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Famoso por comédias como "Cine Holliúdy", cearense Halder Gomes estreia na direção de um drama
Reportagem Especial

Famoso por comédias como "Cine Holliúdy", cearense Halder Gomes estreia na direção de um drama

"Vermelho Monet", o longa que começa a filmar em Portugal, é a realização de um antigo projeto. Nesta entrevista exclusiva, Halder apresenta o filme e fala sobre o novo desafio

Famoso por comédias como "Cine Holliúdy", cearense Halder Gomes estreia na direção de um drama

"Vermelho Monet", o longa que começa a filmar em Portugal, é a realização de um antigo projeto. Nesta entrevista exclusiva, Halder apresenta o filme e fala sobre o novo desafio
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Johannes Van Almeida (Chico Diaz) é um pintor de mulheres sem aceitação no mercado; um artista obsoleto. Com a visão deteriorada e à beira de um colapso nervoso, encontra em Florence Lizz (Samantha Heck Müller), uma atriz em crise diante do seu filme mais desafiador, a inspiração para realizar sua obra prima. Antoinette (Maria Fernanda Cândido) é uma influente marchand que fareja o valor de obras de arte quando histórias de inspiração viram obsessão entre pintores e modelos.

Esta é a sinopse de Vermelho Monet, mais novo filme do cineasta cearense Halder Gomes. Famoso por dirigir comédias, como Cine Holliúdy (os dois filmes e a série de TV), O Shaolin do Sertão 1 e 2 e Os Parças, Halder enfrenta agora o desafio de realizar um drama, em grande estilo. Mais que isso, realiza o sonho de unir duas de suas grandes paixões: o cinema e as artes plásticas. Pouca gente sabe, mas Halder pinta desde criança e há décadas é um consumidor compulsivo de livros sobre História da Arte.

O curioso é que ele já havia feito essa proeza com suas duas outras paixões: O Fortaleza Esporte Clube (Loucos de Futebol) e as artes marciais (Sunland Heat – No Calor da Terra do Sol e os dois Shaolin, claro).

Diretamente de Lisboa, em Portugal, onde o filme está sendo rodado, Halder falou com exclusividade ao O POVO Online. Na entrevista, o cineasta revela como nasceu a ideia do projeto, a preparação para o roteiro (que também leva sua assinatura, assim como o argumento), como se deu a escolha do elenco principal e o que significa essa guinada estética em sua carreira. O POVO Online traz também com exclusividade uma foto-galeria com quadros pintados por Halder e outra com os testes de luz e maquiagem.

O POVO – Como você define Vermelho Monet?

Halder Gomes – É uma história que transita pelo paradoxo da relação da finitude do artista e a permanência da sua obra.

OP – Como surgiu a ideia desta história?

Halder – Este filme surgiu no inconsciente na mesma época em que Cine Holliúdy se formou no meu imaginário, na infância, no interior, na década de 1970. Adorava folhear enciclopédias e sempre me encantava com as imagens das pinturas clássicas que mais pareciam fotos. Desde então a pintura nunca mais saiu do meu imaginário e cotidiano. Pirava nos livros de história e não me saía da cabeça que tudo que o ser humano conhece visualmente da idade da pedra à popularização da fotografia, vem da retratação dos artistas. São milhares de anos representados por estas visões. É algo incrível de se pensar. E isso era o que mais me intrigava. Como desenho e pinto desde criança - e é o que mais gosto de fazer na vida -, o desejo de falar desse universo foi crescendo até o ponto de se tornar inevitável.

Halder Gomes, cineasta
Halder Gomes, cineasta

OP – Em que momento da produção se encontra o projeto?

Halder – Começamos a filmar nesta segunda-feira (23). É um projeto que passou anos “latente”, até que Mayra Lucas, a produtora, leu o roteiro e viu ali uma história potente, de pulsante autoralidade, que precisava ir às telas. Estamos filmando agora em Lisboa, mas também teremos sequências filmadas em Paris (França) e Londres (Inglaterra).

OP – O filme tem atores consagrados como Chico Diaz e Maria Fernanda Cândido. Como foi a escalação do elenco?

