Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
A tragédia foi grande. Amargamos, só no Brasil, 704.659 óbitos entre os 37.717.062 casos de covid-19 registrados até o final de julho passado. Para além de cada número, pessoas, famílias, profissionais de saúde. Pessoas presas em casa, ruas vazias, comércio sem movimento, desemprego, crianças, adolescentes e idosos com tempos pregueados, encurtados.
O tema me veio à mente na última semana de julho quando, após quatro anos sem viajar de avião, eu e meu marido, Miguel Macedo, subimos e descemos em aeronaves lotadas no final das férias. Estávamos de máscara e muitos olhavam de lado, talvez achando que era exagero. A situação me trouxe esta reflexão sobre o que a desgraça da pandemia poderia, aliás, deveria, ter mudado hábitos.
Começando pelo próprio avião. Um espaço fechado, com pessoas que nunca se viram bem próximas umas das outras, respirando lado a lado. Inúmeras tossiam, dobravam a tosse com som de catarro e não estavam com máscara. Nem mesmo com um lenço para cobrir o rosto e evitar que partículas de um espirro ou de suas tosses saíssem zanzando até a respiração do outro, espalhando suas gripes e resfriados.
Outro ponto que tenho observado é sobre a questão de deixar sapatos do lado de fora de uma casa ou apartamento. Não deveria ser algo restrito a um período de pandemia. Na rua, pisamos em cocô de cachorro, em restos de comida, em lama. Se entrarmos com o mesmo calçado em casa, onde podemos andar de pés descalços, ou uma criança brinca, engatinha ou anda sem calçados, estaremos propensos a contaminações e doenças evitáveis.
Um bom hábito que se aprende desde pequeno é a lavagem de mãos. Com a pandemia, a higiene esquecida por alguns voltou a se fazer presente no cotidiano. Só que já foi esquecida por muitos. É comum ver em restaurantes os clientes chegarem, sentarem à mesa, pedirem comida e começar a comer sem lavar as mãos. Em self-service, a maioria já entra na fila para fazer o prato e nada de lavar as mãos.
O bom senso indica que, quem está doente deve proteger os que não estão. Quando se senta ao lado de alguém, não temos como adivinhar as mazelas de saúde que cada um traz. A lógica deveria ser que estas pessoas usassem máscara, principalmente em ambiente fechado, onde a contaminação pode ser mais rápida. Estas ações, que já deveriam estar incorporadas à gentileza da convivência desde sempre, devem ser reforçadas diante de toda a tragédia que vivenciamos com a pandemia.
O vácuo de tempo imposto pelo isolamento social não deve ser esquecido. É preciso aprender melhores hábitos para que tragédias dessa proporção sejam evitadas, contornadas, vencidas. Cada vez mais dividimos espaços com mais e mais pessoas. É um paradoxo mesmo: quando mais cuidarmos das restrições, quanto mais atenção consigo e com o outro, mais livres poderemos transitar.
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