Elétrico: Sr. Toyoda foi duramente criticado. Mas estava certo...
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Elétrico: Sr. Toyoda foi duramente criticado. Mas estava certo...
A Toyota ficou de fora da corrida pelos elétricos. Mas não tem do que se queixar
Foto: FABIO LIMA
Detalhe em azul que identifica carros híbridos. Modelos híbridos do Toyota Corolla e Corolla Cross
Enquanto grandes empresas anunciavam bilhões de dólares de investimentos nos elétricos, Akio Toyoda, presidente da Toyota e neto de seu fundador, enfrentou um turbilhão de críticas ao decidir diversificar investimentos em outras alternativas energéticas.
Um dos resultados foi a Toyota ter sido pioneira do sistema híbrido com o Prius lançado em 1997. E novamente pioneira com o Mirai, que se movimenta com motores elétricos, mas sem bateria, pois a corrente é gerada por uma célula a combustível (Fuel Cell) alimentada por hidrogênio. Seu elétrico só apareceu anos mais tarde.
Corrida pelo elétrico
Primeiro elétrico do mundo produzido em série? Foi o Zoe da Renault, apresentado no Salão de Genebra de 2009. Um ano depois foi a vez de sua então parceira, a Nissan, com o Leaf.
A corrida pelo elétrico agitou o setor. Em vários países foram surgindo iniciativas para se determinar uma data limite no emplacamento de carros com motores térmicos (a combustão). Os anos de 2030 e 2035 foram os marcos definidos para as barreiras legais aos automóveis a gasolina e incentivo aos elétricos. Navegando nesta onda, a CEO global da General Motors, Mary Barra, anunciou que sua empresa não iria sequer investir nos híbridos e migrar diretamente para os carros a bateria. A Ford, embora menos radical, também apostou suas fichas nos elétricos.
Os chineses foram ainda mais espertos, desenvolveram seus elétricos à frente dos ocidentais e esbanjam tecnologia na eletrificação veicular.
A euforia durou pouco e os ventos sopram hoje mais para os híbridos. Mrs Mary foi forçada a investir nesta praia e a engenharia da GM está debruçada sobre eles. A Ford encerrou prematuramente a produção da F 150 Lightening (pura elétrica), que não vingou no mercado norte-americano e passou a oferecer versões híbridas.
A Stellantis volta a produzir em agosto seu famoso V-8 Hemi (riscado do mapa por seu ex-CEO Carlos Tavares) e lança uma RAM híbrida. Na Europa, o ano de 2030 para limitar os carros à combustão já foi empurrado mais para frente. Não por falta de tecnologia, mas de adesão do mercado aos elétricos. Fábricas como Mercedes e Porsche estão ressuscitando projetos de novos motores a gasolina.
As estatísticas comprovam: segundo o JD Power, o mercado dos EUA absorveu 1,2 milhão de elétricos em 2024, uma fatia de 9,2% com crescimento de 0,8% em relação a 2023. Enquanto isso, os híbridos representaram 11% das vendas, tendo crescido 2,4% em relação ao ano anterior. Os elétricos nos EUA ainda custam – em média - cerca de U$ 5 mil mais que os carros a combustão. E desvalorizam quase o dobro no mercado de usados.
Ri melhor quem ri por último
A Toyota assistiu de camarote à enxurrada de elétricos, continuou investindo nos híbridos e logo percebeu a superioridade dos chineses nesta tecnologia.
Seu primeiro elétrico? O ainda conceito bZ4X, lançado em 2021. Um SUV com mais de 500 km de autonomia, garantia de até 10 anos e que inaugurou a linha bZ. Que significa “beyond Zero”, numa referência às emissões “zero”. Mas sua grande aposta é no segundo modelo bZ, o compacto 3X desenvolvido em parceria com a chinesa GAC e que será comercializado inicialmente apenas na China. Um SUV com preços mais que competitivos e que aplica todo o aperfeiçoamento dos elétricos conquistado pelos chineses até agora.
A estratégia de “seu” Toyoda é iniciar apenas em 2027 os lançamentos globais de elétricos começando por sua linha de luxo, a Lexus. Com uma nova plataforma flexível e modular projetada para reduzir custos, acelerar tempo e eficiência na linha de montagem. Enquanto a concorrência investia bilhões nos carros a bateria, sua marca continuou desenvolvendo os híbridos. Que, hoje, todos percebem tornar-se a melhor opção do mercado até que os elétricos sejam mais viáveis em termos de custo, alcance, recarga e valor de revenda.
Pelo andar da carruagem, quando este dia chegar, a Toyota já terá um portfólio com uma completa linha de eletrificados. E Akio Toyoda, sorridente num ofurô familiar, contando para seus herdeiros e sucessores como se sair vitorioso neste complexo jogo contra os mais poderosos players do mundo.
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