O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
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Apoio de Jair Bolsonaro a Capitão Wagner (Pros) é hoje a mais impactante força definidora de posições no xadrez político de Fortaleza. Caso o Capitão de Brasília não tivesse declarado adesão à campanha do Capitão de Fortaleza, cenário da segunda etapa da eleição provavelmente seria bem diferente do que ocorre na reta final da disputa. Ao contrário do que pode parecer, no entanto, apoio do presidente da República acabou tendo fatura alta para o candidato do Pros, que acaba sendo mais prejudicado do que ajudado.
A afirmação ficou clara após a semana passada, quando sete dos oito partidos que deixaram a disputa em Fortaleza após o 1º turno se manifestaram em apoio a José Sarto (PDT). Deste total, boa parte justificou a adesão não a uma simpatia maior ao candidato pedetista, mas mais a uma rejeição à associação entre Capitão Wagner e Bolsonaro. Cenário lembra muito disputas por todo o País, como no Rio de Janeiro, onde diversos candidatos de partidos de esquerda declararam apoio a Eduardo Paes (DEM) - a quem fizeram oposição por anos - apenas como forma de derrotar o bolsonarista Marcelo Crivella (Republicanos).
O deputado federal Célio Studart (PV), por exemplo, não parece ter grandes ressalvas ao nome de Wagner em si. Em 2016, o candidato derrotado do PV inclusive apoiou o candidato do Pros quando ele concorreu a prefeito contra Roberto Cláudio (PDT). Na época, Célio foi eleito vereador mais votado de Fortaleza e fez várias gravações com o militar, inclusive longa peça de campanha onde Studart "entrevistava" Wagner sobre pautas como causa animal e proteção ambiental. Na última quinta-feira, no entanto, o candidato do PV declarou apoio a Sarto no 2º turno deste ano, destacando apoio de Bolsonaro como determinante para a escolha.
"Não podemos deixar que Fortaleza possa ser um terreno fértil, uma terra para a reeleição de Bolsonaro, ou uma terra de intolerância, preconceito, discriminação, da falta de respeito (...) poderia até ser conveniente ficar neutro, mas não adianta ficar neutro agora e chorar depois", disse o deputado, que ficou na 5ª posição do 1º turno com 45,3 mil votos (3,54%).
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A julgar pelo histórico das últimas disputas, outros partidos que tiveram definição rumo ao pedetismo influenciada pelo apoio de Bolsonaro foram o PT e o Psol. Opositores de Roberto Cláudio (PDT) em Fortaleza, os dois partidos de esquerda adotaram postura neutra no segundo turno das últimas duas eleições em Fortaleza, incluindo embate entre o prefeito e Capitão Wagner em 2016. À época, os dois partidos criticavam sobretudo o alinhamento de RC com o grupo políticos dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT).
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Na disputa deste ano, no entanto, ambos decidiram ignorar richas com os Ferreira Gomes e pularam para o lado do PDT. O deputado Elmano de Freitas (PT) resume bem a situação: "O Wagner fez uma escolha política, que foi a de se associar à extrema-direita e ao Bolsonaro. Não foi o PT quem mudou ou fez isso, foi ele. O Wagner que nos apoiou lá em 2012, que procurava o Lula, não é o Wagner de 2020, que está com esse pessoal todo do bolsonarismo". Em nota sobre a adesão ao PDT, o Psol também destaca relação Wagner-Bolsonaro e diz que fará oposição a Sarto ainda que ele saia vitorioso da disputa.
Ou seja, apoio de Jair Bolsonaro de fato acabou fortalecendo um candidato na disputa. Só não foi o que o presidente esperava fortalecer.
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