Ser transgênero, por si só, é um desafio. Ser incansavelmente desafiado socialmente e juridicamente não protegido, é a dose diária da militância existencial de ser trans. Nascer dissociado do corpo dado biologicamente impacta todo o sistema binário, desconsiderando quem é mais do que apenas homem ou mulher. Ser trans significa, para além de qualquer passo em busca da sua identidade de gênero, lutar pela radicalidade da igualdade em todos os espaços, públicos ou privados.

Embora o direito brasileiro tenha iniciativas inovadoras, a dificuldade de implementação dessas normas tem um forte componente social. Logo, a preocupação maior está no não cumprimento das regras conquistadas, a ferro e a sangue – muito sangue. Educação se faz com política pública de acesso e não cancelamento de edital de universidade pública. Trabalho se oferta a partir de incentivo às empresas na contratação e não boicote ao empresariado. Uso de espaços públicos se faz por intermédio de banheiros plurais que aceitem todos os gêneros.

Existir vem da possibilidade também das intervenções no corpo para se sentir completo com suporte medicamentoso, psíquico e cirúrgico, subsidiado pelo SUS. Garantir o nome social ou registral está no respeito pela alcunha adotada e/ou na agilidade do trâmite de retificação que agora se dá apenas em cartório para modificação dos documentos oficiais, conforme rito do Provimento 73/2018 do Conselho Nacional de Justiça.

No entanto, já é hora de querermos mais! E, agora falo de mim, do meu caminhar, que me trouxe um momento ímpar: ter a minha família. Nós temos direito a essa faceta da vida. Há afeto e amor para pessoas trans. Por isso, publicamente, venho pedir a você, minha sina, minha linda Carolina, casa comigo? Concede-me a honra de te fazer feliz pelo resto da vida? Eu te amo e é incrível poder viver esse amor na casa, na rua e no jornal. Que transborde nossa alegria e que todos, quem quiser, possa viver isso.