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Briga por apoio de Camilo só vai aumentar
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Briga por apoio de Camilo só vai aumentar

Camilo tem sido presença constante em agendas públicas e inaugurações de obras com Roberto Cláudio (PDT) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita Camilo tem sido presença constante em agendas públicas e inaugurações de obras com Roberto Cláudio (PDT)

Novo dado da pesquisa O POVO/Datafolha divulgado nesta segunda-feira expõe uma inquietação grande (e bem previsível) na base do governo Camilo Santana (PT) no Ceará. Mesmo comprovadamente o padrinho político que mais impacta positivamente campanhas em Fortaleza - Lula garante mais apoio certo, mas também carrega rejeição maior -, Camilo não tem conseguido usar dessa influência na disputa. Questionados sobre quem o governador apoia na disputa, 56% dizem não saber, 18% citam Luizianne Lins (PT) e 15% José Sarto (PDT). Até o oposicionista radical Capitão Wagner (Pros) é citado por quantidade expressiva dos entrevistados, 4%, como o candidato de Camilo.

A confusão em torno do apoio tem explicação óbvia: o governador está hoje de "mãos atadas" para entrar mais diretamente na disputa. Durante a fase da pré-campanha, Camilo foi defensor radical de uma composição entre PDT e PT na disputa, chegando inclusive a exonerar o assessor especial Nelson Martins (PT) no prazo da legislação eleitoral. A ideia era abrir caminho para uma candidatura de Nelson como vice de um nome pedetista ou até na cabeça da chapa. A intenção era evitar justamente o que acontece agora em Fortaleza: a existência de duas candidaturas fortes da base aliada, com Luizianne Lins e José Sarto.

Hoje muito mais do time "Ferreira Gomes" do que petista, Camilo parece que gostaria de estar livre para apoiar livremente o nome do PDT na disputa. Razões não faltam: além do próprio tamanho expressivo do partido em sua base de sustentação - 14 dos 46 deputados estaduais cearenses são pedetistas -, o governador tem ainda relação pessoal de amizade e gratidão com os líderes locais da sigla, Cid e Ciro Gomes (PDT), que muito influenciaram na primeira eleição do governador, ainda em 2014.

Neste sentido, Camilo tem, por exemplo, sido presença constante em agendas públicas e inaugurações de obras em parceria com a gestão Roberto Cláudio (PDT), cabo eleitoral maior de Sarto. Além disso, o petista tem feito uma série de elogios ao candidato pedetista em entrevistas e nas redes sociais, sempre destacando "grande parceria" entre eles. Até o vice na candidatura do PDT, o ex-secretário estadual Élcio Batista (PSB), é visto como uma indicação direta do governador na chapa.

A barreira petista

A inclinação para sair em campanha por Sarto, no entanto, esbarra em determinação do PT Nacional pela candidatura própria de Luizianne Lins em Fortaleza. Tentando se recuperar do forte baque eleitoral que sofreu em 2016 - ainda na onda do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e fase mais midiática da Lava Jato -, o partido bateu o pé e decidiu lançar candidaturas em todas as principais cidades do País.

Na relação da direção petista, Fortaleza sempre foi vista como uma das principais capitais com chances reais de vitória do partido. A própria Luizianne também tem mantido bons índices nas pesquisas, com preferência de quase um quarto do eleitorado, o que a garantiria no segundo turno. Nesse mesmo sentido, também chama atenção a influência que o ex-presidente Lula possui na disputa da capital cearense, outro ponto para a candidata petista.

Mesmo tendo conseguido "converter" algumas lideranças locais do PT Fortaleza para a tese de composição com o PDT, como o deputado Acrísio Sena e o secretário Artur Bruno, Camilo não conseguiu parar o ímpeto nacional pela candidatura própria. Dá para entender: se tem viabilidade eleitoral com a candidatura, não faria muito sentido para o PT abrir mão de uma candidatura já no primeiro turno apenas para manter a aliança local com pedetistas.

O problema maior acaba sendo o próprio perfil de Luizianne na disputa. Mais que só uma candidata para representar o PT na disputa, a petista tem tocado campanha de confronto direto com a administração Roberto Cláudio. Em várias das propostas e discursos, a deputada tem focado críticas na atual gestão e denunciado a descontinuação de projetos que tocava enquanto era prefeita. Justamente o discurso que Camilo tentou evitar na disputa.

Resta saber até quando o governador, certamente interessado em evitar conflitos com o PDT e o clã Ferreira Gomes, permanecerá contido na campanha. Falta menos de um mês.

 

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