Foi sob as sombras das mangueiras de um sítio no distrito de Tapera, em Aquiraz, que germinou uma semente multiplicada em inúmeras outras ao longo de uma trajetória que chegou a 40 anos em 2023: a Instituição Tapera das Artes, uma das principais referências em ensino artístico do Estado. Com mais 31 mil pessoas alcançadas por diferentes projetos nos últimos 15 anos, o espaço ressalta a importância do acesso à cultura para uma formação cidadã e humana.
As principais ações da Tapera das Artes atualmente envolvem formação, fruição e difusão musical, vocação que já se revelou desde o início do projeto, fundado por Ritelza Cabral, hoje presidente do Conselho Administrativo da instituição.
"Ela surgiu despretensiosamente. Compramos uma chácara em Tapera para proporcionar aos nossos filhos a oportunidade de convivência com a natureza e nos deparamos com uma comunidade repleta de crianças, ávidas por entretenimento", lembra.
Em pouco tempo, o espaço passou a acolher os pequenos da vizinhança em ações lúdicas de lazer e educação artística. "Iniciamos como escola de música nas mangueiras do sítio. Depois montamos uma creche e posteriormente um Centro Cultural, um Teatro Escola e, finalmente, a Luteria Experimental, o Serenata Café e o Receptivo Turístico Cultural", lista Ritelza, se referindo a diferentes frentes de atuação da instituição.
Esse desenvolvimento levou, em 1996, à oficialização da Tapera das Artes enquanto organização da sociedade civil sem fins lucrativos. Os projetos pedagógicos se fortaleceram com parcerias públicas e privadas ao longo das décadas e culminam nas ações da instituição hoje.
Entre elas, estão o Programa Tapera das Artes de Cultura - Um Toque de Classe, o Encontro Mestre & Aprendiz e o Programa Tapera das Artes de Cultura - Livres Toques. O primeiro promove educação coletiva de música e é base para o segundo, o projeto Encontro Mestre & Aprendiz, no qual estudantes e educadores do Ceará têm trocas com artistas da música brasileira e internacional. Já o Livres Toques promove experiências de luteria experimental, com criação de instrumentos musicais com materiais diversos.
"O Programa Tapera das Artes de Cultura nos segmentos tradicional e experimental traz ações pedagógicas totalmente gratuitas e conceito formativo com metodologia específica, priorizando atendimento para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, com sistema integrado a uma cadeia de relacionamento direto com as escolas públicas de ensino fundamental, ensino médio e universidades públicas", destaca Ritelza.
Atual presidente da instituição, Magno Miranda foi, antes, aluno. Natural de Mossoró, conheceu a Tapera a partir de um intercâmbio entre ela e um projeto social da cidade natal. "Ela me deu a oportunidade de viver no universo da música e do que ela proporciona. Tive muitas experiências enquanto aluno que me deram todo o direcionamento de vida", atesta.
Até se tornar presidente, Magno atuou em diferentes áreas, da técnica de informática à monitoria de percussão. Hoje se apresentando como "graduado em administração, produtor cultural e músico", celebra: "Sou presidente da instituição que me formou enquanto ser humano, que me fez e faz ver o mundo de forma diferente. Sou referência para crianças que podem ver em mim que todos podemos ter um futuro diferente ou da forma que sonhamos", afirma.
"Além do aprendizado constante proporcionado pela música, as ações pedagógicas e artísticas trazem um novo sentido na vida das nossas crianças e adolescentes", segue o presidente. "Aos poucos, a Tapera foi se transformando. De 'escola de música' para 'escola de vida'", resume Ritelza. "A música é, antes de tudo, um instrumento fundamental para a integração e conexão, que impacta no convívio social, no desenvolvimento, e nos aspectos sócio-emocionais do ser humano", finaliza a fundadora.
Da Tapera para a França
Minha história na Tapera das Artes começou muito tempo atrás, estudei no jardim de infância. Quando eu tinha meus 9 ou 11 anos de idade, depois de alguns anos, soube que iria começar a ter aulas de músicas e tive interesse de participar porque todos os meus amigos iam também. Minha vida de músico começou com o violino, passei um ano e meio nele e como a maioria dos meus amigos faziam violoncelo, mudei de instrumento e cá estou até hoje. Já faz oito anos que estudo violoncelo e, em 2022, tive o interesse de sair do Brasil para estudar fora porque eu sabia que queria seguir carreira de músico profissional. E eu consegui. Hoje estudo em um conservatório na França e sou muito grato à Tapera das Artes por isso, por ter me proporcionado momentos incríveis, com mestres incríveis, principalmente o meu professor Rondinelly Bezerra, que sempre me ajudou e me deu o total apoio que eu precisava. Hoje em dia ainda tenho um contato com ele muito grande, um amigo e professor que tenho para a vida. Hoje, sinto muito orgulho da pessoa que me tornei, e isso graças à minha família e à Tapera das Artes, que me moldaram bem para que eu pudesse chegar onde cheguei, e à minha pessoa, que se permitiu absorver tudo que me servia.
Luciano Damasceno é músico, natural de Fortaleza e tem 22 anos
40 anos em números
Fonte: Tapera das Artes
Tapera das Artes
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