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Pernambuco planeja geração de H2V de olho na agenda zero carbono
Reportagem Seriada

Pernambuco planeja geração de H2V de olho na agenda zero carbono

Estratégia de Suape envolve 23 empresas na área portuária e mais 60 na parte industrial do porto pernambucano, sem deixar de mirar nas novas indústrias verdes
Episódio 2

Pernambuco planeja geração de H2V de olho na agenda zero carbono

Estratégia de Suape envolve 23 empresas na área portuária e mais 60 na parte industrial do porto pernambucano, sem deixar de mirar nas novas indústrias verdes
Episódio 2
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Responsável pela maior movimentação de cargas do Nordeste no último ano (33,6 milhões de toneladas) e detentor da maior variedade de indústrias integradas à área portuária da Região, o Porto de Suape diz ter no hidrogênio verde (H2V) uma das ações da estratégia zero carbono executada pela administração do terminal e o governo pernambucano.

Hoje, as atividades se concentram entre a conclusão do inventário próprio de emissão de carbono e a promoção do Tech Hub, no qual os projetos relacionados ao H2V estão abrigados.

O objetivo, segundo explica Marcio Guiot, diretor-presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, é equilibrar emissões e captura de carbono na área de 17 mil hectares na qual está instalado o Complexo, mantendo operações como o hub de veículos e adicionando as indústrias verdes.

Porto de Suape, em Pernambuco, foi o responsável pela maior movimentação de cargas do NE em 2022(Foto: Divulgação/Suape)
Foto: Divulgação/Suape Porto de Suape, em Pernambuco, foi o responsável pela maior movimentação de cargas do NE em 2022

Ao todo, 83 empresas estão integradas ao porto atualmente, sendo 23 delas diretamente na área portuária e outras 60 na parte industrial.

Ao O POVO, Guiot ressaltou que a ambição do porto de Pernambuco é se tornar um hub tecnológico no que diz respeito a hidrogênio e, para isso, enxerga oportunidades de desenvolver plantas de dessalinização de água, captura de carbono, armazenagem e manuseio de hidrogênio, entre outras experiências.

 

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Laboratório de experimentos em H2V do Brasil

É neste contexto que surge o Tech Hub de Suape. Lançada em 2022, a iniciativa se projeta como o laboratório de experimentos em H2V do Brasil e já conta com R$ 21 milhões de financiamento para isso, conquistados a partir da chamada bilateral Brasil-Alemanha para o desenvolvimento do combustível.

Adriana Martin, diretora de Inovação e Transformação Digital de Suape, explica que o interesse de empresas é contínuo e projeta algumas centenas já envolvidas de alguma forma.

Complexo Industrial de Suape está investindo em tecnologia para concorrer no mercado de H2V(Foto: Divulgação/Suape)
Foto: Divulgação/Suape Complexo Industrial de Suape está investindo em tecnologia para concorrer no mercado de H2V

“Vai funcionar na forma de contêiner. Serão plantas piloto, teremos aqui 36 contêineres onde as empresas irão fazer as suas plantas, sua produção e seus projetos”, conta. Sem revelar nomes das empresas, o Complexo de Suape informa que tem cerca de 10 negociações avançadas e mais 500 em conversa.

Também no ano passado, Suape lançou um edital com previsão de investimento total de aproximadamente US$ 3,5 bilhões, com 1 megawatt de capacidade de eletrólise e área de 72,5963 hectares. Um contrato foi assinado, segundo Guiot, mantendo o sigilo do investidor.

 

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Competitividade e as vantagens de investir no terminal

Perguntado sobre os planos de operação a partir da concretização das iniciativas, o diretor-presidente de Suape assegurou que a capacidade de ampliação não é uma preocupação do porto e destacou as vantagens de se investir no terminal.

“Suape tem uma posição estratégica geográfica no Nordeste. Como Porto, pode ser o corredor não só para o que vem a ser produzido no Estado de Pernambuco, mas nos estados vizinhos. Não nos falta a capacidade. O potencial logístico portuário é muito forte e tem condição de crescer pelo menos cinco vezes mais do que a gente do que a gente movimenta”.

Expectativa é de que o porto de Suape ganhe mais 10 km de cais(Foto: Divulgação/Suape)
Foto: Divulgação/Suape Expectativa é de que o porto de Suape ganhe mais 10 km de cais

Ele acrescenta ainda que o plano diretor do Complexo Industrial Portuário tem uma previsão de ultrapassar os 10 km de cais, o que dá “tranquilidade para atender o hidrogênio no seu momento porque há muita área para expandir”.

