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Maior onda de ataques registrada no Ceará completa um ano. Sistema prisional teve mudanças
Reportagem Especial

Maior onda de ataques registrada no Ceará completa um ano. Sistema prisional teve mudanças

Relembre as motivações, números, estatísticas, principais informações dos episódios, além de análise sobre o que mudou no sistema prisional ao longo deste ano

Maior onda de ataques registrada no Ceará completa um ano. Sistema prisional teve mudanças

Relembre as motivações, números, estatísticas, principais informações dos episódios, além de análise sobre o que mudou no sistema prisional ao longo deste ano
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Nesta quinta-feira, 2, completa-se um ano do início dos ataques registrados em janeiro de 2018, série de atentados que se consolidou como a maior da história do Estado. Relembre as motivações, números, estatísticas, principais informações sobre os episódios, além de análise sobre o que mudou na segurança pública ao longo deste ano.

Os ataques tiveram início na noite de quarta-feira, 2 de janeiro de 2018, e se estenderam pela madrugada de quinta-feira, 3, em diversos pontos de Fortaleza e no Interior. Em matéria publicada na manhã do dia 3, pelo menos 24 ações criminosas foram registradas em 24 horas.

O primeiro ataque registrado mostrava uma tendência desta onda de atentados. Um ônibus foi incendiado às 23h22min no bairro Edson Queiroz, já que os principais alvos dos criminosos eram equipamentos públicos ou de uso da maioria da população. Além dos coletivos, foram atacados também um viaduto na BR-020, em Caucaia, câmeras de videomonitoramento, fotossensores, semáforos, agência bancária, posto de combustível e o pátio do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) de Horizonte, tudo isso nas primeiras 24 horas.

Veja um mapa interativo que mostra alguns dos ataques iniciais registrados na Região Metropolitana de Fortaleza

Neste primeiro momento, já se especulava que os crimes tinham sido motivados pela criação da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e a fala de seu gestor, Luís Mauro Albuquerque, que afirmou não reconhecer facções criminosas, além de não acreditar na divisão de presos de organizações criminosas rivais em presídios diferentes. As afirmações foram feitas durante a cerimônia de posse do secretário, no dia 1º de janeiro, um dia antes do início dos ataques.

Já na quinta-feira, 3, o governador Camilo Santana (PT) oficializou pedido para que agentes da Força Nacional reforçassem a segurança pública do Estado. Após autorização do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, as tropas começaram a chegar no dia seguinte, dia 4. Cerca de 300 homens e 30 viaturas vieram ao Ceará para compor apoio à Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), ao Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e às forças policiais estaduais.

Em resposta aos ataques, Mauro Albuquerque ordenou que todas as unidades penitenciárias do Estado deveriam passar por uma "limpeza" para evitar que os presos ficassem atualizados da atuação da polícia durante o combate às ações criminosas. Ele solicitou que fossem retiradas de todas as celas televisões, rádios e qualquer meio de comunicação que possa facilitar a informação aos presos sobre as ações realizadas para cessar a onda de ataques.

Os impactos dos ataques na vida dos cearenses foi imediato e expressivo. Com os constantes atentados aos veículos do transporte público, as frotas passaram a operar com um menor número de veículos, alguns itinerários mudaram e muitos passaram a circular sob escolta policial. O plano de contingência também fez com que os coletivos passassem a transitar apenas por avenidas principais, diminuindo as alternativas de rotas.

No total, 466 suspeitos foram capturados por envolvimento com os ataques
No total, 466 suspeitos foram capturados por envolvimento com os ataques (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)

Mesmo com as medidas de segurança, os ataques aos ônibus continuaram acontecendo com intensidade. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) precisou implantar, então, uma operação emergencial reduzida, similar à operação de corujão. Da frota normal, que contava com 1.810 ônibus urbanos e 350 metropolitanos, apenas 32 urbanos e quatro, metropolitanos circulavam na sexta-feira, 4, cada um deles com três policiais a bordo.

Os atentados se estenderam durante todo o mês de janeiro, mas sua intensidade foi perdendo força. As capturas de suspeitos, alguns em flagrante, parecia diminuir a frequência dos atos criminosos. Sem cessar completamente, a atuação das facções criminosas continuou a comprometer a normalidade da vida do cearense. A onda de violência paralisou comércio, transporte e serviços públicos, fóruns trabalhistas e a coleta de lixo.

Os ataques duraram, pelo menos, até o dia 4 de fevereiro, mesmo que alguns dias não tenham registrado nenhuma ação. No total, foram contabilizados mais de 200 ataques promovidos em cerca de 40 dos 184 municípios cearenses. Foram 466 pessoas presas por suspeita de envolvimento com os ataques - desses, 148 eram adolescentes, o que corresponde a 31%.

Mudanças no sistema prisional após ataques

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As principais e mais duradouras mudanças causadas pelos ataques concentram-se no sistema prisional cearense. Ao final do mês de abril, 98 cadeias públicas consideradas vulneráveis foram fechadas e quase 3.500 celulares foram apreendidos, diminuindo o poder de articulação das facções. Em agosto, o número de celulares apreendidos saltou para 5.859.

Ainda em agosto, o secretário Mauro Albuquerque afirmou ter modificado a metodologia de tratamento dos agentes penitenciários. “Pessoal tá trabalhando, tá rendendo, tá mostrando serviço, tá combatendo o crime, tá realizando apreensão, nada mais justo do que valorizar esses servidores”. Mauro relatou também que a fiscalização das prisões continuava intensa desde o início do ano, quando ele tomou posse do cargo.

As mudanças realizadas pela gestão de Mauro Albuquerque alcançaram também as regras de visitação de familiares de presos. No começo de janeiro, quando acontecia a onda de ataques criminosos, as visitas foram suspensas em diversas unidades prisionais. No entanto, Mauro garante que desde março as visitas foram restituídas, mas com algumas especificações.

Entre as mudanças, estão a proibição da entrada de alimentos, as visitas passaram a ser feitas em ambientes diferentes e os parentes não são mais autorizados a irem até as celas; visitas íntimas também não são mais permitidas já que, segundo Albuquerque, eram uma regalia.

Conforme dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), o número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) de janeiro a outubro de 2019 teve queda de 52,2% em relação ao mesmo período de 2018. Em outubro, Fortaleza chegou ao 20º mês seguido de diminuição do índice.

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