Redução do estresse é um dos inúmeros benefícios da prática esportiva. Entretanto, nem mesmo o esporte com toda a sua conexão ao bem-estar está imune ao mal do século. O recorte do cenário do futebol sobre a recorrência do transtorno assusta. Uma pesquisa da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FifPro), de 2015, aponta que 38% de jogadores em atividade - de uma amostra de 607 profissionais - e 35% de ex-futebolistas - de 219 - já sofreram ou ainda sofriam com sintomas de depressão e/ou ansiedade no mundo.
Conforme a organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas sofrem de depressão. Fazendo um paralelo, a amostra do futebol tem uma tendência a apresentar porcentagem bem acima da prevalência de 4,4% da doença na população mundial.
A pesquisa da FifPro aponta que os transtornos de saúde mental têm prevalência maior em jogadores que sofreram três ou mais lesões graves durante a carreira. Apesar dos dados preocupantes colhidos em 2015, o futebol brasileiro se mostra inerte em relação ao assunto após três anos. Em levantamento do O POVO com profissionais da área, apenas cinco clubes dos 20 da Série A do Campeonato Brasileiro têm departamento de psicologia funcionando nas instalações da agremiação esportiva em atuação com o elenco principal. É comum a presença desse setor apenas na base.
"É bem comum (a prevalência da doença). Muitos jogadores não falam"
No Estado, o Fortaleza manteve, de 2016 a 2018, profissionais da área trabalhando diretamente com os atletas do elenco principal. Neste ano, por decisão da comissão técnica, o setor ficou voltado exclusivamente para as categorias de base. A cada temporada pelo menos um jogador do elenco principal apresentou sintomas de depressão, explica a psicóloga do Tricolor do Pici, Liana Benício, sobre o período dos últimos três anos.
A psicóloga conta que o ambiente altamente competitivo traz um peso para a saúde mental dos jogadores, que sofrem com a cobrança e a exposição excessiva à mídia e torcida. "O esporte é agravante. São exigidos 100% o ano inteiro e visto como máquinas, mas são humanos. Menos que 100% não é o suficiente", diz.
Segundo Liana, 80% do ambiente futebolístico ainda tem preconceito em relação ao tema depressão. Por isso, ela ressalta a importância de ter psicólogos dentro dos clubes trabalhando no dia a dia com os atletas. "É bem comum (a prevalência da doença). Muitos jogadores não falam. Os clubes não se preocupam em ter um setor de psicologia. Há um tabu com a saúde mental, falam que é frescura, que não precisa disso. É uma doença séria que, negligenciada, acaba com a vida das pessoas. É alarmante e recorrente."
Com atuação no Tupi Futebol Clube-MG, o psiquiatra clínico e do esporte Hélio Fádel afirma que o ambiente futebolístico é incerto, resultando em profissionais nômades. Segundo o especialista, o cenário é favorável para o surgimento do transtorno de adaptação, fator de risco para quadros depressivos. "O jogador está aqui, depois em outro estado, muda de cidade, de país. Ele pode não elaborar bem essa mudança, o choque cultural, a separação familiar, não falar a língua estrangeira, além da depressão em si. Todos esses fatores vão cursar com sintomas de tristeza", esclarece Hélio.
Para o médico, os clubes de futebol deveriam instituir um Departamento de Saúde Mental, com uma equipe composta por psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e coaches. O setor funcionaria diariamente alinhado aos demais departamentos já existentes.
Como o futebol cearense lida com a depressão
O Fortaleza foi o único clube do Estado com departamento de psicologia implantado no clube para trabalhar com jogadores do profissional e das categorias de base até o fim da temporada de jogos de 2018 . Para o presidente do Tricolor, Marcelo Paz, o esporte trabalha bastante o lado físico e técnico do atleta, mas a parte emocional não pode ser deixada de lado. "Tem que trabalhar o mental também, porque senão o atleta estará desmotivado, menos empenhado. A cabeça não estará focada", afirma o dirigente.
