Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.
Cada um de nós é um livro, que anda na vida a acrescentar capítulos. Da imensa biblioteca humana, que histórias você lê nos outros, e qual história você se tornou?
Foto: Site/Human Library
Biblioteca Humana
Os livros publicados pela Biblioteca Humana são de carne e osso. Em eventos, organizados por universidades ou organizações, acontecem lançamentos. Um leitor escolhe um livro no catálogo da biblioteca viva, sobre um tema específico, em meio a títulos que representam a diversidade de grupos sociais.
Por exemplo, muçulmanos, ex-reclusos, veganos, pessoas com HIV, não-binários, migrante. Por trinta minutos, em um espaço seguro e neutro, faz-se a leitura — o leitor toma café com a sua história.
O conceito veio da Dinamarca, surgiu no ano 2000 e já se espalhou por oitenta países. Conversas que podem mudar as pessoas, quebrar estereótipos e preconceitos, através do diálogo. E se não mudam de imediato a maneira de ver aspectos do mundo, pelo menos abrem páginas novas na cabeça de alguém.
Três regras geram esta biblioteca: respeito mútuo, não julgar o outro ou levar o que é dito para o debate, e a confidencialidade.
Na Universidade de Glasgow, na Escócia, pesquisadores estudam os possíveis impactos destas interações sociais em populações estigmatizadas, já que a Biblioteca Humana se utiliza de algumas estratégias para desmantelar estereótipos.
Temos o aprendizado (educativo) com as histórias lidas, o contato interpessoal direto (face a face) e a abertura, de parte e de outra, para uma ação de troca e de diálogo.
Sai-se desta conversa, de alguma forma, mudado — ou tocado. Parece simples, mas o impacto é enorme. Durante a leitura, o leitor é encorajado a fazer perguntas abertas (e respeitosas), e o livro escolhido partilha suas experiências de discriminação, de desafios que enfrenta e as suas perspectivas. A partir destas perguntas iluminadoras, o “livro” também muda, pois, a troca é transformadora.
No trabalho de repórter do O POVO, li muitos livros na vida, em entrevistas e viagens, sem me dar conta de que já eram estas as leituras. Até hoje as páginas lidas dos outros me acompanham, fazem parte de mim e da minha história. A leitura da experiência dos outros vitamina e colore nosso próprio livro. Muda nosso olhar. Estes “livros” que eu li são parte da minha experiência.
Quem nunca abriu o livro de um outro, anda só, talvez a julgar os outros pela capa. Os livros estão por aí, basta irmos ao encontro deles, à condição de termos ouvidos, mente e coração abertos.
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