Gerdau negocia suspensão temporária de contratos de trabalho no Ceará
Jornalista formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora digital de Economia do O POVO, onde começou em 2014. Atualmente, cursa MBA em Gestão de Negócios e está andamento de Certificação Internacional em Marketing Digital pela ESPM
Gerdau negocia suspensão temporária de contratos de trabalho no Ceará
A empresa confirma negociação com sindicatos locais que representam os trabalhadores das usinas de Maracanaú e Caucaia. São 631 postos de trabalho, segundo o Governo do Ceará, mas nem todos serão atingidos
A multinacional brasileira produtora de aço Gerdau negocia suspensão temporária de contratos de trabalhadores das usinas de Maracanaú e Caucaia, ambas na Região Metropolitana de Fortaleza, no Ceará.
São 631 postos de trabalho no Estado, segundo o Governo do Ceará, mas nem todos serão atingidos.
À coluna, a empresa de origem gaúcha (Porto Alegre, no Rio Grande do Sul) mas que migrou de sede para São Paulo em 2017, confirma que está em negociações com os sindicatos locais sobre a realização de layoff.
Em comunicado, informa que "o programa busca preservar os empregos existentes".
Sobre os motivos, frisa que a decisão reflete a estabilidade da demanda por aço no mercado brasileiro em níveis elevados, mas ainda abaixo do patamar registrado no período de 2020-2022.
Além de confirmar a negociação, a empresa reforça que o atendimento aos clientes se manterá inalterado.
O Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará (Sindmetal-CE), que responde por Caucaia, informou que já foi comunicado informalmente da medida e que espera recebimento oficial do programa de layoff para saber o número de atingidos.
O período de suspensão, conforme o Sindmetal-CE, vai ser de dois a cinco meses, mas a entidade prevê que dure até dezembro, e curso profissionalizante será ministrado aos funcionários.
Uma das questões a serem negociadas com a Gerdau pela entidade é a meta de manutenção do plano de saúde dos colaboradores.
Já o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Maracanaú (Sindimetalmac), representante da outra usina, tem uma estimativa de 100 funcionários que devem entrar no programa. Além disso, a entidade frisa que o acordo é melhor que uma demissão.
Procurado, o Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE) diz que ainda não há procedimento autuado no órgão em relação ao assunto.
Gerdau no Ceará
No Ceará a indústria é mais focada na construção civil. Conforme dados da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), a usina de Maracanaú tem 393 postos de trabalho, considerando o período de abril de 2023, e está enquadrada no Programa de Incentivo ao Desenvolvimento Industrial (Provin) desde julho de 1997.
Pelo Provin, são assegurados às empresas incentivos pelo prazo de até 10 anos, prorrogável por igual período; diferimento de até 75% do valor do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido; e retorno do principal de até 25%.
Já em Caucaia, na mesma base de dados, que considera o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), são 238 trabalhadores.
O programa do Governo do Ceará para esta unidade é o de Atração de Empreendimentos Estratégicos (Proade), desde dezembro 2013, que começou o benefício ainda como Siderúrgica Latino-Americana S.A (Silat) e em agosto de 2022 foi incorporada pela Gerdau, quando da conclusão da compra daquela por esta multinacional.
Por meio do Proade, o Estado garante incentivos concedidos pelo prazo de até 10 anos, prorrogável por igual período. Além disso, eles poderão ser de até 99% do ICMS relativo às operações de produção própria da empresa, com retorno de até 1%.
A coluna ainda procurou e aguarda retorno da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz) para saber o montante de renúncia fiscal que a empresa conseguiu do Governo ao longo dos anos, arrecadação e parcerias com o Estado.
Resultados da Gerdau
Conforme os resultados do primeiro trimestre de 2023 (1T23) da Gerdau, a empresa apresentou receita líquida de R$ 18,9 bilhões no período, 5,1% superior na comparação com o último trimestre do ano anterior.