Halder – Foi um elenco desafiador, pois procurava um ator que também fosse pintor; e o Chico Diaz, além de um grande ator que todos conhecemos, é um exímio artista plástico. Era preciso conhecer a sensação de pintar com o desejo que os grandes pintores faziam. O filme traz também uma atriz estreante, Samantha Heck Müller. Foi uma grande pesquisa da produtora de elenco (Alê Tosi), onde, através de vários testes, encontramos a atriz com o perfil específico: ruiva natural, olhos verdes, sardas, pele cor de leite. É um ponto estético crucial no filme, portanto não poderia desistir ou tentar caracterizar. Insistimos até os 47 minutos do segundo tempo. E nesse processo de casting, Maria Fernanda Cândido leu o roteiro e ficou encantada. Eu estava em Lisboa vendo locações, e ela voou de Paris até lá para falarmos mais sobre o projeto; é num momento como este que passamos a ter noção do potência da história que escrevemos. São personagens complexos e desafiadores para qualquer ator/atriz. Além do elenco brasileiro, teremos também atores de Portugal, Angola e Cabo Verde.

Samantha Heck Müller, atriz
Samantha Heck Müller, atriz

OP – Você fez alguma preparação especial para escrever o roteiro?

Halder – É uma pesquisa ao longo da vida mesmo. Além de pintar desde criança, leio compulsivamente sobre pintores, pinturas, mercado de artes, etc. Vejo milhares de quadros por ano em visitas a dezenas de museus. É o que mais faço e onde passo a maior parte do meu tempo. Vou para lugares onde viveram pintores que me interessam para estudar a luz do local e entender o que eles viram e o que os inspiraram. Ano passado passei o réveillon absolutamente só – não havia um ser vivo nas ruas da cidade -, em Auvers Sur Oise (França), diante da igreja em que Van Gogh pintou em seus últimos dias. Já fui três vezes em Deflt (Holanda), a cidade de Johannes Vermeer. Um dos últimos tratamentos do roteiro me dei ao luxo de escrever nos cafés parisienses – em Montmartre e Montparnasse -, nas mesmas mesas onde estiveram Picasso, Modigliani, Suzanne Valladon, Soutine, Monet, Peggy Guggenhein, Gertrude Stein etc... São quase 10 anos maturando a história.

OP – Vermelho Monet é uma mudança radical em sua carreira. Pela primeira vez você dirige um projeto que é um drama, um estilo bem diferente dos trabalhos que o consagraram. Por que esta mudança?

Halder – Sim, é uma grande virada narrativa e estética; mas é um universo de grande zona de confiança, pois sob o aspecto artístico o mundo da pintura é minha grande paixão. Quanto a narrativa, nossas vidas em si não são apenas comédia; todos nós lidamos com o riso e a tragédia no cotidiano. A experiência do ofício de realizador nos dá o conhecimento para poder transitar por gêneros e estilos. Algo como um pintor que muda de fase e paleta, mas as tintas são as mesmas. É uma pequena pausa entre os filmes que costumo fazer. Pretendo encaixar mais filmes deste universo dentre os filmes mais comerciais.

OP – Como o filme foi viabilizado financeiramente?

Halder – É uma composição de Lei do Audiovisual, Fundo Setorial, recursos próprios e “tax rebates” de Portugal – co-realização Brasil/Portugal. No Brasil será distribuído pela Pandora Filmes.

Halder Gomes, cineasta
Halder Gomes, cineasta

OP – Quais suas expectativas para Vermelho Monet?

Halder – A maior expectativa é alcançar o desafio que impus no roteiro. É conseguir ver na tela o filme que se passa na minha cabeça, poder fazer o espectador vivenciar as experiências sensoriais e emocionais que o filme propõe. Se conseguir, sei que será um filme que poderá abrir novas possibilidades para falar mais desse mundo da pintura que tanto me fascina. Quanto ao mercado, é um filme que talvez se posicione no circuito dos filmes de arte; embora eu creio que tem amplo diálogo com um universo mais diversificado.

Veja galeria com quadros pintados por Halder Gomes:

Clique na imagem para abrir a galeria

Veja galeria com imagens dos testes de maquiagem e luz do filme:

Clique na imagem para abrir a galeria

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