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Combustivel do passado
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Combustivel do passado

No futuro, teremos automóveis elétricos sem baterias, pois irão – eles próprios – gerar a energia para os motores
As possibilidades de combustível para o futuro (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Foto: José Cruz/Agência Brasil As possibilidades de combustível para o futuro

Está no Wikipedia: “Combustível é uma substância que reage com o oxigênio (ou outro comburente) liberando energia, usualmente de modo vigoroso, na forma de calor, chamas e gases”.

Os veículos atuais (com exceção, lógico, dos elétricos) queimam gasolina, álcool, diesel ou gás. Que reagem com o oxigênio e explodem (“de modo vigoroso”) liberando energia que vai até as rodas.

É assim há mais de cem anos, desde o fim do século 19, mas só agora decidiu-se enfrentar dois graves problemas:

  • O combustível utilizado é de origem fóssil (petróleo, carvão, gás) e libera o carbono acumulado há milhões de anos nas profundezas. E gera o combatido gás carbônico (CO2) que provoca o efeito estufa e aumenta a temperatura da Terra;
  • O projeto dos atuais motores é tão antigo que sua eficiência térmica é mínima. Mais de 50% da energia contida no combustível é dissipada em calor, atrito, etc.

Biodiesel, uma solução problemática

Como se evita a carbonização nos atuais motores provocada pelos combustíveis derivados do petróleo? Substituindo-os pelos biocombustíveis, produzidos a partir de óleos vegetais e gorduras animais.

No caso dos motores ciclo Otto, uma opção é o álcool, que foi um dos primeiros combustíveis dos automóveis no fim do século 19, mas substituído no início do século 20 pela gasolina.

Só na década de 70 surgiram as primeiras questões em relação aos problemas ambientais, principalmente por ela usar chumbo (naquela época) para aumentar a octanagem.

O etanol é uma excelente opção à gasolina, por ser mais limpo, ter maior octanagem e teor muito inferior de carbono.

Além disso, a cana de açúcar, da qual ele deriva, ainda absorve CO2 da atmosfera enquanto cresce no campo. Não há complexidade para se adequar o motor à gasolina ao álcool, apenas alguns ajustes mecânicos e eletrônicos para que funcione com ele também (flex) ou só com o álcool.

Já no caso do diesel, as coisas se complicam, pois o biodiesel tem características que exigem um zelo adicional para evitar problemas graves no motor.

Quando se vai aumentando seu teor no diesel acima de 10%, (no Brasil, hoje está em 14% e vai a 20% em 2030), forma-se uma borra no fundo do tanque, que entope o que encontra pela frente: filtros, bomba, bicos, etc.

Há meios de se atenuar o problema, como aditivos, limpeza de tanques, estocagem por tempo limitado, etc. Os motores sofrem também no caso de temperaturas muito baixas, pois o diesel se cristaliza. Por isso,
dificilmente se adiciona biodiesel - em outros países – em percentuais superiores a 10%.

A solução de fato está no HVO (Hydrotreated Vegetal Oil), um biocombustível também produzido a partir de óleo vegetal ou gorduras animais, porém utilizando hidrogênio (H2) no processo, resultando em
moléculas semelhantes às do diesel fóssil.

Uma excepcional alternativa energética pois praticamente não emite CO2, reduz as emissões de outros gases poluentes e totalmente compatível com os motores atuais, sem provocar nenhum dos problemas do biodiesel.

Entretanto, os produtores de biodiesel desconversam quando se sugere o HVO pois sua fabricação exige investimentos mais elevados. E pior, forçam o governo federal a homologar seu produto a partir de critérios mais políticos que técnicos.

Futuro é carro elétrico sem bateria!

Outro problema dos atuais motores a combustão está em sua absoluta ineficiência, pois é mínimo o aproveitamento da energia contida no combustível. Sua eficiência varia entre 30% e 40% em média. O “resto” é perdido em calor, atrito, um inexplicável desperdício de fontes energéticas. Só como referência, a eficiência do motor elétrico varia de 90 a 95%.

O combustível do futuro não será, portanto, utilizado por estes motores arcaicos que já deveriam estar há décadas no museu.

Será, por exemplo, o hidrogênio presente em toda a natureza (a começar da água) e contém muito mais energia (por volume) que os atuais. No veículo movido por fuel-cell (célula a combustível), um dispositivo alimentado por hidrogênio gera a energia elétrica que movimenta os motores que o tracionam.

Ou seja, roda eletricamente, mas sem bateria! Não é teoria: já existem carros e caminhões circulando assim.

Outra opção (que diz muito respeito ao Brasil) é a possibilidade de este sistema operar com H2 extraído do etanol. Alternativa em desenvolvimento por algumas das nossas universidades e que seria “sopa no mel” num país que já tem uma rede capilarizada de postos com bomba de etanol.

O problema das alternativas energéticas no Brasil é que o governo – pressionado pela bancada do agronegócio – se restringiu a estimular os biocombustíveis, apenas parte da solução ambiental e mais voltada para combustíveis do passado que do futuro.

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