
Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil
Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil
“Quando nós, mulheres, nos unimos, abrimos portas que nunca mais se fecham.” A frase de Tabata Amaral, autora do PLC 1/2023, traduz a dimensão histórica da Lei 14.918/2024, sancionada em junho, que estabelece cota mínima de 30% de mulheres nos conselhos de administração de estatais, chegando a 40% nas empresas bilionárias. E vai além: determina que essa presença seja racialmente diversa e inclusiva de mulheres com deficiência.
Não se trata de favor, mas de justiça histórica. Décadas de exclusão deixaram marcas profundas na economia, na política e na maneira como o Brasil construiu suas lideranças. Dados do IBGE e do Instituto Ethos mostram que mulheres negras ocupam menos de 1% dos cargos de presidência em grandes empresas. Em conselhos de administração, são praticamente invisíveis. Por isso, a lei representa não apenas um avanço institucional, mas também simbólico, ao reconhecer que talento não tem gênero, cor ou limitação física – mas as oportunidades, sim, têm donos bem definidos há séculos.
Essa conquista foi construída com trabalho coletivo. Organizações como o Grupo Mulheres do Brasil (liderado por Luiza Helena Trajano), o Movimento Pessoas à Frente (Jessika Moreira) e Mulheres do Mercado pressionaram com dados, articulação política e argumentos econômicos: diversidade gera resultados.
Conselhos diversos têm maior inovação, melhor análise de riscos e desempenho financeiro superior, como comprovam relatórios do FMI e da McKinsey. Ou seja, além de questão moral, é decisão estratégica para qualquer empresa ou governo que deseje prosperar.
Mas nenhuma vitória vem sem desafios. Para que a lei não seja apenas mais um número bonito em relatórios, será necessário esforço ativo para encontrar, formar e apoiar mulheres negras e com deficiência capacitadas para esses cargos. Elas existem – nos setores público e privado, na academia, em organizações sociais –, mas foram historicamente invisibilizadas.
O trabalho com entidades como Instituto Ethos, ID_BR e Reprograma é essencial. Outro ponto crítico é garantir que essas mulheres tenham voz efetiva, evitando a armadilha do “tokenismo”, em que a presença não se converte em poder de decisão.
Por fim, há um horizonte que não podemos ignorar: expandir essas cotas para além das estatais, pressionando o setor privado a seguir o exemplo. Equidade de gênero, raça e deficiência não é agenda de “minorias”, mas de um país inteiro que precisa de inovação, competitividade e legitimidade democrática.
Como disse Tabata, mais do que representatividade, é justiça. E justiça não se negocia, se constrói – com leis, com políticas, com coragem coletiva. Porque a porta foi aberta. E agora, ninguém a fecha.
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