O executivo ainda considera que a ampliação pode acontecer via caixa próprio, captação de fundos internacionais, recursos federais e investimento por empresas parceiras interessadas no hidrogênio verde.

“Todas as opções já estão na mesa e assim a gente vai trabalhar uma cifra para isso. Não tem como calcular agora porque a gente não sabe, por exemplo, se vão ser um, dois, três ou quatro terminais. Isso vai depender muito de como as empresas vão se posicionar”, observa.

 

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Regulamentação e mercado interno

Assim como os colegas cearenses, Marcio Guiot demonstra atenção sobre a regulamentação sobre a produção do hidrogênio verde no Brasil.

Ele observa que o momento é importante para definir uma estratégia de estado para o País, “se nós vamos ser apenas um exportador de hidrogênio ou se nós vamos tentar atrair indústrias, tirando proveito da nossa do nosso grid de energia aqui hoje já é muito muito positivo”, pela participação das energias renováveis na matriz nacional.

“Como país, é o momento ideal para a gente discutir políticas públicas e a gente tem buscado participar dos fóruns e contribuir com a nossa visão”, afirmou, acrescentando que há troca de informações também com os demais portos do Nordeste envolvidos em projetos de hidrogênio verde.

Pernambuco está mapeando empresas interessadas em atuar no mercado de hidrogênio(Foto: Divulgação/Suape)
Foto: Divulgação/Suape Pernambuco está mapeando empresas interessadas em atuar no mercado de hidrogênio

Mais um entendimento comum demonstrado pelo diretor-presidente do Complexo de Suape é a formação de uma demanda doméstica como forma de impulsionar o Brasil na chamada economia verde.

Ter potenciais consumidores de hidrogênio verde já mapeados é considerado importante para o desenvolvimento da cadeia produtiva do novo combustível localmente.

“Mapear essas indústrias que vão consumir em grande escala para que a gente possa evoluir na nossa produção significa atingir um custo que seja competitivo, porque o nosso hidrogênio precisa chegar a um nível que consiga incorporar o custo logístico, que vai ser o transporte seja em qual formato seja desenvolvido. Eu acho que isso vem através de uma demanda doméstica. A gente também conversou com uma empresa recentemente que colocou essa questão como sendo um ponto muito importante. E isso vem através de política pública. Quanto o País vai estar disposto a subsidiar no início?”, indaga.

Estados do Nordeste aguardam regulamentação nacional para destravar investimentos em H2V(Foto: Divulgação/Suape)
Foto: Divulgação/Suape Estados do Nordeste aguardam regulamentação nacional para destravar investimentos em H2V

 

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RN terá PPP de R$ 5,7 bi para construir porto-indústria

O estado do País de maior potência instalada de energia eólica (7,43 gigawatts), o Rio Grande do Norte viu no hidrogênio verde a oportunidade de impulsionar mais a economia do estado e prepara um projeto de parceria público-privada (PPP) para um novo porto-indústria.

Com investimento estimado em R$ 5,7 bilhões, o terminal projetado para Caiçara do Norte (a 154 km de Natal) já conta com 10 investidores estrangeiros interessados, mas os nomes estão sob sigilo.

Preparado para abrigar as plantas de hidrogênio verde e movimentar as cargas para o mercado internacional e nacional, o porto conta também com áreas para produção de eólicas (pás e turbinas) e outras atividades industriais.

São 13.300 hectares e 8 quilômetros de extensão, com um canal e braços, dotando o equipamento de atuação onshore e offshore.

Rio Grande do Norte é o estado com maior potência eólica instalada(Foto: Yasuyoshi CHIBA/AFP)
Foto: Yasuyoshi CHIBA/AFP Rio Grande do Norte é o estado com maior potência eólica instalada

  

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Energia gera competitividade

Um estudo elaborado pelo Instituto Senai de Inovação e Energias Renováveis, com sede no Rio Grande do Norte, aponta o estado como um dos polos brasileiros de menor custo para produzir hidrogênio verde - juntamente com Bahia e Ceará. O quilo do combustível é estimado entre US$ 2 e US$ 7, exatamente, pela capacidade eólica instalada.

“É um país do ponto de vista de produção, com consumo muito pequeno. Então, hoje, a gente está produzindo cerca de 7,5 GW com o consumo de 1,5 GW, o que sugere que a gente está produzindo 5 vezes o nosso consumo. O Ceará também produz muito, produz menos do que nós e consome mais do que nós. A Bahia quando você soma com energia solar produz mais do que o Rio Grande do Norte, mas é um gigante do ponto de vista de consumo”, compara Rodrigo Mello, diretor do Senai do Rio Grande do Norte e do Instituto Senai de Inovação em Energias Renováveis.

