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Carne e peixe artificiais estão perto de chegar aos nossos pratos
Reportagem Seriada

Carne e peixe artificiais estão perto de chegar aos nossos pratos

Desde o primeiro hambúrguer "in vitro", criado em 2013 a partir de células-tronco de vaca por um cientista holandês, várias empresas entraram no segmento. Para seus defensores, as carnes e peixes à base de células podem transformar de forma duradoura o sistema de produção, evitando ter que criar e matar animais

Carne e peixe artificiais estão perto de chegar aos nossos pratos

Desde o primeiro hambúrguer "in vitro", criado em 2013 a partir de células-tronco de vaca por um cientista holandês, várias empresas entraram no segmento. Para seus defensores, as carnes e peixes à base de células podem transformar de forma duradoura o sistema de produção, evitando ter que criar e matar animais
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Criar carne a partir de células não é mais ficção científica: um cosmonauta acaba de fazer isso a bordo da Estação Espacial Internacional. E a chegada desses produtos aos supermercados parece ser apenas questão de tempo.

Os testes realizados no espaço em setembro do ano passado permitiram criar tecidos de carne de vaca, coelho e peixe com uma impressora 3D. Essa nova tecnologia poderia "tornar possível as viagens de longa duração e renovar a exploração espacial", por exemplo para Marte, explica Didier Toubia, o chefe da start-up israelense Aleph Farms, que forneceu células para a experiência.

"Mas nosso objetivo é vender carne na Terra", diz. Segundo ele, esses testes permitiram demonstrar que é possível produzir carne longe de qualquer recurso natural quando for necessário. "Nossa meta não é substituir a agricultura tradicional", afirma. "É ser uma alternativa melhor às explorações industriais".

Carne cultivada?

O primeiro hambúrguer "in vitro", criado a partir de células-tronco de vaca por um cientista holandês da Universidade de Maastricht, Mark Post, foi apresentado em 2013.

Várias empresas adentraram nesse setor desde então, mas o custo de produção continua sendo muito alto e nenhum produto está à venda. Sequer está claro o nome que esses produtos terão: carne "de laboratório"?; "artificial"?; "à base de células"?; "cultivada"?

Apesar disso, já foram realizadas degustações e os agentes do setor acreditam que poderão comercializar esses produtos em pequena escala muito em breve. "Não em 4 mil supermercados Walmart nem em todos os McDonald's, mas em um punhado de restaurantes".

Por enquanto, embora se multipliquem as inovações nos laboratórios, o setor tem dificuldade para dominar os processos e as máquinas necessárias para crescer em grande escala.

A chegada aos supermercados com preços acessíveis poderia acontecer em um prazo de cinco a 20 anos, segundo as estimativas.

Para vários observadores serão necessários muito mais investimentos. O setor atraiu 73 milhões de dólares em 2018, segundo o The Good Food Institute, um organismo que promove as alternativas à carne e ao peixe.

Outro obstáculo que esses produtos deverão superar é a regulamentação, que ainda é muito imprecisa em relação a esses novos alimentos.

Rotulagem

Para seus defensores, as carnes e peixes à base de células podem transformar de forma duradoura o sistema de produção, evitando ter que criar e matar animais. Há dúvidas, no entanto, sobre seu verdadeiro impacto ambiental, especialmente em relação ao consumo de energia ou a sua segurança alimentar.

Mas "as oportunidades são enormes", afirma Lou Cooperhouse, diretor da empresa BlueNalu.

"A demanda de peixe em nível mundial nunca foi tão grande", explica. E "temos um problema de abastecimento" devido à sobrepesca, à mudança climática e à incerteza constante sobre o que cairá nas redes.

Sua empresa, criada em 2018, desenvolve uma plataforma tecnológica que pode servir para criar diversos produtos do mar, especialmente filés de peixe sem espinha nem pele.

A literatura científica sobre as células-tronco, o conhecimento biológico e a impressão de tecidos orgânicos já existiam, lembra o diretor tecnológico da BlueNalu, Chris Dammann. "Faltava juntar tudo e otimizá-lo".

O crescimento das proteínas feitas a partir de células animais não parece preocupar muito a agricultura tradicional.

"Temos isso em conta" e "algumas pessoas, por motivos sociais, vão querer comer esse produto", diz Scott Bennett, encarregado das relações com o Congresso no principal sindicato agrícola americano, Farm Bureau. Mas o mercado é amplo e continuará se estendendo com o crescente consumo de proteínas animais nos países em desenvolvimento, aponta.

 
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