Pulseiras coloridas e letras de música contra o assédio
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Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Pulseiras coloridas e letras de música contra o assédio
Jovens criam identificações verde, amarela e vermelha, com trechos de axé, para solteiros, comprometidos ou quem não sabe se quer ficar com alguém
Foto: Acervo pessoal
Pulseiras de identificação
Se é comum eu nunca havia visto. Tomando como base o meu desconhecimento, imaginei que outras pessoas também não sabem e decidi trazer aqui uma dinâmica social que conheci no último fim de semana. Segundo os jovens que estavam na festa de aniversário em que fui apresentada à novidade, evita até casos de assédio. Ficaram curiosos?
Na festa, o tema era os carnavais fora da época tradicional, que se espalharam pelo país há três décadas. E o foco era especificamente a banda Chiclete com Banana, que faz sucesso na música axé desde quando foi formada em 1980. O seu integrante mais famoso é o baiano Bell Marques. Por conta do nome, os fãs são chamados de chicleteiros.
Eu e meu marido, o Miguel, estávamos sentados interagindo com os demais convidados, quando nos ofereceram pulseiras de identificação da cor vermelha.
Como a festa era em condomínio e não em um parque aquático, perguntamos o que significava. É para o pessoal saber que vocês estão comprometidos. Rimos e fomos ler o que estava escrito: “Adeus, cabaré”.
A curiosidade nos fez sair em busca do que estava escrito nas pulseiras. Na amarela, a frase era “Ele não monta na lambreta” e, na verde, “Faz um coração grandão”. As três são alusões a letras de música de axé.
Foto: Acervo pessoal
Pulseiras identificadas com as músicas de Bell Marques
Embora já desse para fazer uma analogia com a representação das lâmpadas de um semáforo, fomos atrás da simbologia.
O verde era para quem estava solteiro e disponível para a possibilidade de ter um par; enquanto o amarelo indicava que, embora solteira, a pessoa não necessariamente ia ficar com alguém.
Foi interessante observar a funcionalidade das pulseiras e como os jovens, a maioria entre 20 e 25 anos, respeitavam a simbologia. Nos vários grupos que se formavam, as pulseiras eram um sinal de limite e respeito.
Pequenas nos braços de todos e todas, representavam um outdoor de direitos entre quem quer ficar com alguém na festinha; os que podem até querer, mas não só se tiverem a fim; e quem já tem seu par, esteja ou não com a pessoa ali no ambiente.
A juventude encontrou uma forma democrática de comunicar sua disponibilidade para estar só ou acompanhada, e de estabelecer limites que não podem ser ditados pela vontade do outro.
A mensagem do “não é não” foi adaptada criativamente para um colorido que pretende, previamente, evitar terríveis cenas de assédio que infelizmente se repetem em casas de shows, festinhas das ruas e boates.
Considero a iniciativa de transformar letra de música e cores em símbolos de direitos e limites uma ação prática e de fácil compreensão. Em tempos em que a linguagem visual precisa ser cada vez mais certeira, a ideia poderia ser copiada e, assim, mais e mais pessoas, principalmente mulheres, seriam preservadas de investidas constrangedoras.
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