Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia
Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia
“Aumenta na Capital violência contra a mulher.” “Estupro ocorre frequentemente, porém as vítimas muitas vezes têm receio de denunciar.” Trechos de uma notícia do passado em nada causam estranhamento ante a realidade atual. É como se o tempo tivesse estacionado. A reportagem de 29 de novembro de 1992 no O POVO poderia muito bem ser uma matéria de agora. O título, inclusive, casaria para muitas das coberturas feitas semanalmente.
O começo do texto é ainda outra prova de que passados 28 anos ainda discutimos os mesmos pontos. “A violência contra a mulher está muito ligada à questão cultural, e cultura não se muda da noite para o dia. Às vezes se leva mais de 100 anos para conseguir alguma transformação”, preconizava a então delegada Ivana Timbó, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da época. Pelo visto, botem 100 anos nisso.
Por conta de caso recente envolvendo a digital influencer Mariana Ferrer, que acusa o empresário André de Camargo Aranha de estupro e que em julgamento do caso teve fotos suas expostas e sua conduta questionada pelo advogado de defesa Cláudio Gastão da Rosa Filho, martelou na cabeça de mulheres da editoria de Cidades do O POVO como seria compararmos casos que foram a julgamento no passado com esse. E por mais que já desconfiássemos em encontrar discursos machistas semelhantes na discussão em Justiça no passado e no presente, aconteceu mais que isso: encontramos frases semelhantes repetidas por anos a fio e completos absurdos em casos que não bastasse a vítima ter sido morta, ela seguia sendo mal falada para justificar o ato do criminoso.
Fomos relembrar o argumento de defesa de Antônio Pereira dos Santos, que matou a ex-esposa Eulâmpia Sales a facadas em 1929. O caso de assassinato da socialite mineira Ângela Diniz, em 1976, em Búzios (RJ). E da empresária Ethel Angert, morta pelo ex-marido no dia 15 de outubro de 1992, no interior de uma loja de discos no Centro de Fortaleza. Todas vítimas fatais do machismo e difamadas até depois da morte.
Na série “As questões trazidas à tona pelo caso Mari Ferrer”, composta por dois episódios e escrita pelas jornalistas Ana Rute Ramires e Gabriela Custódio, chega a doer a leitura que mostra nosso estágio letárgico como sociedade quanto à mudar de atitude frente a crimes contra mulheres.
Ninguém vai acreditar em você.
Mulher tem que se dar respeito.
Se você me deixar, eu te mato.
As frases - símbolos de agressões verbais catalogadas por estudo da Babbel, Me Too Brasil e Instituto Maria da Penha -, também citadas na reportagem, seguem corriqueiras e, infelizmente, familiares aos ouvidos de muitas mulheres. Muitas vezes, são essas frases o alerta inicial para algo muito mais terrível que está por vir em relações abusivas e de muito machismo presente.
E até quando ainda vai arder no peito enxergar a condição de objeto e de submissão em que muitos homens ainda nos colocam?
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