Demissão de Maurício Souza mostra a revolução dentro da torcida do vôlei
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Demissão de Maurício Souza mostra a revolução dentro da torcida do vôlei
Anos atrás, um jogador era alvo da homofobia de um ginásio inteiro. Hoje, os fãs de vôlei foram protagonistas na demissão de uma das estrelas do esporte nacional — que também está fora da seleção, segundo o técnico Renan dal Zotto
Era 2011. Semifinal da Superliga Masculina de Vôlei entre Vôlei Futuro e Cruzeiro, em Contagem (MG). O ginásio lotado voltou toda a homofobia para chamar o central Michael, do time visitante, de "bicha". Hoje, os fãs do esporte se uniram para exigir punição a outro meio de rede, Maurício Souza, por homofobia. E isso mostra o quanto o mundo mudou.
Michael sofreu, se assumiu e enfrentou o preconceito de peito aberto. Ele andou para que Douglas Souza — ponteiro da seleção brasileira que virou influencer nas Olimpíadas e hoje soma 3 milhões de seguidores no Instagram — pudesse correr.
Maurício Souza, apesar de ter jogado com Douglas, assumido gay, no Taubaté e no Brasil, apesar de jogar com Maique, assumido gay, no Minas, publicou uma série de mensagens de teor claramente LGBTfóbico. E, com a repercussão, acabou dispensado da equipe e fora da seleção brasileira. O caso ainda teve dois pedidos de desculpas da boca pra fora, que aparentemente não convenceram ninguém. Escrevi mais cedo sobre isso.
Para além da discussão sobre o crime de homofobia e do suposto "crime de opinião" após alguém ser demitido por ter "exercido a liberdade de expressão", viro o foco para o caminho dessa demissão. Se com Michael o meio do vôlei se provou homofóbico, agora os torcedores resolveram elevar a pressão até conseguir o que queriam.
O modelo é o do Sleeping Giants e ataca uma empresa onde mais dói: o bolso. A ideia é desmonetizar quem propaga discurso de ódio. Vale para o Sikêra Jr., vale para o Maurício Souza. Gerdau e Fiat, patrocinadoras do Minas, levaram as queixas do público para o clube e, vários passos depois, o jogador foi dispensado.
Essa pressão direta do público tem duas leituras. A primeira é do peso das redes sociais como canal direto. A repercussão é imediata, com menor peso, por exemplo, da intermediação da imprensa. A segunda é que o discurso progressista não fica mais da boca pra fora. Uma empresa que se diz pró-LGBTQIA+ não pode ter um funcionário homofóbico e passa a ser cobrado por isso.
O tal do "pink money" cresce para além das armadilhas de quem quer recebê-lo.
Gostaria, no fim das contas, que isso fosse uma grande lição para Maurício Souza. Não será. Ele consegue outro emprego no vôlei — no futebol, até o goleiro Bruno conseguiu e não falta time que contrate agressores de mulheres. Ou vai para a carreira política. Ou ainda galga uma vaga numa rede de TV que estreou nesta quarta-feira com festival de "baixaria conservadora".
O indivíduo dificilmente vai me agradar. Como nem cabe a ele. Mas a revolução está nas arquibancadas.
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