Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.
Na segunda crônica da série que investiga a origem do sobrenome da minha família e o árduo trabalho de construir uma árvore genealógica, vamos hoje seguir uma pista para o que quer dizer o nome Araújo. Ao que parece, prepare-se você, meu parente, o significado tem a ver com algo que não é desse mundo. Já ouviu falar dos druidas?
Navega em incertezas quem se arrisca a investigar a origem de alguns sobrenomes brasileiros, até a raiz. Mas, o corajoso J. Soboto foi até o fim. No Livro Ancestral dos Araújo, levantou uma boa hipótese, a partir de documentos antigos, pesquisas em livros e análises de filólogos. Segundo ele, na língua celta galaico, falada na Galícia, na Espanha, antes da chegada dos romanos, pode estar a explicação do nome Araújo. Sobrenome que está na minha família, e na de mais de um milhão de pessoas, em todo o mundo (dados de 2008). Para o escritor, a sequência lógica da evolução do nome bem poderia ser esta: radusion>arausion>araujo.
Mas, o que isto quer dizer? Para entender o vocábulo, ele separou o nome em duas partes. A primeira, radus, significando lugar de passagem. E a segunda, ion, seria o plural e/ou aumentativo da palavra. Trazendo isso para o contexto celta galaico, radusion, traduzido como lugar de passagem, teria um sentido mais espiritual. Poderia ser um lugar de crenças xamânicas. A hipótese defendida por ele é que estas passagens espirituais aconteciam em santuários, como as sementeiras sagradas celtas. Com a chegada dos romanos e do catolicismo, os radusion da Galícia vão sendo abandonados. E, provavelmente, serviram de base para as novas igrejas, o catolicismo a tomar conta daquele mundo druida.
Gostei já da história do nome. Vai fazer toda a diferença quando for visitar a pequena igreja de San Martino de Araújo, na paróquia de Araújo, na Galícia, na Espanha – lá, onde o nome das terras acabou por virar nome de família. Com a ponta do pé, hei de revirar um pouco a terra, pensando que no passado, o local já foi templo druida, um radusion. Com a chegada dos romanos e do catolicismo, o nome evoluiu para Araújo, virou nome de lugar. Terras de Araújo. Depois, dadas como dote a um certo Rodrigo Annes, passou a sobrenome. Escrito aqui à portuguesa, o nome Araújo aparece nos documentos antigos como Aravxo e Arauvjo. O resto fica por conta das evoluções da língua.
Em terras portuguesas, para onde fugiram os netos do senhor das Terras de Araújo, o nome ganhou pernas. E o mundo. Foi acasalar-se com outros nomes. Por isso, tenho “primos” para tudo que é lado. Esta é a dificuldade de seguir os passos dos que viajaram para o Brasil e deram origem ao galho da minha família, no Acaraú, norte do Ceará. Para essa missão quase impossível, ando agora armada de algoritmos. E de braço com a genética. Na crônica da semana seguinte eu conto como estes tiros no escuro, que me trazem os robôs e o rastreio dos meus genes, têm ajudado a saber mais sobre a parentada. Já que cada grãozinho é pista nova na série de tentativas e erros, no meu trabalho detetivesco.
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