaisquer investimentos históricos anteriores que tenhamos feito”, afirma.

Paul Shrivastava é professor de gestão e organizações na Universidade Estadual da Pensilvânia. Atuou como diretor de sustentabilidade e diretor do Instituto de Sustentabilidade até 1º de julho de 2022(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Paul Shrivastava é professor de gestão e organizações na Universidade Estadual da Pensilvânia. Atuou como diretor de sustentabilidade e diretor do Instituto de Sustentabilidade até 1º de julho de 2022

De acordo com o professor Paul Shrivastava, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o consumo excessivo atual, na prática, está comprometendo os recursos do futuro. Se esse processo não for controlado, diz ele, é possível que a "inadimplência ecológica" coloque em risco a sustentabilidade do meio ambiente.

“A boa notícia é que evitar a inadimplência ecológica é possível: temos a capacidade econômica. Vamos agora desenvolver a vontade política, desde o comportamento individual do consumidor até as estratégias econômicas dos governos”, completa Shrivastava.


 

Se o mundo vivesse como o Brasil, quantos planetas seriam necessários?

E se toda a população do planeta adotasse o mesmo padrão de consumo do Brasil? Quanto tempo levaria para esgotarmos os recursos naturais disponíveis em um ano? Segundo a Global Footprint Network, se o estilo de vida brasileiro fosse replicado globalmente, seriam necessários 1,7 planetas Terra para sustentar a humanidade.

Em 2025, o Dia do Esgotamento da Terra para o Brasil ocorre em 1º de agosto. Isso significa que, se todo o mundo consumisse recursos na mesma velocidade e intensidade dos brasileiros, o orçamento do planeta para o ano inteiro seria utilizado até o início de agosto. Nos cinco meses restantes, estaríamos operando em débito ecológico, recorrendo a estoques que deveriam ser preservados para garantir o equilíbrio dos ecossistemas no longo prazo.

Ao mesmo tempo, é fato que o Brasil é dono de uma data de esgotamento relativamente mais tardia do que a de países como Catar, Estados Unidos ou Austrália, cujas populações esgotariam os recursos do planeta ainda no primeiro trimestre do ano. Por outro lado, o País ainda está dentro da lógica do consumo que excede a biocapacidade do planeta.

 

Calendário mostra o Dia do Esgotamento por país em 2025

 

Ao redor do mundo, países como o Brasil se colocam nessas condições devido aos seus modelos econômicos baseado em exploração extensiva de recursos naturais, urbanização acelerada, desmatamento e elevada dependência de fontes fósseis de energia – isso mesmo com o Brasil contando com uma matriz robusta de energias renováveis.

Por isso, apesar de estar longe do topo do ranking dos maiores consumidores per capita, o Brasil impõe mais demanda ao planeta do que a natureza é capaz de regenerar. Avançar nesse caminho significa rever padrões de produção, combater o desperdício, investir em eficiência energética, restaurar ecossistemas e garantir que políticas públicas estejam alinhadas à preservação dos recursos naturais.

No ritmo brasileiro, portanto, seriam necessários 1,7 planetas Terra para bancar a demanda atual. Porém, só existe um à disposição...

 

 

Metodologia do estudo

A metodologia da Pegada Ecológica e do Dia do Esgotamento da Terra baseia-se nas National Footprint and Biocapacity Accounts (NFBA), que comparam a demanda de um país sobre os recursos naturais com a capacidade de regeneração de seus ecossistemas. Esses cálculos utilizam dados oficiais da ONU e são ajustados com o método de "nowcasting", que usa dados atuais (como rendimento de culturas e uso de eletricidade) para estimar a Pegada Ecológica e a biocapacidade do ano em curso.

Os cálculos são feitos em hectares globais (gha), uma unidade que ajusta a área conforme sua produtividade biológica. Desde 2019, a produção das NFBA é gerida pela York University e a Global Footprint Network, com governança da Footprint Data Foundation. As estimativas mais recentes incorporam dados adicionais de fontes como a International Energy Agency (IEA) e o Global Carbon Project (GCP).

As atualizações anuais garantem que os dados históricos sejam recalculados, refletindo as metodologias mais recentes. Portanto, comparações entre edições diferentes podem ser distorcidas por melhorias nos dados e metodologias, e não apenas por mudanças reais no consumo.

 

 

Qual o seu perfil de consciência ambiental? Teste seus hábitos sustentáveis!

Nosso planeta está vivendo um momento crítico, e o Earth Overshoot Day de 2025 chegou antes do que nunca, em dia 24 de julho. Isso significa que a humanidade já consumiu todos os recursos naturais que a Terra pode regenerar em um ano. Mas, a boa notícia, é que cada um de nós pode fazer a diferença com escolhas mais conscientes no dia a dia.

O POVO+ preparou quiz abaixo para ajudar você a identificar seus hábitos em relação ao consumo sustentável e mostrar caminhos para melhorar ainda mais seu impacto no meio ambiente. Responda com sinceridade e descubra qual perfil ambiental mais combina com você!

 

Qual o seu nível de consciência ambiental?

 

 

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