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Emirados lançam primeira sonda árabe com destino a Marte
Reportagem Seriada

Emirados lançam primeira sonda árabe com destino a Marte

A entrada do mundo árabe na corrida espacial, com o lançamento da missão Al Amal, é ambiciosa e mira o "resgate da idade do ouro", das conquistas do Oriente Médio
Episódio 4

Emirados lançam primeira sonda árabe com destino a Marte

A entrada do mundo árabe na corrida espacial, com o lançamento da missão Al Amal, é ambiciosa e mira o "resgate da idade do ouro", das conquistas do Oriente Médio
Episódio 4
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Os Emirados Árabes Unidos estabeleceram um programa de energia nuclear e enviaram um astronauta ao espaço. Agora, desejam integrar outro clube de elite, lançando uma sonda chamada "Hope" (Al Amal , em árabe) para Marte.

Somente Estados Unidos, Índia, a ex-União Soviética e a Agência Espacial Europeia colocaram com sucesso sondas ao redor do planeta vermelho. A China também se prepara para enviar uma, além de um robô.

O Estado federado, formado por sete emirados unificados em 1971 e conhecido por seus arranha-céus e ilhas artificiais em forma de palmeira, fará história para um país árabe.

Engenheiros se reúnem em frente a um modelo KhalifaSat no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC), na cidade do Golfo de Dubai(Foto: GIUSEPPE CACACE/AFP)
Foto: GIUSEPPE CACACE/AFP Engenheiros se reúnem em frente a um modelo KhalifaSat no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC), na cidade do Golfo de Dubai

A sonda "Al Amal" (Hope em inglês), será lançada a partir do centro espacial japonês de Tanegashima em 20 de julho e chegará à órbita marciana em fevereiro. O objetivo da missão é fornecer uma imagem completa da dinâmica meteorológica da atmosfera de Marte e promover avanços científicos.

As ambições dos Emirados, país do Golfo rico em petróleo, são percebidas como uma resgate da idade do ouro, das grandes conquistas culturais e científicas no Oriente Médio. O Estado federado, composto por sete emirados (ou principados), incluindo Abu Dhabi e Dubai, já tem nove satélites na órbita terrestre e planeja lançar outros oito nos próximos anos.

A viagem à Marte seria o primeiro passo de um projeto mais ambicioso: a construção de uma colônia humana em Marte nos próximos 100 anos.

"Ponte para o futuro"

O mais famoso dos emirados, Dubai, contratou arquitetos para imaginar como seria essa colônia e recriá-la no deserto sob o nome de "Cidade da Ciência". O projeto custará cerca de 500 milhões de dirhams (mais de 135 milhões de dólares).

Os Emirados Árabes Unidos também estão considerando projetos de mineração e turismo espacial, e assinaram um acordo de protocolo com a Virgin Galactic, empresa de turismo espacial do bilionário britânico Richard Branson.

Os Emirados se reúnem no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC) em Dubai(Foto: KARIM SAHIB / AFP)
Foto: KARIM SAHIB / AFP Os Emirados se reúnem no Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC) em Dubai

Em setembro de 2019, o emir Hazza al Mansouri se tornou o primeiro cidadão árabe a permanecer na Estação Espacial Internacional (ISS), à qual se juntou a bordo de um foguete russo Soyuz.

"Nossos avós seguiram as estrelas enquanto caminhavam para a glória. Hoje, nossos filhos olham para elas para construir seu futuro", disse o governante de Dubai, o xeque Mohamed bin Rachid Al Maktum.

A jovem nação do Golfo, cuja influência se estende do Iêmen à Líbia, passando pelo Chifre da África, é apresentada como um ator regional importante.

Já se tornou um centro financeiro e um destino turístico, apesar da desaceleração econômica nos últimos anos. É também o primeiro país árabe a ter um programa nuclear civil.

O país, e particularmente Dubai, atrai milhões de jovens graduados de todo o mundo, principalmente do Oriente Médio e Norte da África.

A federação, criticada por alguns por sua intervenção no Iêmen, afirma defender a tolerância e acolheu a primeira visita de um papa à Península Arábica.

"Os Emirados Árabes Unidos entenderam que o espaço é muito importante para seu desenvolvimento e sustentabilidade. É uma ponte para o futuro", disse à AFP Mohamed al Ahbabi, diretor geral da agência espacial do país.

Vista parcial do Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC), na cidade do Golfo de Dubai(Foto: GIUSEPPE CACACE/AFP)
Foto: GIUSEPPE CACACE/AFP Vista parcial do Centro Espacial Mohammed Bin Rashid (MBRSC), na cidade do Golfo de Dubai

A viagem da "esperança"

O próximo passo é o lançamento da sonda "Al Amal". Serão necessários sete meses para percorrer os 493 milhões de quilômetros até março, a tempo de comemorar o 50º aniversário da unificação dos sete emirados, em 2021.

A sonda permanecerá em órbita durante um ano marciano, que tem 687 dias.

Três equipamentos fixos em "Esperança" permitirão ter uma imagem completa da atmosfera de Marte ao longo do ano marciano.

Um espectrômetro infravermelho medirá a atmosfera inferior e analisará a estrutura da temperatura, um captor de imagens de alta resolução fornecerá informações sobre os níveis de ozônio e, por último, um espectrômetro ultravioleta medirá os níveis de oxigênio e hidrogênio a uma distância de até 43.000 quilômetros da superfície.

A compreensão das atmosferas de outros planetas permitirá entender melhor o clima na Terra, segundo os coordenadores da missão espacial.

Realizado em uma região abalada por conflitos e atormentada por dificuldades econômicas, o projeto também é visto como um meio de inspirar uma geração inteira e lembrá-la do auge dos avanços científicos na Idade Média.

"Os Emirados Árabes Unidos querem enviar uma mensagem forte aos jovens árabes e lembrá-los do passado. Em um certo ponto da história, éramos geradores de conhecimento", ressalta Omran Charaf, diretor do projeto da missão.

Próxima reportagem: Cercada por mistérios, a China quer colocar sua sonda na órbita marciana, que pouse em Marte, e depois ativar um pequeno robô teleguiado para a realização de análises. Conheça 5 fatos sobre essa viagem.

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