Mello ainda destaca que o estado pode usar o Porto Ilha instalado desde os anos de 1970 no litoral do município de Areia Branca e voltado atualmente para a operação da indústria salineira, como porto de apoio à indústria de energia.

O diretor do Senai projeta já a operação dos dez projetos eólicos offshore inscritos no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) para o litoral do Rio Grande do Norte e que podem impulsionar ainda mais a competitividade do estado na geração de hidrogênio verde a partir do polo de Caiçara do Norte.

“A nossa ideia é fazer o edital para a concessão. Se o cronograma funcionar bem, no último trimestre de 2026 a gente estará operando”, projeta Jaime Calado, titular da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte (Sedec).

 

Jaime Calado, secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte(Foto: Reprodução redes sociais)
Foto: Reprodução redes sociais Jaime Calado, secretário de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte

Hoje, o grupo liderado por ele elabora o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) do porto, o qual envolve ainda perspectivas sociais e econômicas, uma vez que a área visada para as obras é, hoje, uma praia.

“Vamos tentar dar entrada até novembro no Ibama, dentro do cronograma que a gente vem trabalhando. Já iniciamos a fase fundiária, que envolve desapropriação e avaliação dos imóveis. Estamos na fase de autorização portuária também junto à Secretaria Nacional de Portos, envolvendo ainda os investidores”, detalha Hugo Fonseca, coordenador de desenvolvimento energético da Sedec.

Calado ressalta ainda que o estado aprovou um plano estadual de H2V para impulsionar o setor e destaca que o projeto deve dotar o porto de Caiçara de competitividade ante os demais terminais já em operação na Região.

Ao todo, são 11 berços e um calado de 17 metros, que torna o equipamento capaz de receber as embarcações de transporte de amônia, além de pás e turbinas eólicas. “O porto vai poder exportar ferro e sal. Temos uma produção de 6 milhões de toneladas de sal, mas poderia produzir o dobro. Se tivesse como exportar e dar suporte também, o porto vai ser de utilidade multiuso”, projeta o secretário.

 

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Piauí vai investir R$ 85 mi em terminal multiuso

Quatro projetos de geração de hidrogênio verde (H2V) que somam R$ 60 bilhões motivam as ações do Piauí na produção do novo combustível, o que envolve, especialmente, a construção de um porto multiuso em Luís Correia (a 350 quilômetros de Teresina), ao custo de R$ 85 milhões.

O empreendimento tem o plano de ação em curso, no qual as perspectivas econômica, ambiental, social e técnica estão sendo elencadas e o prazo para o início da operação ainda não é estimado, segundo explica Fábio Luiz Freitas, diretor operacional da Portopi - estatal estadual criada para administrar o porto.

Porto de Luís Correia, projetado para o litoral do Piauí(Foto: Divulgação/Governo do Piauí)
Foto: Divulgação/Governo do Piauí Porto de Luís Correia, projetado para o litoral do Piauí

Ao mesmo tempo, pelo caráter multiuso empregado, o terminal pesqueiro de Luís Correia deve ter a operação iniciada até o fim deste ano, paralelo aos esforços do Estado para atrair e efetivar os investimentos.

Kárita Allen, diretora de Grandes Negócios da Investe Piauí, conta que os memorandos de entendimento assinados pelo governo piauiense foram celebrados com a alemã Solar Outdoor Media e a espanhola Solatio, mas as projeções são de mais iniciativas.

"Nós já temos previsão de R$ 60 bilhões em quatro plantas. Estamos trabalhando com pelo menos 5 mil empregos diretos, mas a estimativa é de que pode ser bem mais se contar os indiretos. Depois da instalação das plantas, a expectativa é de que 20% desses empregos sejam retidos, tanto na produção quanto na manutenção dessas indústrias", acrescenta.

Kárita Allen destaca que investimentos devem chegar a R$ 60 bilhões(Foto: Reprodução redes sociais)
Foto: Reprodução redes sociais Kárita Allen destaca que investimentos devem chegar a R$ 60 bilhões

O governador Rafael Fonteles (PT), segundo a diretora, tem se empenhado na agenda internacional para captar recursos de investidores estrangeiros e também tem iniciado o debate sobre os incentivos fiscais para atrair os interessados.

 

 

Especial Hidrogênio Verde nos Portos do Nordeste

Este é o último episódio de uma série de duas reportagens sobre a preparação dos portos do Nordeste para o hidrogênio verde. Na Região, as administrações dos estados do Ceará, Bahia, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte se movimentam para receber empresas da cadeia do combustível.

 

 

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