Mostra de Cinema de Tiradentes chega à 24ª edição em formato on-line
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Mostra de Cinema de Tiradentes chega à 24ª edição em formato on-line
Adaptada ao formato on-line, 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes começa nesta sexta, 22, ofertando gratuitamente 114 filmes - entre eles, sete produções cearenses
No final de janeiro de 2020, a realização plena da Mostra de Cinema de Tiradentes - ou seja, presencialmente na cidade histórica, com jornalistas, pessoas convidadas e moradores da região - foi, talvez, um dos últimos eventos de audiovisual do Brasil antes da confirmação da pandemia no País. Em 2021, o dia 22 de janeiro marca o início da 24ª edição da Mostra, a primeira em formatovirtual. Até o dia 30, toda a programação - incluindo 114 filmes, 24 debates, 10 oficinas, cinco shows e mais - estará acessível no site do evento.
A cidade mineira acolhe anualmente a Mostra, que marca o início do calendário do setor no País e é realizada pela Universo Produção, que também promove outros eventos de audiovisual em Minas Gerais. Todos tiveram edições em 2020 no novo formato. A experiência acumulada ajuda a concretizar a edição on-line, mas a mostra se difere das outras por ter carátercompetitivo e ser uma janela importante da produção nacional contemporânea.
"Incorporamos que 2021 vai ser uma edição especial, diferente, transitória, como reflexo do enfrentamento de um tempo em que salvar vidas é o que importa. No entanto, continuamos reafirmando o propósito e compromisso de promover, exibir, difundir o cinema brasileiro", resume Raquel Hallak, coordenadora geral da Mostra de Tiradentes e diretora da Universo Produção. "Quem já conhece o evento vai seidentificar e quem ainda não conhece terá a oportunidade de vivenciar uma temporada audiovisual dedicada ao cinema brasileiro contemporâneo", convida.
Sete filmes - escolhidos pelos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster - participam da Mostra Aurora, principal competitiva do evento, enquanto outros seis - incluindo o cearense "Rodson ou (Onde o Sol não Tem Dó)", de Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra - participam da Mostra Olhos Livres.
"Com o formato já estabelecido, a equipe de curadoria foi levada a pensar questões acerca da pandemia - em especial nos curtas, os filmes pandêmicos foram um fenômeno de inscrições -, mas a temática se volta mais detidamente sobre as questões e os novos fundamentoscriativos do cinema brasileiro", aponta Francis, também coordenador curatorial da Mostra.
O tema, neste ano, é "Vertentes da criação" e o longa cearense "Pajeú", de Pedro Diógenes, participa da mostra temática. Entre outras programações, a mesa "Processos e Fundamentos da Criação", no dia 20, receberá a cineasta Lívia de Paiva (que assina a direção do cearense "Tremor Iê" com Elena Meirelles), a atriz, dramaturga e diretora Grace Passô e a escritora Ana Maria Gonçalves.
A presença cearense se completa com o documentário "Swingueira", de Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula, e quatro curtas: "Preces Precipitadas de um Lugar Sagrado que Não Existe Mais", de Rafael Luan e Mike Dutra e em competição; "Pátria", de Lívia Costa e Sunny Maia; "Noite de Seresta", de Sávio Fernandes e Muniz Filho; e "Vento Viajante", produzido por alunos da rede municipal de Icapuí sob orientação de Analúcia Godoi.
Para Raquel e Francis, iniciativas em ambiente virtual vieram "para ficar". "Inevitavelmente o formato híbrido veio para ficar. A versão on-line, ainda que diminuída, deve continuar, porque dá acesso a muita gente que não tem a oportunidade da participação presencial", avalia o curador. A disponibilização on-line de filmes, inclusive, vem sendo uma saída importante - e, às vezes, única - para o escoamento da produção nacional.
