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Com prefeito foragido em Choró, interino fala em matar "um Golias por dia"
Reportagem Seriada

Com prefeito foragido em Choró, interino fala em matar "um Golias por dia"

Prefeito eleito foi alvo de operação, entregou-se um dia depois, passou 10 dias preso, foi solto, alvo de nova operação após dois dias e está foragido hà três meses. Interino fala sobre a situação
Episódio 2

Com prefeito foragido em Choró, interino fala em matar "um Golias por dia"

Prefeito eleito foi alvo de operação, entregou-se um dia depois, passou 10 dias preso, foi solto, alvo de nova operação após dois dias e está foragido hà três meses. Interino fala sobre a situação
Episódio 2
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Em Choró, distante 188 km de Fortaleza seguindo pela BR-020, o prefeito eleito, Bebeto Queiroz (PSB), está foragido. Em 5 de dezembro de 2024, ele foi alvo da segunda operação da Polícia Federal. O caso gerou repercussão nacional, mas os impactos políticos numa cidade de apenas 12,1 mil habitantes, segundo os dados do último Censo, são ainda maiores.

O prefeito eleito foi alvo de operação em 22 de novembro. No dia seguinte, entregou-se à Polícia. Depois de dez dias preso, foi solto, ao final do prazo da prisão temporária. Chegou a comemorar nas redes sociais, mas, dois dias depois, foi alvo de nova operação. Está desde então foragido.

A investigação envolve suposto esquema de uso de emendas parlamentares no Congresso Nacional para influenciar resultados eleitorais em dezenas de municípios. O deputado federal Júnior Mano (PSB) é alvo de inquérito da Polícia Federal sobre o caso.

Prefeito eleito e cassado de Choró, Bebeto Queiroz(Foto: Reprodução/Instagram @bebetoqueiroz_)
Foto: Reprodução/Instagram @bebetoqueiroz_ Prefeito eleito e cassado de Choró, Bebeto Queiroz

O POVO esteve na cidade entre o fim da manhã e metade da tarde de quarta-feira, 20 de fevereiro de 2025, um dia antes de visitar Santa Quitéria.

O vereador Paulinho (PSB) é presidente da Câmara Municipal e assumiu a Prefeitura interinamente após Bebeto e seu vice não tomarem posse

O prefeito interino falou sobre o cotidiano do Município, a relação com Bebeto durante a campanha e após ter assumido o Executivo. O prefeito diz que Choró caminha.

“Estamos, na medida do possível, hoje, os serviços estão chegando a nossa população. Queria eu poder alcançar ainda mais, mas há trâmites que temos que obedecer, questão de licitações, mas na medida do possível estamos com nossa folha em dia, serviço de saúde, educação, assistência, funcionando”, relata o interino.

PREFEITO interino de Choró, Paulinho, conversou com a equipe do O POVO(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal PREFEITO interino de Choró, Paulinho, conversou com a equipe do O POVO

Questionado sobre eventual nova eleição ou se já recebeu algum direcionamento da Justiça, Paulinho diz que o Município continua aguardando. “Oficialmente, até o momento, não. Estamos esperando uma decisão da Justiça e até lá não temos o que fazer. Estou fazendo o papel de interino no Executivo e estamos aguardando os ritos”, destaca.

Sobre a relação com o Legislativo, reconhece que há questões políticas locais, mas que tem tentado fazer com que a relação seja harmônica. “A Câmara, aqui, não é uma extensão do Executivo, porém, são poderes harmônicos. Quero agradecê-los, porque já foram enviados projetos para lá, que já foram discutidos e aprovados”.

Sobre o caso Bebeto, Paulinho diz que o papel que lhe cabe é tranquilizar a população e alega que desde que assumiu não teve mais contato com o prefeito eleito. O prefeito interino é do mesmo partido e grupo de Bebeto.

Município de Choró, a 186 quilômetros de Fortaleza(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Município de Choró, a 186 quilômetros de Fortaleza

“Isso é novo para o Choró, o Município não tinha passado por uma situação dessas. Como Executivo, procuramos dar uma tranquilidade para a população. O Município e a gestão continuam”, destaca.

“A gente é do mesmo partido, antes eu era vereador. Na campanha, eu e os demais candidatos estivemos junto com ele (Bebeto), naturalmente, até porque somos do mesmo partido, não tinha como esconder. Mas a partir do dia 1° de janeiro, não. É uma gestão nossa”, reforça Paulinho ao argumentar que tem autonomia para gerir o Município.

“Estamos superando a cada dia. Estamos trabalhando por dia. Não estamos fazendo um projeto de curto, médio, longo prazo, mas o processo, o foco, é um dia por vez. Hoje, estamos vencendo mais um dia com responsabilidade, respeitando os ritos. As prioridades são muitas, mas como costumo dizer, estamos aqui, matando um Golias por dia. Com a ajuda de parceiros, secretários, da população. Entendendo as circunstâncias do Município e que num futuro breve estaremos festejando o sucesso do Choró”, pontua.

Câmara Municipal de Choró(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Câmara Municipal de Choró

Além disso, a gestão interina destacou a relação com o Governo do Estado e com outros atores políticos a fim de captar recursos para o Município. “Estivemos com o secretário Nelson Martins, deixamos uma lista de prioridades. Sem essa parceria não poderíamos dar os passos que já demos no curto prazo".

