Curadora cearense da Mostra de Tiradentes destaca propostas da seleção de curtas do evento
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Curadora cearense da Mostra de Tiradentes destaca propostas da seleção de curtas do evento
Integrante da equipe curatorial de curtas do evento, Camila Vieira fala ao V&A sobre "filmes de pandemia", processo de escolha para a 24ª edição e obras cearenses
Dentre os 114 filmes que compõem a programação gratuita e on-line da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes - que segue até o próximo dia 30 -, 79 são curtas-metragens. A equipe de curadoria do formato, composta por Camila Vieira, Tatiana Carvalho Costa e Felipe André Silva, escolheu o recorte a partir de 748 obras inscritas. Os curtas selecionados se dividem em oitomostras, sendo uma competitiva - a Mostra Foco, com 11 curtas, entre eles o cearense "Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que Não Existe Mais", de Rafael Luan e Mike Dutra. Ao Vida&Arte, a curadora cearense Camila Vieira apresentou panorama dos filmes inscritos, adiantou temas dos quatro curtas do Estado na programação e refletiu sobre os "filmes de pandemia".
Estes últimos representaram, afirma Camila, um percentual "expressivo" do total de inscrições. Obras feitas "durante ou sobre" a pandemia e o isolamento social somaram 134 curtas entre os 748 inscritos, 18% do total. "É um número bastante expressivo. A gente já esperava inscrições de filmes feitos nesse período e sobre esse assunto. No entanto, boa parte deles traziam imagens recorrentes de pessoas isoladas em suas casas, tristes, dormindo, encostadas na parede, em posição fetal, se lamentando de um tempo que se perdeu", descreve Camila. "Isso nos impressionou bastante e fez com que a gente refletisse se cabiam na programação", avança.
A partir da repetição de imagens - e discursos -, a equipe de curadoria escolheu, dentre os filmes "de pandemia" inscritos, somente três: "República", de Grace Passô, que compõe a Mostra Vertentes da Criação; "Drama Queen", de Gabriela Luíza, na Mostra Foco; e "Minha bateria está fraca e está ficando tarde", de Rubiane Maia e Tom Nobrega, na Mostra Panorama. A decisão, aponta a curadora, buscou "outras propostas". "Eles propõem uma capacidade imaginativa que não está dentro dessa ordem da repetição das imagens", explica Camila.
"Encontrar um número muito expressivo de filmes de pandemia foi justamente o que fez com que a gente pensasse sobre o que estávamos querendo propor em termos de 'Vertentes da criação'", avança a curadora, citando a temática que norteia a edição deste ano de Tiradentes. Se no ano passado o tema foi "A Imaginação como Potência", a chegada da pandemia dificultou a realização, já anteriormente impactada por esvaziamentos de políticas para o audiovisual no País por parte do Governo Federal.
"Como é que esses realizadores podem se reinventar e propor novas formas de imaginação?", indaga Camila. Na mostra dedicada à temática do ano, então, a busca foi por filmes que respondessem ao "lugar da tristeza e da impotência" imposto pelas forças do neoliberalismo, como indica a curadora. "República" é um ponto de encontro entre o "filme pandêmico" e essa reação à inércia. "Ele é bastante propositivo no sentido de refletir de forma muito contundente sobre o que é esse projeto de país que a gente está vivendo", avalia.
Junto ao filme de Grace Passô, a Mostra Temática reúne ainda mais dois curtas: "Filme de Domingo", dirigido por Lincoln Péricles, e "Uma Noite sem Lua", da realizadora-performer Castiel Vitorino Brasileiro. Além de terem seus filmes exibidos, Grace e Lincoln ainda participam de debates, enquanto Castiel assina um texto no catálogo da edição.
"A Castiel tinha participado no ano passado de uma mesa e volta com filme selecionado e um texto no catálogo sobre o processocriativo dela, como uma travesti preta realizando esse filme e tantos outros. 'Filme de Domingo' é um curta de celebração, afirmando uma potencialidade de vida que está muito distantedoensimesmamento e da tristeza que a gente viu, por exemplo, nos filmes de pandemia", relaciona Camila.
Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que Não Existe Mais
Dirigido por Rafael Luan e Mike Dutra - MOSTRA FOCO
"Ele está numa sessão com filmes que elaboram distopias que têm a ver com o nosso momentopresente, mas tentando articular isso com o que foi vivido no passado - seja o que os personagens viveram ou que uma situação de País viveu - e como isso também se articular com uma possibilidade de pensar um futuro ou uma 'futuridade'", aponta a curadora Camila Vieira
Disponível no site do evento a partir de 27/1, às 22 horas, por 48 horas
Pátria
Dirigido por Lívia Costa e Sunny Maia - MOSTRA FORMAÇÃO “O ‘Pátria’ está na Mostra Formação e foi feito na Escola de Realização de Audiovisual da Vila das Artes. É um curta que é feito todo com imagens de arquivo procurando entender como é que se dá essa construção de nacionalismo e de defesa da pátria a partir dos códigos do patriarcado e como isso é problemático”, resume Camila.
Produzido por alunos da rede pública de Icapuí sob orientação de Analúcia Godoi - MOSTRINHA “O curta produz uma narrativa sobre o vento que vai passando pela cidade e acaba sendo um personagem do filme. Esse vento vai sobrevoando e mudando a fauna e a flora, dando vida a esse espaço. É um filme muito bonito pra gente pensar questões ambientais a partir dele”, afirma Camila
Dirigido por Sávio Fernandes e Muniz Filho - MOSTRA PRAÇA “É um filme que segue essa personagem que participa de karaokês que acontecem nessas noites de seresta com um público muito diferenciado e ela anima as festas. É um documentário extremamente próximoda personagem, muito festivo pra qualquer pessoa que assiste. Pega muito pela relação muito próxima com o público, que pode ter uma empatia muito forte com a personagem", aponta a curadora
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