As vendas alcançaram 3 milhões de toneladas de aço, sendo 11,5% acima do 4T22. Já o ebitida ajustado foi de R$ 4,3 bilhões, 19,1% superior e o segundo melhor resultado para o período analisado.
De dívida bruta, a multinacional divulgou R$ 12,3 bilhões, com geração de fluxo de caixa de R$ 2,7 bilhões. Ao resultado, atribui a "disciplina de alocação de capital da Companhia".
Na América do Norte, o ebitda foi de de R$ 2,4 bilhões e margem de 30,2% no 1T23. Já no Brasil anunciou R$ 1,1 bilhão e margem de 15,4%.
Em relação aos investimentos, foram R$ 954 milhões de aporte no período, com aproximadamente 48,8% destinados para o estado de Minas Gerais.
Sobre as ações da empresa, divulgou no balanço do primeiro trimestre de 2023 que realizou distribuição de proventos, destinando R$ 892 milhões (R$ 0,51 por ação) na forma de juros sobre capital próprio pagos em 29 de maio deste ano.
No mercado de mineração, desde fevereiro de 2023, a Gerdau utiliza o método de empilhamento a seco para a disposição de 100% dos rejeitos de mineração em Minas Gerais.
Ainda divulgou o Cubo Construliving, que é o primeiro hub focado em criar experiências inovadoras na jornada da habitação e construção.
Análise da Gerdau sobre os mercados em que atua
Em seu balanço mais recente de resultados, do primeiro trimestre de 2023, a Gerdau relata algumas situações que afetam o mercado do aço, com expectativa de crescimento econômico moderado para este ano.
No Brasil, frisa a paralisação das principais fábricas automotivas, decorrente da demanda enfraquecida frente ao encarecimento do crédito e redução do poder de compra, e da falta de insumos.
Além de vislumbrarem no País um ambiente de negócios com altas taxas de juros, endividamento das famílias e o enfraquecimento do mercado de trabalho, além da incerteza fiscal, gerando perspectivas moderadas.
Sobre o mercado em que atua na América do Norte, a multinacional aponta que, apesar de sinais positivos do setor automotivo, o mercado segue impactado por movimentos de estoque, após forte demanda no ciclo de 2021/22, e cauteloso com movimentos macroeconômicos. Já setor de óleo e gás veem com demanda aquecida.
Analisam ainda que há continuidade de fortes resultados advindos, principalmente, da demanda resiliente dos setores da construção, industrial e distribuição, incentivada pelos programas governamentais norte-americanos.
E embora com visão positiva de combinação de demanda (reshoring, nearshoring e infraestrutura), a Gerdau fala em oferta consolidada e baixa penetração de aço importado. Além de cenário de atenção com relação ao panorama macroeconômico dos Estados Unidos.
Quem é a Gerdau
Com 122 anos de história, a Gerdau é considerada a maior empresa brasileira produtora de aço e uma das principais fornecedoras de aços longos nas Américas e de aços especiais no mundo.
No Brasil, também produz aços planos, além de minério de ferro para consumo próprio. Além disso, possui uma divisão de novos negócios, a Gerdau Next, com o objetivo de empreender em segmentos adjacentes ao aço.
A companhia está em nove países e conta com mais de 36 mil colaboradores diretos e indiretos em todas as suas operações. Maior recicladora da América Latina, a Gerdau tem na sucata uma importante matéria-prima: 71% do aço que produz é feito a partir desse material.
Todo ano, 11 milhões de toneladas de sucata são transformadas em diversos produtos de aço. A companhia também é a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais.
Como resultado de sua matriz produtiva sustentável, a Gerdau informa que possui, atualmente, uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO₂e), de 0,89 t de CO₂e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 t de CO₂e por tonelada de aço (worldsteel).
Para 2031, a meta da Gerdau é diminuir as emissões de carbono para 0,83 t de CO₂e por tonelada de aço. As ações da Gerdau estão listadas nas bolsas de valores de São Paulo (B3), Nova Iorque (NYSE) e Madri (Latibex).
