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Jornada de todos os recordes: a última de Francisco?
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

Jornada de todos os recordes: a última de Francisco?

Quando pensamos que vimos multidão que chegue com a Jornada Mundial da Juventude e a visita do Papa Francisco, elas duplicam, triplicam, surpreendem. Depois da Via Sacra, no Parque Eduardo VII, centro de Lisboa, com 800 mil pessoas, a vigília e a missa final, no Parque Tejo, trouxe um novo recorde
Tipo Crônica
Papa Francisco acena para os peregrinos neste domingo, 6, enquanto celebra a missa de encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) no Parque Tejo, em Lisboa. Cerca de um milhão de peregrinos de todo o mundo participarão da Jornada Mundial da Juventude, o maior encontro católico do mundo, criado em 1986 por João Paulo II. VATICAN MEDIA / AFP (Foto: VATICANO/AFP)
Foto: VATICANO/AFP Papa Francisco acena para os peregrinos neste domingo, 6, enquanto celebra a missa de encerramento das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) no Parque Tejo, em Lisboa. Cerca de um milhão de peregrinos de todo o mundo participarão da Jornada Mundial da Juventude, o maior encontro católico do mundo, criado em 1986 por João Paulo II. VATICAN MEDIA / AFP

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Depois de uma semana de Jornada Mundial da Juventude, os peregrinos meteram-se em marcha no final de semana, horas e horas de caminhada, até o Campo da Graça, no Parque Tejo - uma área equivalente a 100 campos de futebol. De todos os lugares do país, onde estavam hospedados por famílias, escolas, centros católicos, vieram para o rito da vigília, no sábado, e a missa de adeus, no domingo. E, sob o calor sufocante – temperaturas chegaram a 42 graus durante o dia -, dormiram sob as estrelas, para amanheceram diante do altar-palco e não perderem nada dos últimos momentos com o Papa.

Muita gente chegou de avião na última hora, engrossando ainda mais o oceano de peregrinos. Segundo a organização, um milhão e meio de pessoas – o que equivale a quase 14% de toda a população de Portugal. Jovens, menos jovens também, católicos e outras religiões também. E muitos religiosos, como o padre John e seus amigos venezuelanos e espanhóis que, antes de meterem o pé na estrada, passaram antes no supermercado perto onde moro, para comprarem lanches e água. Com enormes mochilas nas costas, quem os visse pensaria que voltavam para casa. Para onde? Em romaria, ver o Papa, respondeu, sorrindo.

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No chão do Campo da Graça, misturaram-se nos sonhos, histórias e testemunhos dos outros. Abismados de, de tanto ouvirem falar de uma crise na Igreja, verem Francisco juntar tantos, a uma só vez. Para ficar perto da sua juventude, Francisco improvisou muitas vezes e fez como quis, em Portugal. Em meio à enchente, ele, sentado em seu papamóvel, completamente aberto e sem proteção, agitou a multidão, que se transformou em uma onda movimentada e eufórica. Do altar-palco, Francisco instigou os jovens a serem protagonista na vida. A abrirem a Igreja para todos e todas, sem exceção. “Não tenham medo”, ecoaram nos alto-falantes.

E, de repente, um milhão e meio de peregrinos calaram o burburinho de vozes de centenas de línguas - para meditar e orar, em silêncio. Há muito o que se pensar de tudo o que ele disse, foi o constato geral. E, já que o duro chão do Parque Tejo não deu conforto para o sono de sábado para domingo, nem a confusão da multidão deu sossego para sonhar, quem sabe as palavras do Papa foram já fermentando, madrugada adentro? Nos mais empedernidos, o “todos e todas, sem exceção”, que disse o Papa, não caiu bem. Mas, Francisco encontrou campo fértil, jogou sementes e pediu que a ideia de um Igreja sem portas, aberta para todos, se torne raiz.

De volta à realidade de seus países – muitos em situações de conflitos, guerras e pobreza extrema -, foram os peregrinos reenviados às suas casas pelo Papa. Mas, os coreanos, que vieram em massa a Portugal, voltam para a Coreia do Sul ainda mais felizes que os outros. Têm a missão de organizar a próxima Jornada Mundial da juventude, em 2027. Pelo que Francisco deixou entrever, Seul será sem ele, pela idade e saúde frágil. Já os portugueses, entre orgulho nacional e autoelogios, ficam agora com as contas finais desse grande esforço financeiro, que saiu dos cofres públicos. E ocupados em apagar incêndios, que não dão trégua no verão.

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