Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Projetos, eventos, clubes de leitura e programas de rádio ainda são insuficientes para que todos possam usufruir do encantamento de palavras e suas histórias
Foto: Samuel Setubal
Livraria Leitura, localizada no shopping RioMar Fortaleza
Um dos achados mais valiosos ao se perceber um problema é compreender o porquê da sua existência e buscar caminhos para resolvê-lo. Só apontar que ele existe, geralmente, não vai levar à sua solução. Isso vale para quase tudo, inclusive para a famosa questão, apontada por pesquisas, de que o brasileiro lê pouco. Principalmente o jovem.
O que famílias, escolas, pessoas conscientes do problema, governos estão fazendo? Como mudar a realidade de que inúmeros adultos, que sequer foram leitores, não conseguem reconhecer esta lacuna na vida de seus filhos? E, ainda, como apoiar adultos que, apesar de terem sido leitores, mesmo assim estão vivendo dificuldades na luta contra as telas?
Perguntas que se acumulam e que precisam de iniciativas que tragam a curto, médio e longo prazos o mundo da leitura para quem ainda não teve chance de ser seduzido por ele. Cada ação que gera possibilidades de atrair leitores de todas as idades, anima para que surjam outros caminhos de encantamento com as histórias que as palavras contam.
No último fim de semana estive participando de uma ação que completou dez anos: o Encontro de Leitores do Sertão Central, realizado em Quixadá e Quixeramobim. Em 2015, quando surgiu a ideia, a equipe da organização era composta por universitários. Ao longo dos anos eles foram buscando apoio da política pública e viabilizando a continuidade e o fortalecimento do movimento, que foca na valorização da literatura cearense e em oferecer inspiração a leitores.
Outra trilha que tenho visto se fortalecer é a dos clubes de leitura, tanto presenciais como online. Participo de quatro deles: Rotas literárias, criado pelo escritor Marco Severo; Clube Lume, liderado pela escritora Mell Renault; Clube de Ficcionistas, nascido de uma oficina de romance do professor Assis Brasil; e o recente Clube de Leitura Górgona, da escritora Jarid Arraes.
Os que são presenciais acontecem em cafeterias, residências, espaços culturais e praças. Já participei de um que fazia a leitura dos livros ao vivo, numa emissora de rádio. É o programa Livro falado, na rádio AM Liberdade, de Boa Viagem, no Ceará. Tive o prazer de ter um livro meu lido palavra a palavra, ao vivo, para os ouvintes.
Projetos com a finalidade de estimular crianças e adolescentes também existem e há muitos anos. Minha estreia oficial como escritora, em 2017, foi em um deles, o Projeto Eu sou cidadão - amigos da leitura, uma parceria entre Associação para o Desenvolvimento Municipal (APDMCE), Fundação Demócrito Rocha, Governo do Ceará, Selo UNICEF e outras instituições.
Estes projetos dão frutos e se relacionam. Mateus Pinheiro, um então adolescente, de Milhã-Ceará, que conheci em 2017 no Projeto Eu sou cidadão - amigos da leitura, estava no Encontro de Leitores do Sertão Central no fim de semana passado. Ele me reconheceu e celebramos o encontro. Agora universitário, mantém o interesse pela leitura. Os estímulos que recebeu há oito continuam fazendo diferença na vida dele.
Mas, estes são só um pequeno recorte. Necessitamos de muito mais. Para termos dados positivos sobre índices de leitura no nosso país é preciso fazer com que estas iniciativas tenham escala e continuidade, e que alcancem todos os municípios, todas as escolas, as universidades, os grupos de amigos. Que virem lei, que todos sintam vergonha de uma política pública que não gere mais leitores.
Só assim crianças e adolescentes leitores serão tantos, que tornará impossível citar todos os Carlos, Rebecas, Jorges, Ingrids, Cristinas, Brunos... que passarem a crescer no encantamento que as palavras e o conhecimento provocam. E que, ao se tornarem adultos e idosos, não consigam viver sem o prazer, o sabor, de ler o mundo real e o imaginário.
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