A Adelophryne maranguapensis, mais conhecida como Sapinho do Maranguape, é uma espécie minúscula, pouco pesquisada e que vive exclusivamente na Serra de Maranguape. Com o avanço do desmatamento na região, a existência do sapinho está comprometida. Pesquisadores do Pará e da Universidade Federal do Ceará (UFC) realizaram expedição para fazer fotos da espécie e alertar sobre o crescente risco do seu desaparecimento.
Pedro Peloso, diretor do projeto Documenting Threatened Species (Dots), que busca documentar espécies em ameaça de extinção no Brasil, explica que, por morarem em um espaço restrito, os sapinhos já não existem em grandes números. No entanto, o desmatamento e a alteração do ambiente no pé da serra são fatores agravantes. “Com os cortes, a mata fica mais seca e prejudica a qualidade do habitat dos animais”, afirma.
O também professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) realizou a expedição na Serra de Maranguape em julho de 2019 para registrar imagens do maranguapensis e reunir informações sobre a situação do ambiente em que a espécie está inserida. O estudo foi feito em parceria com o Núcleo Regional de Ofiologia da UFC (Nurof), com a presença da bióloga Castiele Holanda Bezerra. “Vejo essa falta de preservação como um perigo. A serra serve de refúgio para esses animais. Degradar esse ambiente é tirar o direito deles de existir”, diz Castiele.
Além do Sapinho do Maranguape, duas espécies de lagartos que estão ameaçados de extinção foram registradas pela equipe: o Leposoma baturitensis e o Placosoma limaverdorum.“Temos uma tendência a querer preservar e conservar coisas que a gente conhece bem. Para anfíbios, geralmente não prestam muita atenção. Muita gente nem sabe que existem esses animais na Serra de Maranguape”, lamenta Pedro. O baturitensis existe em outras áreas de Mata Atlântica no Ceará e foi descoberto em 1997, mas também está sofrendo com as mudanças do meio ambiente.
O SAPINHO DE MARANGUAPE
Pesquisador que estuda o Adelophryne maranguapensis há 23 anos, Daniel Cassiano Lima, relatou ao O POVO Online que ainda se sabe pouco sobre o sapinho. O animal tem no máximo dois centímetros de comprimento e vive majoritariamente no chão da mata. Outro local que pode ser encontrado é nas bromélias. São nessas flores que põe seus ovos. Os filhotes não nascem como girinos, mas já formados com as quatro pernas.
Segundo Daniel, a espécie já é ameaçada desde os anos 2000. No entanto, recentemente ela passou a ser considerada criticamente ameaçada, em vez de somente vulnerável à extinção. O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e colaborador do Nurof diz que, mesmo que o sapinho seja encontrado a partir de 890 metros de altitude, já sofre o impacto da ação humana. “Retiram musgos, bromélias, que é onde ele se reproduz, fazem clareiras para acampar, jogam lixo. Isso está prejudicando bastante a sobrevivência”, relata.
AMEAÇA
No Brasil, pelo menos 41 espécies de anfíbios, que engloba sapos, salamandras e cecílias, são consideradas como ameaçadas de extinção. Por meio do projeto Dots, Pedro Peloso busca identificá-las e catalogá-las, bem como buscar maneiras para evitar o desaparecimento delas. Dots é financiado pelo Fresno Chaffee Zoo, a Universidade do Alabama (EUA), e o Instituto Boitatá.
*Fotos do pesquisador Pedro Peloso