O mandatário do clube do Pici admite que ainda há uma resistência no esporte sobre o assunto. "Não é só no futebol, mas na sociedade toda. É um problema muito grande e não é diferente no esporte. Tem atleta que procura (se cuidar) e acha interessante, mas têm aqueles que acham que é besteira, bobagem e fogem disso", relata.
"Fiquei meio depressivo por várias questões. Quando decidi vir embora esse foi um dos motivos. Estava muito triste, não jogava"
No Ceará, ainda não há setor fixo no clube para atuação no time profissional. Entretanto, em avaliação desde o ano passado, o Alvinegro deve acrescentar um psiquiatra ao Departamento Médico para oferecer o atendimento aos atletas a partir deste mês. "Já houve movimentos e trabalhos eventuais nessa área (em outras temporadas). Isso é importante", comentou o presidente do Vovô, Robinson de Castro.
Um dos destaques do Vovô na temporada 2018, Juninho Quixadá, 33 anos, aprova a ideia da implantação de departamentos de psicologia em clubes de futebol. Após oito anos atuando no futebol europeu, o jogador resolveu voltar para o Brasil após sintomas da depressão. "Eu passei sim por coisa parecida. Fiquei meio depressivo por várias questões. Quando decidi vir embora esse foi um dos motivos. Estava muito triste, não jogava e as coisas não estavam dando certo. Quis tentar recomeçar de novo", disse ele, que está há mais de oito meses sem jogar por conta de uma lesão no quadril.
Quarto maior artilheiro em atividade no futebol, Magno Alves, 43 anos, é ídolo do Ceará e do Fluminense, teve passagens pela seleção brasileira, vestiu a camisa de mais de 20 equipes e, atualmente, está sem clube. Em todos os times que o atacante passou, a presença do setor de psicologia foi algo raro. "Que eu me lembre, creio que uns dois só e olhe lá. São pouquíssimos os clubes que se preocupam com os atletas. Penso no futuro em fazer um trabalho nesse sentido. O empresário quer saber do contrato e o clube quer que (você) renda. Sabemos que o importante são os pés, o corpo, mas tudo depende da cabeça."
De acordo com Marcos Gaúcho, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Ceará (Safece), a instituição nunca foi procurada por jogadores que estavam enfrentando a depressão. Entretanto, Marcos acredita que isso pode ter ocorrido pela falta de informação do próprio atleta e pelo preconceito sobre a doença.
DEPRESSÃO EM ESTUDO
O ex-jogador de futebol e médico Vincent Gouttebarge é o responsável pela condução da reveladora pesquisa da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FifPro). Em entrevista exclusiva ao O POVO via e-mail, o francês fala sobre o estudo e a necessidade de psiquiatras nos clubes para tratar os atletas.
O POVO - É possível identificar qual o país com o maior número de casos de depressão de jogadores?
Vincent Gouttebarge - Não é possível. Eu acredito que não há muita diferença entre os países.
OP - No levantamento da pesquisa, jogadores brasileiros foram ouvidos? Quantos?
Vincent - Não houve nenhum jogador brasileiro envolvido no estudo.
OP - Aqui no Brasil, são raros os clubes que possuem psicólogos, mesmo com números tão elevados de casos de depressão no esporte. Por que você acha que os clubes não têm esse cuidado com os jogadores?
Vincent - Psicólogos em clubes são psicólogos do esporte e não psiquiatras: eles se concentram no aprimoramento das performances e não no lado negativo da saúde mental. Os clubes são mais propensos a ter psicólogos olhando para o lado positivo da saúde mental, a fim de melhorar o desempenho dos jogadores. Do lado negativo da saúde mental, há muito mais a fazer e os psiquiatras devem ter um lugar dentro da equipe médica dos clubes profissionais.
OP - Na Europa, os clubes possuem psicólogos?
Vincent - Alguns clubes, mas principalmente focando em performances.
OP - O que o senhor acredita que é preciso para diminuir o número de jogadores de futebol com depressão?
