Entre o bastidor e o microfone: o desafio de fazer mídia esportiva regional
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Locutor esportivo da Rádio O POVO CBN. Radialista formado e acadêmico em jornalismo pela Universidade Estácio, já trabalhou em diversas rádios de Fortaleza, atuando como narrador e em outras funções, incluindo a parte técnica. Esta coluna trata sobre mídia esportiva e analisa os avanços das transmissões esportivas em todas as plataformas
Entre o bastidor e o microfone: o desafio de fazer mídia esportiva regional
Há quem ache que fazer mídia esportiva é só falar de jogo. Mas, por trás de cada transmissão, há uma luta diária para fazer o esporte chegar ao outro lado da tela — e contar essa história é tão desafiador quanto emocionante. Na estreia das transmissões com imagens da TV O POVO e do YouTube do Esportes O POVO, entendi isso de um jeito ainda mais profundo
Foto: FCO FONTENELE
Equipe de transmisão do jogo entre Ceará e Fortaleza feminino: Iara Costa, Alessando Oliveira (ao centro) e Mateus Moura
Costumo analisar a mídia esportiva, observar seus movimentos, suas tendências e seus bastidores. Mas estar dentro dela, fazendo parte de uma transmissão ao vivo, é outra história. Narrar o primeiro evento oficial com imagens da TV O POVO — no dia 25 de setembro, pelo Campeonato Brasileiro de Futsal — e o Clássico-Rainha pelo Campeonato Cearense Feminino não foram apenas transmissões comuns. Foram um marco. Um momento simbólico, em que a análise cedeu espaço à prática e a teoria se misturou à emoção do “ao vivo”.
Confesso que fiquei feliz quando soube das negociações. E, quando a gente está envolvido, não fala nada pra ninguém — só torce muito. Sabe aquele torcedor que fica em silêncio durante o jogo, esperando a confirmação do VAR? Assim fiquei.
Momentos antes dos anúncios, vieram as escalas que mostravam quem estaria na transmissão do evento. Isso é divulgado com antecedência, para que possamos nos preparar para os jogos. A partir daí, o estudo foi intenso: horas e horas de pesquisa, jogos assistidos e anotações em cadernos — ou em qualquer pedaço de papel que estivesse à minha frente.
É neste tipo de evento que a gente realiza sonhos. E quase todo mundo que trabalha com comunicação tem algum sonho a realizar. O meu era narrar um evento esportivo na televisão aberta. Ficou ainda mais especial ao saber quem faria a transmissão comigo no futsal: os comentaristas Victor Barros e Abreu Neto. Tive a oportunidade de trabalhar com os dois em projetos independentes na internet. Abreu foi um dos primeiros comentaristas em transmissões no formato de web rádio, lá em 2014. Em 2023, Victor e eu fizemos diversos jogos, cada um de sua casa, trilhando o nosso caminho na comunicação.
Os celulares e fones de ouvido simples se transformaram em uma estrutura com câmeras, monitores de retorno, cenário e sinais independentes do ginásio ou do estádio. Os eventos mobilizaram profissionais de todos os setores da empresa. Acho que, por todo esse contexto, eu fiquei nervoso. Mal dormi na noite anterior aos jogos. Levantei algumas vezes para checar as informações. A sensação de frio na barriga era constante. Fiz questão de chegar com antecedência ao estúdio — coisa de três horas antes de irmos ao ar. Foi uma jornada que exigiu concentração, técnica e um time disposto a fazer a melhor transmissão possível.
No futebol feminino, a missão foi mostrar não só para o público em geral, mas também para as jogadoras, equipes, torcedoras e familiares que entregaríamos o nosso melhor. Esse foi o combustível que usamos para fazer a transmissão.
Foto: FERNANDA BARROS Horácio Neto durante a transmissão do Clássico-Rainha, entre Ceará e Fortaleza
E não podemos esquecer: era um clássico. Ceará e Fortaleza têm rivalidade em todos os aspectos. Embalar todo esse contexto e levar isso para a internet e para a TV aberta é um baita desafio, pois engloba diversos públicos. Encontrar uma linguagem equilibrada e coerente com o que está sendo transmitido — e, ao mesmo tempo, manter o conteúdo didático — é o grande segredo.
Durante as transmissões, a equipe inteira no grupo de WhatsApp não parava de mandar mensagens. O feedback, as dicas e os comentários dos companheiros faziam a gente se sentir mais à vontade. Após sairmos do ar, a sensação foi de dever cumprido. Foi muito bom ver os olhares satisfeitos de toda a equipe.
Aqueles jogos representaram mais do que o início de uma nova fase nas transmissões esportivas do grupo. Foram a prova de que ainda há espaço — e necessidade — para o fortalecimento da mídia esportiva regional. Em um cenário em que as grandes redes concentram esforços em torneios nacionais e internacionais, dar visibilidade ao esporte cearense é um gesto de resistência e valorização. É acreditar que o talento local também merece vitrine.
A TV regional tem um papel que nenhuma outra mídia consegue substituir. Ela conecta o torcedor à sua cidade, ao seu clube, ao seu bairro. É uma ponte entre o atleta e a comunidade. E agora, com o digital, essa ponte atravessa fronteiras: o que é local se torna global, e o que é regional ganha força de rede. Ver o esporte cearense em tela aberta e também no YouTube é ver o passado, o presente e o futuro da comunicação caminhando juntos.
Narrar isso foi mais do que uma tarefa profissional — foi um lembrete do porquê escolhi estar neste meio. A emoção do esporte continua sendo o combustível que move quem está diante do microfone. E, no fim das contas, fazer mídia esportiva é isso: acreditar que cada transmissão representa a realização de um sonho.
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