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Entenda detalhes da acusação contra Cid e Ciro
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Entenda detalhes da acusação contra Cid e Ciro

A operação da Polícia Federal tem como base delação de executivos da Galvão Engenharia, que realixou obras no Ceará
Tipo Opinião
Senador Cid Gomes  (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Senador Cid Gomes

Deflagrada ontem em Fortaleza e outros municípios, a Operação Colosseum tem base na delação premiada de quatro executivos da Galvão Engenharia, empreiteira que realizou diversas obras no Ceará durante o governo Cid Gomes (PDT). Segundo depoimento de Dario de Queiroz Galvão, o suposto esquema envolveria a liberação de créditos legítimos da empresa com o Governo do Ceará, que ficariam "embarreirados" pelo governo do pedetista e só seriam liberados após o pagamento de propinas e doações eleitorais.

"Créditos legítimos eram atrasados por motivos que não entendiam muito bem. Os valores devidos eram acumulados e, em determinado momento, era necessário fazer acertos com Lúcio Gomes (irmão de Cid e Ciro, atual secretário de Infraestrutura do Ceará) para receberem o que tinham que receber. Isso acontecia com muita frequência nos períodos eleitorais, a cada dois anos", diz termo do depoimento, incluído na decisão que determinou os mandados cumpridos ontem contra os irmãos pela PF.

"Nos encontros com Cid e Ciro, o colaborador apresentava a relação de créditos que a empresa tinha a receber no Estado do Ceará e dizia que a empresa estava à disposição para os pagamentos e doações necessárias para o grupo", diz o delator. O esquema teria anuência de dois procuradores-gerais do Estado, Fernando Oliveira (atual procurador-geral do Município de Fortaleza) e José Leite Jucá, e do advogado Hélio Parente, que depois seria indicado conselheiro do extinto Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (TCM).

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Troca de repasses

Segundo os delatores, o governo teria feito uma série de repasses de créditos devidos à Galvão - incluindo dois repasses de R$ 300 mil e outro de R$ 400 mil em agosto de 2012 e outro de R$ 1,5 milhão em setembro de 2012. Em troca, a empresa teria se comprometido então com duas doações eleitorais ao Diretório Nacional do PSB (partido em que o grupo político de Cid e Ciro era filiado à época), uma de R$ 1 milhão em 16 de outubro de 2012 e outra de R$ 500 mil em 24 de outubro de 2012. A vinculação entre as doações e créditos seria possível a partir da análise de e-mails apresentados pelos empreiteiros.

Delação da JBS

A acusação que baseia a Colosseum é muito parecida com outra realizada, em maio de 2017, pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, executivos da JBS, em delação premiada. Segundo eles, o governo Cid teria "embarreirado" créditos de isenção do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) de uma empresa do grupo, a Cascavel Couros, em troca de doações eleitorais. As acusações, no entanto, até hoje nunca foram provadas nem geraram qualquer condenação para os envolvidos.

Perguntas sem resposta

Alguns dos pontos que "amarram" a decisão, no entanto, parecem frágeis e já começam a ser questionados por Cid, Ciro e seus aliados. Ainda não é claro, por exemplo, as razões da inclusão de Ciro Gomes entre os alvos da operação, uma vez que o primogênito Ferreira Gomes é listado como "agente público" mesmo sem possuir, à época das supostas irregularidades, qualquer cargo público ou ingerência decisiva sobre atos do governo.

Em determinado momento dos depoimentos, um dos delatores cita a presença de Ciro em reuniões que teriam tratado dos repasses ilegais. O próprio delator, no entanto, depois diz que nunca tratou de propinas com os irmãos. Outro delator afirma que nunca sequer se reuniu com Ciro, apenas com Cid. Quase todos, no entanto, citam o irmão Lúcio como o "operador" do esquema, sendo inclusive chamado pelos codinomes "tela" e "tela plana"

Aliados de Cid Gomes também destacam possível violação de prerrogativas de senador pela decisão de um juízo de 1ª instância, bem como os poucos elementos para a inclusão dos ex-PGEs e de Hélio Parente no caso. O juiz destaca, nos autos, que não são apenas as delações que basearam a decisão, como outros depoimentos obtidos. Ações questionando os pontos devem ser apresentadas nos próximos dias. Além disso, Cid deverá procurar colegas do Senado, propondo inclusive a instalação de uma CPI para investigar um possível aparelhamento da PF por aliados de Jair Bolsonaro.

 

 

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