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O calor: um assassino silencioso?
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

O calor: um assassino silencioso?

Nascida e criada no Ceará, custou-me acreditar que as pessoas morressem de calor, na Europa. Morre-se — literalmente. Em um verão no Sul da Espanha, alguns anos passados, andei perto disso. O calor é tanto que os pássaros caem mortos, dos galhos de árvores
Turistas em frente à Acrópole, em Atenas, parcialmente fechada devido ao calor (Foto: Aris MESSINIS / AFP)
Foto: Aris MESSINIS / AFP Turistas em frente à Acrópole, em Atenas, parcialmente fechada devido ao calor

As ondas de calor na Europa estão mais letais. Em Barcelona, Paris, Londres, Roma, Atenas, por exemplo, num período de dez dias, entre junho e julho deste ano, as altas temperaturas triplicaram o número de mortes, por calor.

Trabalhadores ao ar-livre, como os que cuidam da limpeza urbana ou penduram-se nos andaimes das construções, são vítimas fáceis desse assassino silencioso, que no Ceará a gente chama: “calor de matar”.

Pode imaginar uma cidade em Portugal com temperatura de 46,6 graus? Sim, em Mora, região do Alentejo, no distrito de Évora, onde os habitantes assam de calor durante o dia e à noite também.

Em menos de um mês neste verão, Portugal já passou por duas ondas de calor. A partir de hoje enfrentamos mais uma, e nem na praia se tem a garantia de um refresco. Só se for dentro d’água, que as ondas daqui são fresquinhas, mais que as nossas.

Casas mais modernas já trazem ar-condicionado, o que não é comum na Europa. Na Bélgica, na Alemanha, na Holanda, na França, casas são construídas para guardar o calor, com paredes dobradas e entre elas camadas isolantes.

Podem imaginar o efeito estufa, de se ficar em casa, durante uma onda de calor destas. No desespero, certa vez, entrei no carro, liguei o motor, um pouco de ar fresco, mesmo se era no subsolo, na garagem — foi o jeito.

No verão, nos dias mais endiabrados, a população mais idosa se refugia nos shoppings, sentam-se em um banco ou cadeira, leem um livro, até a coisa melhorar lá fora. Penso nos sem-abrigos, que se refugiam na humidade dos corredores de estações de ônibus e trens.

Se a coisa aperta, dorme-se na praia mesmo, piqueniques em família, ao invés de nos virarmos, um lado e outro, sardinhas assando na brasa, no colchão.

Para visitar a Europa, não há melhor que a Primavera, toda bonita e em flor, mas ainda com algum frescor. Ou o Outono, com suas cores dramáticas nas folhas das árvores, mas já com brisas boas de se experimentar.

Para mim, o preferido ainda é o verão saltitante, das sandálias de dedo e das blusas de alça — mesmo se eu sofro. É algo a se levar em conta, quando se pensa em viajar de férias nestes meses mais quentes.

Muita gente não quer viajar no frio do inverno, mas o calor tem se tornado um assassino silencioso. Com a Europa a ferver — a ciência chama o que está havendo de stress térmico — vamos nos adaptando, indo de recorde a recorde.

Foto do Ariadne Araújo

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