Vincent - Precisamos falar e ter jogadores que falem livremente sobre seus problemas de saúde mental, pois falariam sobre uma lesão no tendão. Isso é favorável para quebrar o estigma e aumentar a conscientização. Esse é um primeiro passo. Em segundo lugar, precisamos ter equipe médica interdisciplinar com psiquiatras (ou psicólogos clínicos). Terceiro, precisamos capacitar as habilidades de enfrentamento dos jogadores para que eles sejam capazes de lidar de maneira ideal com os estressores que ocorrem na vida.
CUIDADOS COM O ESPORTE OLÍMPICO
Psicólogos do COB fazem um acompanhamento dos principais nomes do esporte olímpico brasileiro. Além da performance, trabalho foca na saúde mental do atleta
Medalhar em uma edição de Olimpíada é o ponto máximo da carreira de um atleta olímpico. A trajetória do esportista é cercada de cobranças por resultados em um ambiente de alta competitividade, assim como no futebol, que podem desencadear em problemas psicológicos.
Visando a saúde mental, o bem-estar e a performance dos atletas, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) possui um serviço de preparação que acompanha os principais nomes das modalidades olímpicas. "O atleta é uma pessoa e também é acometido pela depressão, não é diferente da população. O ambiente do esporte é repleto de facilitadores para desordens psicológicas. Ainda existe o imaginário de que atleta é herói, semideus", diz a coordenadora da ação do COB, a psicóloga Aline Wolf.
Segundo a profissional, reuniões periódicas são realizadas com os psicólogos particulares dos atletas para o planejamento de estratégias e o fortalecimento da relação no processo de acompanhamento do tratamento. Aline explica que o trabalho vai além da preparação mental focada na performance, mas também na saúde psicológica do esportista.
Para a psicóloga do COB, há bastante desinformação sobre o tema depressão no esporte. "Tem muita psicofobia. Associam a doença a fraqueza, o que não é uma verdade absoluta, é uma condição clínica que tem tratamento e o atleta consegue atuar normalmente", analisa.
Apesar disso, Aline tem uma visão otimista sobre o tratamento dos atletas, de que o ambiente de preconceito passa a dar lugar para iniciativas relevantes. Entre os exemplos citados por ela, estão as medidas educativas do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da NBA (liga norte-americana de basquete) com orientações para o tratamento e a prevenção de transtornos mentais. "Está sendo mais discutido, o que é muito positivo. Estão crescendo essas ações. Ainda é preciso quebrar o paradigma de que o atleta é intocável."
O COB desenvolve também o Programa de Carreiras do Atleta (PCA), do Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), que visa a capacitação na transição de carreira. O presidente da Comissão de Atletas do COB, o ex-judoca medalhista olímpico Tiago Camilo destaca a inciativa, mas vê a necessidade de avanço sobre o tema depressão no esporte e da criação de programas que auxiliem melhor o esportista.
Enquanto atleta, Tiago conta que nunca sofreu qualquer tipo de distúrbio. Por outro lado, o ex-judoca diz ter tomado conhecimento de "vários casos dentro e fora do Brasil". "Nunca sofri com problemas de depressão, sempre tive minha família por perto oferecendo uma estrutura para cuidar de tudo. Infelizmente, muitos não têm essa estrutura e acabam passando por isso."
De acordo com ele, a Comissão vai incluir o tema entre as suas pautas, relacionado ao programa de "destreinamento" para o encerramento de carreira competitiva.
"EU NÃO QUERIA MORRER, MAS MATAR A DOR"
Joanna Maranhão, 32, sofreu na pele a pressão de ser desde jovem uma atleta de alta performance. No início da carreira, conquistou o melhor desempenho do Brasil na natação feminina em uma Olimpíada, que perdura até hoje. O recorde estabelecido pela pernambucana ocorreu em 2004, quando ela era uma adolescente de 17 anos. Na infância, a ex-nadadora foi abusada sexualmente por um treinador. Os traumas do passado mesclado com a intensidade da rotina no esporte resultaram em quadros depressivos até a tentativa de suicídio.
Em entrevista exclusiva ao O POVO, Joanna fala abertamente sobre a depressão no esporte, a importância de se discutir o tema e o enfrentamento da doença.
O POVO - Quando, de fato, você passou a conviver com a depressão? Qual foi a época mais profunda da doença?
