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Mais um (forte) motivo para eu não gostar de SUV
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Mais um (forte) motivo para eu não gostar de SUV

Fábricas insistem – por conveniência – na "tendência". Mas pesquisa incontestável prova sua periculosidade

O SUV é uma maquiavélica invenção da indústria automobilística para aumentar sua rentabilidade, pois incrementa preços apesar de reduzir a entrega.

As fábricas contribuem como podem para tornar o utilitário esportivo uma “tendência”, agregam uma duvidosa pitada de charme ao modelo, gente famosa ao volante, forçam a barra para que ele apareça em filmes, novelas e séries.

E o cliente paga mais só para sair bem na foto, certo de estar levando (e exibindo para o vizinho) o que de melhor existe hoje disponível no mercado. Mas não troco um sedã ou perua por nenhum deles.

Além dos inúmeros pontos negativos do SUV, que acho desnecessário repetir, surgiu mais um, objetivamente perigoso: a redução de visibilidade do motorista que, como consequência, aumentou o número de acidentes com pedestres e ciclistas.

A pesquisa foi conduzida pelo IIHS (Instituto de Seguros para Segurança Rodoviária) nos EUA, que registrou uma elevação do número de acidentes envolvendo pedestres e ciclistas num período de 25 anos (entre 1997 e 2022). E uma efetiva redução na visibilidade do condutor nos SUV´s, os veículos que mais aumentaram sua participação percentual no mercado norte-americano.

O aumento de pontos-cegos nos SUV’s provocou uma redução de até 40 pontos percentuais na visibilidade. O IIHS aferiu esta diferença instalando câmeras à altura dos olhos do motorista para definir que superficie ele é capaz de identificar 10 metros à frente do volante. Num Honda CR-V versão 1997 a área era de 68%, enquanto no modelo 2022 ela se reduziu para 28%.

A obstrução da visibilidade frontal do motorista é provocada pela maior altura do capô, enquanto os grandes retrovisores bloqueam a visão na diagonal. Os pilares A (colunas entre parabrisa e porta dianteira) também contribuem para aumentar os pontos cegos.

No caso de um SUV da GM, o Suburban, a área foi reduzida de 58% também para apenas 28%, pelos mesmos motivos.

Ao contrário dos SUV´s, os sedãs Honda Accord e Toyota Camry não tiveram crescimento tão significativo dos pontos cegos. O Accord, no mesmo período, teve redução de visibilidade inferior a 8%.

Pesquisadores do Centro Volpe (do Departamento de Transportes dos EUA) foram os primeiros a usar este método do IIHS para determinar a área de visão do motorista em volta do veículo.

“Precisamos investigar se esta é uma tendência mais ampla que pode ter contribuído para o recente aumento nas mortes de pedestres e ciclistas”, disse o presidente do Instituto, David Harkey.

"Este estudo também ilustra que o novo método desenvolvido pelo IIHS oferece aos pesquisadores uma maneira simples e recorrente de avaliar a visibilidade do motorista”.

Este novo método usa um software e uma câmera portátil que pode ser posicionada em diversas alturas no banco do motorista, simulando suas diversas alturas. A rotação da câmera permite criar uma imagem de 360º que determina o campo de visão do motorista, e também um valor numérico da porcentagem de área no entorno do veículo com visibilidade.

Como o sistema permite que engenheiros e pesquisadores obtenham informações em show-rooms e outros locais de fácil acesso, a pesquisa está sendo realizada atualmente em cerca de 150 diferentes modelos, avaliando os efeitos das diferentes zonas de pontos cegos em acidentes com pedestres. E também a relação entre pontos cegos e indenizações das companhias de seguros.

Eu nunca tive especial simpatia pelos SUV´s. E sou eventualmente contestado sob alegação de subjetividade em alguns dos meus argumentos. Mas o aumento de acidentes com pedestres e ciclistas provocado pela redução de visibilidade é incontestável.

Será que a indústria automobilística (apoiada pelas seguradoras... ) vai novamente usar de sua criatividade, criar uma nova “tendência” menos perigosa e declarar ultrapassado o SUV?

Mais Boris? autopapo.com.br

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