Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Diplomacia pode transformar Vitor Roque em um aliado
Atacante do Palmeiras se livrou de gancho por postagem homofóbica depois que o clube conseguiu acordo com o STJD. Reabilitação é melhor que punitivismo
Foto: CESAR GRECO / SE Palmeiras
O atacante Vitor Roque fez postagem "provocando" São Paulo ao associar o clube ao veado
Em plena reta final do melhor Brasileirão da história, o atacante Vitor Roque, do Palmeiras, perigava pegar gancho de até 10 jogos de suspensão por causa de postagem lamentavelmente homofóbica. Não corre mais risco. A diretoria do clube alviverde agiu de forma preventiva ao propor um acordo ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), evitando punição esportiva.
O acordo evita um desfalque de peso para um time que disputa o título jogo a jogo contra o Flamengo — que, por sua vez, se livrou do risco de gancho do também atacante Bruno Henrique, suspeito de cumplicidade em esquema de apostas esportivas. Assim, o STJD dribla a acusação de conivência no caso flamenguista, em que efeito suspensivo e adiamentos se avolumaram. O que resta é certa sensação de impunidade, cá e lá. Mas uma suspensão exemplar contra o Vitor Roque seria a atitude mais sensata?
O conceito de minoria traz em si uma realidade de vulnerabilidade. Não é uma noção aritmética — que ditaria que o grupo maior é sempre uma maioria —, mas social. Entende-se que há um flanco exposto a ataques, o que, portanto, justifica o incremento de mecanismos de proteção. A população LGBTQIA+, historicamente à margem da sociedade, conquistou espaço com décadas de luta. E, para isto, foram necessários tempo e aliados.
A ideia de punitivismo é atrativa. A violência é uma linguagem a qual infelizmente nos acostumamos. Mas se as minorias entrarem no ciclo de vinganças, elas vão ser engolidas. Prefiro adotar as regras do jogo diplomático, com concessões, avanços tímidos e meios-termos.
Vitor Roque podia ser punido com 10 jogos de suspensão. O efeito cascata gestacionaria rancor dos palmeirenses e do próprio atacante contra a justiça desportiva e em favor da homofobia. Em vez disso, a punição foi multa de R$ 80 mil — duvido que acatem a minha sugestão de que os recursos se voltem à causa LGBTQIA+ —, que o Palmeiras vai assumir, e uma publicação no perfil do jovem jogador.
O final feliz seria um vídeo de Vitor Roque dando a cara à tapa para admitir o erro e dizendo que é capaz de aprender. Era uma chance de se mostrar vulnerável, disposto a aprender. Afinal, ele mesmo disse que bastaria uma "conversa educativa". Rechaçou ser homofobia, o que mostra que ele precisa mesmo estudar.
Se ele der a cara à tapa, mostro o outro lado do meu rosto, que ele já estapeou. Garanto que que ele sairá ileso da experiência.
A realidade, porém, é que uma peça de marketing feita pelo clube, sem admitir erro e pedindo desculpas "a quem tiver se ofendido" vai ser tudo que vamos receber. Mas, bem, se a homofobia cessar, temos conosco um avanço tímido.
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