Tudo sobre layoffs
A pedido da coluna, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil - American Chamber of Commerce for Brazil) cedeu material explicativo sobre layoffs no País.
Para se ter ideia, a medida se refere mais à suspensão temporária de contratos, mas pode virar permanente, e é adotada pelas empresas para reduzir custos.
A prática já era conhecida no mercado de trabalho e se tornou mais frequente nos últimos tempos. O grupo Layoffs Brasil aponta 11,5 mil pessoas desligadas somente em janeiro de 2023.
O que é layoff?
Layoff é um termo em inglês que se refere à suspensão temporária ou permanente do contrato de trabalho de um, ou vários funcionários de uma empresa. Geralmente, isso ocorre devido a razões econômicas.
Essa medida permite que a empresa diminua seus custos, adaptando-se à nova realidade, sem necessariamente demitir seus funcionários permanentemente.
Há vantagens no layoff?
Para as empresas, a gestão pode aproveitar o período para reorganizar as finanças e os processos, planejando as próximas etapas de crescimento e expansão dos negócios. Veja as vantagens:
Redução de custos: O layoff é uma forma de reduzir custos com salários, encargos trabalhistas, benefícios e outros gastos relacionados aos funcionários. Assim, permite que a empresa fortaleça seus negócios.
Momento de respiro: O período com a folha de pagamento reduzida dá às empresas um tempo para voltar a operar em melhores condições.
Busca de novos acordos comerciais: Durante o período de layoff, a empresa pode buscar novos acordos comerciais, conquistar parceiros e investidores, o que ajuda na retomada das atividades.
Reestruturação: Em alguns casos, uma empresa pode precisar mudar sua estrutura organizacional ou modelo de negócios. Isso pode envolver a eliminação de certas funções ou departamentos, o que pode levar a demissões.
Eficiência operacional: Às vezes, as empresas percebem que podem operar de forma mais eficiente com menos funcionários, seja através da automação de certas funções, terceirização ou simplesmente reduzindo redundâncias.
Competitividade: Em algumas indústrias altamente competitivas, empresas podem recorrer à demissão em massa como forma de se manterem competitivas, reduzindo custos e aumentando a eficiência.
Para os colaboradores, muitas vezes, é mais difícil aos profissionais suspensos entenderem as razões e as consequências dos layoffs, mas é possível encontrar vantagens:
Possibilidade de recontratação: Se uma empresa realiza o layoff por questões econômicas, por exemplo, ainda há a possibilidade de ser recontratado quando as atividades forem normalizadas, afinal, a companhia gostava do serviço que era prestado e só não pode dar continuidade com o contrato de trabalho por razões financeiras.
Recebimento de benefício: Durante o período de layoff, o profissional tem direito de receber benefícios que podem ajudar a manter sua estabilidade financeira enquanto não se recoloca no mercado de trabalho, como o seguro-desemprego.
Quais são as desvantagens do layoff?
Incerteza para o futuro: O layoff costuma ser adotado diante de uma situação de crise. Portanto, não é garantia de recuperação da empresa, o que pode gerar incerteza ao futuro da organização e dos profissionais.
Danos à imagem do negócio: A sua adoção pode prejudicar a imagem do negócio perante o mercado, uma vez que é indicativo de problemas de gestão e escolhas inadequadas.
Redução da produtividade: Pode levar à diminuição do ânimo e do rendimento dos funcionários que permaneceram na empresa. Isso porque eles provavelmente vão precisar lidar com a sobrecarga de trabalho gerada pela ausência dos colegas que foram afetados pela medida.
Perda de talentos: O layoff pode gerar a perda de talentos importantes para a companhia, além de criar insegurança dos funcionários que restaram, que podem cogitar buscar novas oportunidades em outras organizações.
Custos com rescisão: Quando a organização encerra os contratos de trabalho definitivamente, ela precisa arcar com os custos de rescisão contratual, o que pode afetar ainda mais a sua situação financeira.
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