Joanna Maranhão - Fui diagnosticada com depressão depois dos 17 anos. Mas já vinha fazendo terapia por estar demonstrando alguns sinais de que alguma coisa não estava legal. Na minha família, minha mãe não sabia direito se era adolescência, pressão pela natação, mas definitivamente tinha alguma coisa que não estava legal. A época mais profunda da doença, eu considero do meio do ano de 2005 e o ano de 2006. Foi quando eu enfrentei, de fato, e muito fortemente a terapia, sem fuga. Foi o primeiro mergulho interior na minha própria história, de relembrar tudo. Inclusive, tive que tomar remédios mais fortes, até calmantes, porque tinha algumas crises dentro de casa mesmo. Foi bem tenso.
OP - Como a depressão se desenvolveu em você? Quais tipos de sintomas você tinha?
Joanna - Primeiro, comecei a rejeitar todos os sinais de puberdade. Não queria que meus seios crescessem, não queria menstruar, ser reconhecida como menina. Nada que tivesse ligado à feminilidade, brinco, cortei cabelo curto, usava roupa folgada. Passei a questionar muito meu antigo treinador, que não era mais o mesmo. Já era adolescente e questionava muito ele. Ele e toda a imagem de homem. Questionava e não confiava. Tive muito medo, quando tinha dez anos, de ficar sozinha no quarto. Não ficava de maneira nenhuma. Tinha que ficar alguma pessoa até dormir e, de preferência, sair só no outro dia. Desenvolvi a síncope vasovagal, o desmaio súbito, quando estou sobre situação de muito estresse e muita euforia. Quadros de oscilação de muita euforia e depressão crônica a ponto de desistir da minha rotina, ficando em casa.
O POVO - O que você acha que lhe levou a entrar num quadro de depressão?
Joanna - Acredito que tenha o fator genético. Já foi comprovado que é uma coisa que tem reincidência. A história do meu passado, não ela em si, mas o enfrentamento tardio dela, de só ter verbalizado aos 18 anos em terapia. Tinha muita coisa guardada. Junta isso aos abusos que ocorreram no mesmo ambiente onde sempre trabalhei, numa piscina, misturado com a pressão. Aos 17, tinha sido 5º lugar do mundo (Jogos Olímpicos - 2004). Todo mundo estava me dando estrutura e esperando resultados. Esse conjunto de fatores culminou para que eu entrasse em um quadro depressivo.
OP - Por que você resolveu falar publicamente sobre o assunto?
Joanna - Foi um processo natural que se iniciou na terapia com 18 anos. Comecei a verbalizar e ampliei esse ciclo de me libertar dessa culpa. Foi se tornando de certa maneira natural falar sobre isso. Em 2007, já tinha chegado a falar para a seleção de natação, pessoas do meu ciclo sabiam o que estava acontecendo. Em 2008, uma repórter me perguntou o que tinha acontecido comigo para eu ter tido uma queda de rendimento. Eu estava muito pra baixo. Contei a história e ela perguntou se poderia publicar. Eu disse que podia. E veio a público através dessa entrevista. Eu não fazia a menor ideia que tomaria a proporção que tomou.
OP - Qual importância de discutir o tema?
Joanna - Falar sobre abuso na infância (faz) a gente tratar de relação de poder e machismo estrutural. Falar sobre emancipação das crianças para desenvolvimento do sexo sadio, de saúde pública. Pessoas feridas ferem. Repito isso o tempo inteiro. Feri muita gente ao longo dos anos por conta dessa dor que tinha dentro de mim. Então é importante que se rompa com esse ciclo vicioso e se debata esse assunto muitas e muitas vezes para que as pessoas compreendam a diferenciação dos temas. O que é criminalizado no Brasil, o que não é, onde acontecem mais. É de extrema importância para combater o crime que se alimenta de silêncio e sombra.
OP - O que lhe fez superar duas tentativas de suicídio?
