O advogado Aldemir Pessoa Júnior se defende da acusação de feminicídio, volta a afirmar que a sua namorada, a empresária Jamile de Oliveira Correia, cometeu suicídio e se diz injustiçado. Em entrevista a O POVO na noite desta sexta-feira, 20, ele rebateu as principais teses levantadas pela Polícia Civil e pelos advogados da família de Jamile. “Onde eu errei foi em ter me preocupado mais com o bem-estar do filho dela e com a saúde dela e não ter tido a frieza de raciocinar e chamar a Polícia e Perícia”, afirma. “Tenho a consciência tranquila”.
Ele diz que não tinha motivos para matar Jamile. Também cita que testemunha ocular, "nas três vezes em que foi ouvida", não o viu com arma nas mãos nem atirando. Além disso, destaca que, no Instituto Dr. José Frota (IJF), enquanto recebia atendimento, Jamile confirmou que atirou contra si.
Conforme a versão do advogado, desde o domingo anterior à morte de Jamile (25 de agosto), os dois vinham tendo desentendimentos por causa do “ciúmes” dela. “Ela achava que nós iríamos acabar”. Aldemir conta que, na noite em que ocorreu o caso, 30 de agosto, quando voltavam de carro para casa, Jamile bateu na porta do carro — no momento em que, repentinamente, desceu do veículo em movimento. Isso explicaria a lesão que ela apresentava no supercílio, flagrada na câmara de vigilância do prédio onde moravam.
Conforme Aldemir, Jamile também confirmou a versão para o machucado no IJF. Ele narra que chegou a dizer para a namorada procurar atendimento médico, o que ela recusou. Então, Aldemir foi, ainda no carro, a um posto de gasolina comprar gelo. Durante esse trajeto, Jamile teria descido “repentinamente”, ido em direção a um prédio que fica ao lado do posto e dito: “agora, eu sei como é que eu vou resolver isso”. “Eu tive a impressão, da forma como ela falou, que ela iria pegar a chave que fica na portaria e iria subir e saltar”.
Na sequência, conforme conta, ele conseguiu fazer com que Jamile voltasse ao carro. É nesse momento que câmeras de vigilância registraram movimentos de Aldemir que dão a entender que ele estava batendo nela — o que o advogado nega. “Eu não estava agredindo-a. Eu estava pegando nela e dizendo ‘como é que você faz um negócio desse?’”.
Quando eles chegaram ao apartamento, Jamile teria subido “repentinamente”, o que fez com que Aldemir corresse atrás dela — o que também foi registrado nas câmeras. “Fizeram a leitura que eu estava brigando com ela”. As imagens mostram Jamile entrando no elevador, que Aldemir não consegue pegar. Ele diz que subiu por um outro elevador e, ao chegar no apartamento, encontrou a porta aberta, tendo então gritado para o filho de Jamile, perguntando por ela.
Já no apartamento, Aldemir diz que chegou a sentar Jamile no banco para botar gelo no machucado, o que ela também negou, “por estar muito aborrecida e transtornada”. Depois, ela foi ao closet. Aldemir perguntou onde estava a arma de fogo, de sua propriedade, mas que seria de responsabilidade dela guardar. Jamile teria dito que a arma estava fora do closet. “Quando eu saí para ir atrás da arma, ela trancou a porta de uma vez”. Ao escutar o barulho da tranca, Aldemir diz que voltou e arrombou a porta.
É o momento em que Aldemir conta ter visto Jamile com a arma engatilhada e apontada para o peito. O filho dela teria, então, tentado agarrar o braço dela, assim como Aldemir teria puxado o seu cabelo e houve o disparo. Essa interferência do adolescente e de Aldemir explicaria, conforme diz, a trajetória do tiro, que conforme a Perícia, foi dado de cima para baixo e de uma posição não condizente com uma pessoa canhota, como era Jamile. Além disso, ela teria atirado com o polegar. “A sequência disso, eu não sei, eu não lembro”.
Episódios ocorridos após a internação de Jamile também levantaram suspeita. Aldemir teria demorado a comunicar a família — somente o fez na tarde do dia 31. Durante esse período, ele ainda teria trocado mensagens no celular de Jamile como se fosse ela. Além disso, ainda teria descaracterizado a cena do disparo. Todas as acusações são rebatidas por Aldemir.
Conforme conta, o filho de Jamile teria ficado com o celular e, quando clientes de Jamile ligaram para ela, ele resolveu as questões. Com relação à demora, Aldemir cita que Jamile tinha dificuldades com os parentes, motivo que fez com que ele até não os conhecesse. Ao voltar ao IJF — Aldemir chegou a ir ao apartamento após Jamile ser internada — e saber que o caso era grave, aí sim, houve a comunicação, para uma tia de Jamile, já pela tarde. Além disso, Aldemir conta apenas ter passado pano em algumas gotas de sangue que ficaram no apartamento. “Não teve sangue. O sangramento foi completamente interno”.
Outra acusação contra si que Aldemir rebate é de que era violento no relacionamento. Para além de “coisas normais de casal”, nunca houve episódios de violência entre os dois. “Nos dávamos muito bem”. Conforme ele, caso contrário, Jamile não teria voltado para o carro nem teria permitido, já no IJF, que ele continuasse perto do filho. Sobre uma procuração que daria a Aldemir poder sobre os bens de Jamile, o suspeito rebate, destacando que a conheceu como advogado. A procuração diria respeito somente à sua atuação profissional e cessou seus efeitos após a morte de Jamile. Por fim, Aldemir nega ter limpado a arma do disparo que vitimou Jamile.
“Gostaria que a sociedade aguardasse o processo para não ser feito injustiça, porque eu também tenho família. Eu me solidarizo e sofro com a perda da Jamile, com o meu enteado, quem eu quero muito bem. Respeito a dor da família. Tenho a minha dor. Estou sentindo outra dor muito grande, porque eu tenho meus pais vivos, tenho irmãos, amigos, colegas de trabalho, filhos. Não podemos julgar alguém só por julgar”.