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Em meio ao caos, os oásis que nos salvam
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Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil

Em meio ao caos, os oásis que nos salvam

A cultura, a emoção e a humanidade ainda são linguagens que nos faltam na diplomacia. A cultura ainda é uma linguagem universal de paz que pode e deve permear os momentos-chave de tomada de decisão para a humanidade
Ministra da Cultura, Margareth Menezes (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Divulgação)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Divulgação Ministra da Cultura, Margareth Menezes

Vivemos dias em que as manchetes nos esmagam: a dilaceração de Gaza, a guerra interminável na Ucrânia, os massacres esquecidos do Afeganistão, do Iêmen, do Sudão. Um mundo onde a falta de liderança (política ou institucional) chega a níveis inéditos, com estruturas como a ONU e a Otan mostrando-se frágeis diante de crises que demandam humanidade, não apenas estratégia.

Enquanto isso, assistimos aos dois homens mais poderosos do planeta, em plena era nuclear e de inteligência artificial, reduzirem-se a trocas de acusações pessoais, seríssimas, porém de forma infantil, lavando roupa suja em público como se o mundo não ardesse em chamas ao redor. No entanto, em meio a esse turbilhão, precisamos olhar para os oásis, aqueles raros momentos em que a essência do que nos une ainda brilha.

Na semana passada, Paris ofereceu um deles: em momento cerimonial na Prefeitura, Margareth Menezes, Ministra da Cultura, foi convidada para cantar "Coração de Estudante", de Milton Nascimento, em um gesto de pura emoção, sem bandeiras políticas, apenas música e um resgate do que nos toca como seres humanos. Foi um daqueles instantes simbólicos que nos lembram: a cultura, a emoção e a humanidade ainda são linguagens que nos faltam na diplomacia. A cultura ainda é uma linguagem universal de paz que pode e deve permear os momentos-chave de tomada de decisão para a humanidade.

Outro oásis para mim pessoalmente veio de um lugar quase secreto: a Tapera das Artes, em Aquiraz. Atrás de um portão discreto, um espaço protegido do caos externo abriga uma das poucas oficinas de luteria do Brasil, onde jovens constroem instrumentos de nível Stradivarius em silêncio harmonioso. Ao lado, uma banda tocava com instrumentos feitos de sucata, enquanto uma experiência sonora com cerâmicas reproduzia o canto dos pássaros.

Era como se ali, naquele cantinho quase invisível, existisse um microcosmo do que o mundo poderia ser. Criatividade em vez de destruição, harmonia em vez de gritaria. Cuidado, comunidade.

Esses momentos nos fazem questionar: Por que o que nos une não ganha as manchetes? Por que a destruição parece ter mais influência que a construção? Esses contrastes nos interrogam: Por que o pior da humanidade domina as manchetes, enquanto seu melhor fica escondido?

Quando líderes falham e instituições vacilam, quem nos salva são os artistas, os luthiers, os professores, enfim, a maioria dos seres normais conduzindo seu dia a dia, aqueles que fazem sem aparecer.

Não se trata de fugir da realidade, mas de lembrar que, mesmo no colapso, há escolhas. O caminho está claro: ou nos perdemos na espiral do espetáculo da destruição, ou escolhemos alimentar os oásis.

Eles são, afinal, uma verdadeira prova de que ainda não desistimos de nós mesmos.

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