"O formato digital abriu diversas janelas para o cinema brasileiro. Uma nova configuração de mercado se estabeleceu e expandiu as possibilidades de fazer chegar a produção brasileira a diversos públicos", considera Raquel. "A principal vantagem do digital é o alcance e abrangênciageográfica com que os filmes podem ser assistidos, conhecidos, debatidos", avança a coordenadora. "Novas estratégias de exibição e distribuição precisam ser encaradas como aliadas do nosso cinema, sem perder de vista a experiência da sala escura do cinema. Encontrar o equilíbrio entre o presencial e o digital é que será nosso desafio daqui em diante", arremata.
24ª edição da Mostra avança debate sobre processos artísticos e homenageia a cineasta Paula Gaitán
A 24ª Mostra de Tiradentes traz ao debate central um tema que não é necessariamente novo, mas pretende avançar em abordagens. É o que afirma o curador curatorial do evento, Francis Vogner dos Reis. Em 2021, a temática "Vertentes da Criação” foi escolhida para nortear a edição.
“A discussão sobre processosartísticos não é uma coisa nova. Então, o que muda nessa proposição? Mais do que pensar os novos modos de produção, discutirfundamentos, ideias geradoras e repertórios que estimulam criadores e criadoras em uma produção de realidades muito distintas e voltadas a ideários, tradições, cosmologias e interesses muito diversos”, aponta Francis.
Além de se espalhar pela seleção de filmes e compor uma mostra em si, a ideia de “Vertentes da Criação” também se liga à escolha da cineasta Paula Gaitán como homenageada da edição. “Ela é a diretora ideal para a homenagem sob uma temática como essa”, considera Francis.
Filha de mãe brasileira e pai colombiano, nasceu em Paris, morou na Colômbia - onde conheceu e se casou com o cineasta baiano Glauber Rocha - e, depois, no Brasil. Artista plástica e fotógrafa, entrou no audiovisual na área da direção de arte e, em 1989, estreou na direção com o documentário “Uaka”. Oitoobras dirigidas por Paula estarão disponíveis na Mostra de Tiradentes.
Entre elas, o premiado “Exilados do Vulcão” (2013); o clipe da música “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares; os longas “É Rocha e Rio, Negro Léo” e “Luz nos Trópicos”, que repercutiram fortemente em festivais on-line ao longo de 2020; e o inédito “Ostinato”, filme de abertura da mostra sobre o artista Arrigo Barnabé.
Segundo aponta Francis, a obra de Paula “lida com todas as implicaçõesdaimagem que habitam a realidade sensível da nossa época e, ao mesmo tempo, é o avesso da economia da atenção contemporânea: seus filmes possuem um tempo próprio, fazem sentir a duração dos eventos, do ‘tempo da forma’”.
Na Mostra Aurora, sete longas competem pelo TroféuBarroco. “Com relação à pandemia, os filmes nos revelamum mundo que parece muito distante do que vivemos hoje. Por outro lado, revelam sentimentos que têm muito a dizer, mostrar e elaborar sobre os tempos que seguem”, aponta o curador. Cada filme ficará disponível em uma data diferente e poderá ser assistido por 48 horas. Na manhã posterior a cada estreia, ocorrerá debate com equipe e elenco.
Já a Mostra Olhos Livres terá seisfilmes na competição, incluindo o cearense “Rodson ou (Onde o Sol não Tem Dó)”, de Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, produção do Coletivo Chorumex. Confira a lista de selecionados:
MOSTRA AURORA
“Açucena”, de Isaac Donato, “Rosa Tirana”, de Rogério Sagui “Eu, Empresa”, de Leon Sampaio e Marcus Curvelo “Oráculo”, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn “Kevin”, de Joana Oliveira “A Mesma Parte de um Homem”, de Ana Johann “O Cerco”, de Aurélio Aragão, Gustavo Bragança e Rafael Spíndola.
MOSTRA OLHOS LIVRES
“Rodson ou (Onde o Sol não Tem Dó)”, de Cleyton Xavier, Clara Chroma e Orlok Sombra, que participa da Olhos Livres. “Irmã”, de Luciana Mazeto e Vinícius Lopes “Amador”, de Cris Ventura “Subterrânea”, de Pedro Urano “Nh yãg m yõg hãm: Essa Terra é Nossa!”, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero “Voltei!”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio
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