"Com relação a deputados, nem estadual e nem federal. Vamos à marcha dos prefeitos para ter um encontro na esfera federal e saber em quais portas vamos estar batendo, temos que ter parceiros porque o Município precisa. O Choró não é órfão e nem será órfão”, assegurou.

 

 

Secretária fala sobre andamento da gestão

A secretária da Educação, Ana Flavia de Sousa Lima, 35, também atendeu a reportagem para uma conversa sobre o andamento da gestão e o caso Bebeto.

Ana Flávia disse que iniciou como secretária na gestão do prefeito interino Paulinho (PSB), mas que já fazia outra função na pasta na gestão anterior. “Entendemos que temos muitos a avançar ainda e já iniciamos as aulas, desde 5 de fevereiro estamos com todas as escolas funcionando. Desde a educação infantil até os anos finais do ensino fundamental”, relata.

Embora seja parte de uma gestão interina, a secretaria tem falado em projetos para o futuro, como “um projeto piloto de berçário para trazer os bebês para dentro das nossas escolas”, além de "eventuais reformas estruturais nos equipamentos de educação”.

Secretária da Educação de Choró, Ana Flávia de Sousa Lima(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Secretária da Educação de Choró, Ana Flávia de Sousa Lima

A titular da pasta fala sobre a missão recebida, de surpresa, após o prefeito não assumir e ser considerado foragido pela Justiça. “Seguimos esperançosos. As coisas estão acontecendo. Nós assumimos com esse propósito, de não deixar a cidade parar. Sabemos que apesar de qualquer situação, os serviços não podem parar. Estamos na luta diária”.

Ana Flávia cita ainda as dificuldades enfrentadas no início da gestão interina. “Nada parou. Obviamente que no início temos um pouco de entrave, devido a processos licitatórios, mas com muita responsabilidade fazemos com que as coisas caminhem. Outros municípios não iniciaram as aulas e tiveram algumas situações desgastantes como falta de merenda”, cita.

Prefeitura de Choró, onde o prefeito eleito, Bebeto Queiroz, não tomou posse e está foragido(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Prefeitura de Choró, onde o prefeito eleito, Bebeto Queiroz, não tomou posse e está foragido

E continua: “Aqui temos um pouquinho de dificuldade com a questão do transporte escolar. Não é nem que não tenha o transporte, a empresa já ganhou (a concorrência), já estamos com transportes locados e frota própria em funcionamento. São as questões naturais, a chuva atrapalha na estrada, alguns impactos com ônibus porque tem certa dificuldade de locomoção nas estradas do Interior, mas tudo isso a gente tem uma equipe preparada para resolver”.

A secretária relata ainda que o prefeito interino pede comprometimento e responsabilidade e reconhece que, embora o desejo seja superar a ausência do prefeito eleito, o caso “obviamente causa um impacto em todos os cidadãos e na dinâmica local.


 

 

Comerciantes de Choró evitam falar de política para não perder clientes

Na sede do município de Choró, às margens do açude Pompeu Sobrinho, o desejo é de superar o impasse na Prefeitura, embora a sombra da incerteza ainda paire no local. O POVO não conseguiu conversar in loco com os vereadores, porque as sessões da Câmara ocorrem apenas às terças-feiras. Não havia vereadores na Câmara. A equipe também não localizou parlamentares na cidade.

Populares ouvidos pela reportagem toparam dar seus depoimentos, desde que não fossem identificados. Paira ainda uma certa desconfiança e medo de repercussões por conta de falas dissonantes. Um dos moradores disse que uma equipe de TV havia passado recentemente pelo Município para cobrir o caso do prefeito foragido e que a reação da população foi a mesma, poucos falam sobre o caso abertamente.

Açude Pompeu Sobrinho(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Açude Pompeu Sobrinho

Um comerciante falou sobre a situação, reclamou das brigas políticas e do acirramento entre os próprios moradores que, muitas vezes, tem lado definido desde cedo.

"O problema do brasileiro é que ele briga pela política pessoal e não luta para melhorar coletivamente. É pessoal, se não gosta de um lado político, acabou", disse.

Pessoas do comércio citaram ainda a questão econômica influenciada pela veia política: "Essas coisas que aconteceram, a gente acaba pagando o preço. As pessoas pensam: 'Eu gosto do produto da fulana, mas ela está do outro lado (político), então eu não vou lá'. É assim o nosso dia a dia no comércio pequeno. A gente tem que ter cautela, saber o que falar, falar politicamente e não das pessoas".

Igreja matriz do município de Choró(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Igreja matriz do município de Choró

Outra pessoa endossou a fala e mencionou o caso do prefeito eleito: "A liberdade de expressão aqui, a gente não tem. O comerciante pequeno sofre muito. E quando a gente depositou nossa confiança no prefeito (Bebeto), a gente confiou. Quando você tem passado ou amizades que tem que retirar do caminho, automaticamente, alguma coisa respinga".

Um morador falou em tom de apoio ao prefeito eleito, na esperança de que ele assuma o cargo. "Ainda acredito que ele possa fazer alguma coisa. Conhecimento ele tem, contatos que podem vir para ajudar as pessoas. O que precisamos no Choró é de ajuda (...) É uma cidade boa, precisa de uma sacudida. Não dessa que aconteceu, porque está bom já, né?!".

Outra moradora disse que, apesar da ausência, os serviços continuaram. "A política continua, secretarias de saúde e educação estão funcionando, está tudo funcionando".

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Prefeituras do Ceará

Série de reportagens trata de cenários políticos, social e econômico dos municípios do Ceará