Joanna - As vezes que tentei suicídio, eu não queria morrer, mas matar a dor. Habitar em mim era muito doloroso, não conseguia lidar com o fato de ser a Joanna. Tive pessoas me dando suporte nas duas vezes, pedi ajuda, tomava remédio. Uma das vezes precisei ir ao hospital. De alguma maneira, senti uma faísca de esperança de que merecia viver com equilíbrio e que existia alguma coisa do outro lado desse processo tão doloroso que eu estava passando e queria saber o que tinha do outro lado.
OP - Hoje você se sente recuperada da depressão?
Joanna - Aprendi a lidar com a depressão. Não tenho mais vergonha. Tenho essa doença e, eventualmente, vão vir gatilhos e situações que vão me colocar nesse lugar de novo, mas ele não é mais novo pra mim. Em 2018, eu não usava remédio, tinha tido alta, mas fiquei grávida e perdi. Sozinha, sem medicamento e sem terapia, não estava conseguindo me recuperar daquele lugar de dor profunda. Voltei por um tempo com dosagem menor e, mais uma vez, estou tentando ficar sem remédio, mas sempre com acompanhamento, tomando muito cuidado.
O RISCO DA DEPRESSÃO NOS ESPORTES INDIVIDUAIS
Estudos apontam para prevalência maior da doença em esportes individuais. Mulheres são mais atingidas
A depressão está presente no universo esportivo como um todo. Entretanto, pesquisas indicam que os esportes individuais tenham uma prevalência considerável da doença. Entre os gatilhos para desencadear o distúrbio, estão as dificuldades enfrentadas por estes esportistas como os contratempos para firmar patrocínios e a perspectiva solitária de atuação, além do ambiente comum nas demais modalidades: pressão por resultado e alta competitividade. Os transtornos mentais costumam surgir no final da adolescência e início da fase adulta.
"Sobre o esporte de alto rendimento, têm vertentes que acreditam que não é saudável, e eu sou uma delas", diz o psiquiatra Hélio Fádel, que também é co-autor e tradutor do livro Psiquiatria do Esporte, feito em parceria com o psiquiatra norte-americano David McDuff.
Entre as modalidades individuais, o atletismo possui dados alarmantes. Um estudo de três anos realizado com 465 atletas da Division I College apontou que 23,7% relataram sintomas importantes do mal do século (Wolanin, Hong, Marks, Panchoo, & Gross, 2016).
No caso das mulheres corredoras, elas apresentam risco maior de desenvolver depressão do que os homens, assim como na população geral.
"Acho que a depressão deveria ser um tema mais abordado nos esportes. Na maioria das vezes, o atleta não consegue observar os sintomas ou não quer falar por sentir vergonha"
Segundo o psiquiatra, há pesquisas que também apontam para uma prevalência de transtornos alimentares, considerados fatores de risco para a depressão, em esportes onde o corpo está em maior evidência, como o atletismo, o halterofilismo, a natação e a ginástica artística. Neste cenário, as mulheres são as principais atingidas.
Recordista sul-americana dos 200m rasos e finalista do último Mundial, em Londres, a velocista cearense Ana Cláudia Lemos, 30, vivenciou a depressão no final de 2017. Para ela, a doença está relacionada com a vida do atleta. "Principalmente quando se está passando por dificuldades, como lesão, perda de patrocínio, não atingir o resultado esperado. Isso tudo gera ansiedade e cobrança por resultados", comentou.
Ao perceber os sintomas da depressão, Ana procurou um médico e iniciou tratamento com medicação. "Tenho psicóloga até hoje. Consigo ligar com situações difíceis de uma forma muito mais fácil. Acho que a depressão deveria ser um tema mais abordado nos esportes. Na maioria das vezes, o atleta não consegue observar os sintomas ou não quer falar por sentir vergonha", contou.
Top-3 mundial do salto triplo, Núbia Soares, 23, passou por uma crise após se mudar para o exterior, em março do ano passado, para intensificar os seus treinos. "Cheguei a ter crises de estresse pela mudança repentina. Os três primeiros meses foram legais, mas no quarto, mesmo tendo ótimos resultados no esporte, eu sentia muita falta do Brasil e tive uma crise. Porém, superei bem. Não tinha muita escolha."