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O fio da desinformação nos conduziu de 2013 a Mauro Cid
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Estagiou como produtor na Rádio O POVO/CBN e repórter do portal de notícias O POVO. Na editoria de Política, atuou como estagiário e, desde janeiro de 2019, é repórter. Cobriu as eleições de 2018 e 2020. Participou da quarta fase do Projeto Comprova. A coluna é dedicada principalmente ao acompanhamento e análise do fenômeno da desinformação e das fake news. Como elas influenciam o cenário político e quais conteúdos fraudulentos têm mais repercussão

O fio da desinformação nos conduziu de 2013 a Mauro Cid

Era o germe do sentimento antipolítica que ganharia corpo com o nascimento e o advento da operação Lava Jato, a partir do ano seguinte
Tipo Opinião
Manifestação em Fortaleza, na avenida Alberto Craveiro, em junho de 2013, contra a Copa das Confederações (Foto: Mauri Melo, em 19/6/2013)
Foto: Mauri Melo, em 19/6/2013 Manifestação em Fortaleza, na avenida Alberto Craveiro, em junho de 2013, contra a Copa das Confederações

Há 10 anos, a desinformação e o Brasil começavam a confundir seus caminhos sobre o chão comum da política. Eram desconhecidas discussões sobre fakenews, tampouco a respeito de educação midiática. Eu sei que tudo isso tinha seu modo de existir que independe de conceituações jurídicas ou acadêmicas, mas, como diria o atacante Bruno Henrique (Flamengo), as coisas atingem “outro patamar” quando damos nomes a elas.

A genuína revolta em relação aos descaminhos refletidos no aumento da tarifa de ônibus de São Paulo se espalhou por todos os cantos do País. A indignação toda foi temperada quando a Polícia Militar de São Paulo aplicou quase que de modo inédito, em jovens de classe média, mesmo expediente utilizado nas periferias com conhecida frequência.

Era o germe do sentimento antipolítica que ganharia corpo com o nascimento e o advento da operação Lava Jato, a partir do ano seguinte, até chegarmos àqueles dias bolsonaros, de 2018 a 2022. "Não vai ter copa", ouviu-se em uníssono o grito emocionado de uma gente que passou a conhecer as ruas ali. São Paulo era um estado governado por Geraldo Alckmin (então no PSDB), com sua capital administrada por Fernando Haddad (PT).

Não foi o acaso que juntou os dois, agora em circunstâncias bem diferentes e decorrentes daquele mês, por que não? Se se observar bem… Não sou fanático de 2013, como alguns que atribuem a gripe que adquirem a junho daquele ano. Ou como setores específicos de uma esquerda que negam a legitimidade da exaustão patente em relação ao mundo político - negam sobretudo suas consequências. Ela tem seus ecos e é possível ligar pontos.

Ali se dava o início do processo de eficiente captura, pela extrema-direita, de uma energia de revolta eleitoralmente valiosa, no entanto despolitizada. Eu diria que eleitoralmente valiosa porque despolitizada. Esta que seria derrotada em 2022, após grande concertação feita por dentro da política, incorporada pela aliança entre os até ali tradicionalíssimos adversários Lula e Alckmin.

Bandeiras de partidos políticos, quando levantadas em 2013, eram desencorajadas no ato. “Meu partido é o Brasil”, ouviu-se naquele ano e leu-se mais tarde na camisa ensanguentada de Bolsonaro. A canseira contra o sistema político era a síntese perfeita de um cansaço das pessoas com o estado de coisas de maneira geral. Alimentou ressentimentos, desejos de revanche.

O ímpeto antissistema também mostrou uma de suas faces na revolta inicial contra a imprensa tradicional, até que setores importantes dela dessem corpo às manifestações, principalmente quando seu conteúdo ideológico tomou forma mais bem definida.

O que é que o tenente-coronel do Exército Brasileiro, Mauro Cid, tem a ver com tudo isso? Escrevo a pergunta e logo penso que a crença em sandices necessita de gente que dê verniz de razoabilidade a elas. O ódio e a desinformação fizeram o jovem militar acreditar que forças com cheiro de atraso que compuseram os governos que antecederam Bolsonaro não infestariam o governo dele.

Falei em sandices com jeito de coisa séria numa referência ao jurista Ives Gandra, a argamassa intelectual que dá liga ao processo caótico da cabeça dos Mauros que ocuparam quartéis e fizeram a depredação de Brasília no dia 8. Para os quais dói conceber a possibilidade remota de o sistema eleitoral brasileiro ser sério.

Que por meio dele, do sistema eleitoral, Bolsonaro foi derrotado. É Gandra quem faz parecer argumento sério (sabe-se que para muita gente) a deturpação do artigo 142 da Constituição Federal. Ou seja, interpreta que as Forças Armadas podem atuar como poder moderador em momentos de tensões institucionais.

Aterrissagens

"Este encontro aos sábados entre quem assina estas mal traçadas linhas e quem se presta a lê-las, num gesto de bravura e destemor, será interrompido por tempo indeterminado", escrevia há pouco mais de sete meses ao me distanciar deste espaço. Agora retorno para, prioritariamente, analisarmos com cuidado e atenção como a desinformação e a política cearense e brasileira têm convivido.

Foto do Carlos Holanda

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