O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política
Crescem nos bastidores da Assembleia Legislativa movimentações no sentido de cobrar André Fernandes (PSL) sobre acusações feitas pelo deputado estadual contra o secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto Martins. Na semana passada, o parlamentar acusou o secretário de estar "pressionando” profissionais da saúde para fraudarem atestados de óbito de olho em alavancar o número oficial de mortos por Covid-19 no Estado. Vale lembrar que, paralelamente, Fernandes já é alvo de representação no Conselho de Ética da Casa, após ter acusado (sem provas) o colega Nezinho Farias (PDT) de envolvimento com facções criminosas.
Assim como no caso Nezinho, aliados do governo querem cobrar Fernandes por provas para as acusações – extremamente graves, aliás. A coisa só não se tornou pública ainda pois, do outro lado, há parcela que prefere evitar o conflito. Argumentam que, como a Assembleia está em trabalhos remotos, seria melhor “ignorar” o parlamentar e focar sessões em ações voltadas para novo coronavírus. “Terá que provar, mais uma vez. Como não procede, se trata de mais um fake news do deputado que já responde por quebra de decoro na Assembleia”, disse nas redes sociais Acrísio Sena (PT), um dos que se pronunciaram sobre o caso.
Casos de Nezinho e Cabeto não foram os primeiros envolvendo o deputado. Em novembro do ano passado, o governador Camilo Santana também entrou com representação criminal contra o deputado, se dizendo vítima de "calúnia, injúria e difamação". Na ocasião, Fernandes tinha acusado o petista de ter tentado “roubar” créditos de Bolsonaro por obras feitas com recursos federais no Ceará. Durante a campanha de 2018, a campanha do governador chegou também a representar o então candidato por caso semelhante, mas a ação foi arquivada.
Na semana passada, a acusação de Fernandes foi motivo de nota da coluna do colega Érico Firmo, que responde por este espaço ao longo da semana. Na matéria, ele reproduz na íntegra a acusação de Fernandes, sem qualquer juízo de valor. Por envolver figura expressiva – trata-se de um parlamentar com mandato, deputado estadual mais votado pelo Ceará em 2018 –, é óbvia a relevância da notícia, ainda mais se tratando de acusações tão graves. Apesar disso, o deputado protestou contra o texto.
No mesmo dia, o parlamentar foi às redes sociais e classificou a notícia como tentativa do O POVO em "bater" nele e "tentar descredibilizar" sua imagem. Isso tudo por uma denúncia feita pleo próprio deputado. O possível motivo de incômodo do deputado é a lembrança, feita ao final do texto, de que ele foi um dos dois únicos parlamentares a votarem contra uma lei que estabelece multa a quem divulgar "fake news" no Estado – sendo o outro voto de outra bolsonarista, Dra. Silvana (PL). Um fato, contra o qual não cabe opinião nem muita discussão.
Estranha a rejeição de um parlamentar contra a divulgação de uma denúncia feita por ele próprio. Pode levantar em alguns a impressão de que, de fato, o deputado não possui elementos para basear a acusação. Vale lembrar que, em sua mensagem, Fernandes sugere um grande complô para falsificar dados públicos em plena pandemia, inclusive com envolvimento de gente de alto escalão. Não poderia deixar de ser levada extremamente a sério.
O curioso é que, um dia depois da polêmica, Fernandes estava em Brasília em almoço com Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, disse que usou o encontro para informar o presidente do atual quadro da doença no Ceará. Será que a história envolvendo Cabeto chegou até lá?
Aprovada na Assembleia e sancionada pelo governador Camilo Santana no início do mês, a lei que pune divulgação de fake news, aliás, ainda aguarda regulamentação no Estado. Atualmente, ainda é esperada a palavra final da Procuradoria Geral do Estado sobre os critérios que serão usados para a aplicação direta da norma. O projeto é acompanhado de perto não só por bolsonaristas, mas inclusive por diversas entidades de imprensa.
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