Hugo Motta quer gasolina com 35% de etanol. Motorista, nem tanto...
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Hugo Motta quer gasolina com 35% de etanol. Motorista, nem tanto...
Mais etanol na gasolina é problema para quem não tem motor flex. Maior custo por km para todos
Foto: Marina Ramos/Ag, Câmara
Hugo Motta presidente da Câmara dos Deputados
Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, defendeu na segunda-feira, dia 20 de outubro, aumentar o percentual de etanol na gasolina de 30% para 35%, para “fortalecer a produção de biocombustíveis no Brasil”, percentual previsto na Lei “Combustível do Futuro” votada pela Câmara em 2024. E prevê uma redução da dependência do país à importação de combustíveis fósseis. No entanto, o deputado se esquece:
1 - De que a lei (Combustível do Futuro) permite aumentar o etanol anidro até 35%, mas lei política nenhuma é capaz de derrubar as leis físico-químicas que ditam as normas de operação dos motores;
2 - De que, ao se realizar os estudos para viabilizar os 30% de percentual do etanol anidro na gasolina, acendeu-se a luz amarela de atenção pois alguns modelos testados começaram a apresentar problemas. Que não afetaram objetivamente o funcionamento dos motores, mas sinalizaram que um novo acréscimo poderia prejudicá-los;
3 - De que milhões de carros e motos não têm a tecnologia flex e podem sofrer com o etanol. As motocicletas foram as primeiras a sinalizar problemas com o E30, principalmente na partida a frio;
4 - Quem tem “muito” pode se dar ao luxo de abastecer com gasolina premium (25% de etanol) e ficar livre dos altos teores de álcool, mas quem tem pouco...
5 - Quanto mais etanol no tanque, maior o consumo de combustível pois seu valor energético é inferior ao da gasolina, o que reduz a quilometragem por litro e afeta o bolso do motorista;
6 - De que o governo, para compensar, promete reduzir o preço da gasolina quando sobe o teor de etanol. Mas não cumpre: o percentual subiu de 27% para 30% em 1º de agosto e só agora, no final de outubro, houve uma efetiva redução do custo da gasolina para as distribuidoras;
Ver de novo?
Como é aprovado o novo percentual, caso a proposta de Hugo Motta seja levada adiante? A decisão é da Comissão Nacional de Política Energética (CNPE), constituída pelo próprio Ministério de Minas e Energia (MME) com membros de ministérios, técnicos e autoridades no assunto, que não tem um corpo técnico para esta avaliação.
O governo contrata então um órgão independente (no caso do E30, o Instituto Mauá de Tecnologia) para emitir um parecer sobre o comportamento dos veículos com o novo percentual.
É a tal da “viabilidade técnica” prevista na Lei, e teremos um repeteco do processo que culminou com a aprovação, em junho, do aumento do percentual de etanol de 27% para 30%, efetivado em 1º de agosto. O Mauá realizaria ensaios para aprovar o novo teor, e o CNPE avaliza o resultado.
E tecnicamente?
Sem problemas para quem tem carro flex. Mas o E35 pode trazer problemas para veículos com motor a gasolina. Se ele ainda tiver carburador, dá para resolver com uma “gambiarra”: aumentar o giguilê (“gicleur”), para permitir maior fluxo de combustível. E uma “regulada” no avanço do distribuidor.
Os importados com injeção não tão antigos se ajustam automaticamente pela central eletrônica. Porém, os bem mais antigos não são capazes de se ajustar ao maior teor de etanol.
Principalmente porque o CNPE ainda mantém, inexplicavelmente, o padrão de etanol na gasolina como E22, determinado por uma lei federal de 1993. E mantido inalterado até hoje, apesar de vários aumentos da mistura. Isto significa que todos nossos motores são calibrados para este teor, que não existe na prática.
Extremamente prejudicial pois os sistemas eletrônicos não se ajustam para teores mais elevados de etanol, ainda que os ensaios do Mauá não revelem problemas operacionais. Mas não se verificam emissões de poluentes, aldeídos ou hidrocarbonetos.
Nem como outras variáveis (detonação, velocidade de chama, calor de vaporização, etc) se comportam com esta nova composição gasolina/etanol. Ou os eventuais problemas provocados por esta nova mistura a longo prazo nos veículos.
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