16ª CineOP reflete "encruzilhadas históricas" do audiovisual de hoje e dos anos 1990
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Descontinuidades de políticas públicas, ataques institucionais e enfraquecimento geral do setor audiovisual. O cenário descrito soa atual, mas em verdade dá conta de mais de um tempo da história do cinema brasileiro - "o subdesenvolvimento não é uma etapa, um estágio, mas um estado", como escreve o crítico, historiador e um dos fundadores da Cinemateca Brasileira Paulo Emílio Sales Gomes no ensaio "Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento" (1973). É a partir justamente de imbricações entre tempos que começa nesta quarta, 23, a 16ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto.
O evento mineiro pretende desvelar questões, movimentos e reflexões ligados à gestão pública, produção, preservação e educação, entre outros, a partir do tema central “Memórias entre diferentes tempos”. A Mostra acontece de forma virtual e gratuita, disponibilizando 118 filmes e promovendo série de debates, mesas, masterclasses e apresentações artísticas.
Como de costume no evento, a proposição central se desenvolve em três eixos temáticos: o da História tensiona as aproximações e distanciamentos entre os contextos dos anos 1990 e dos anos 2020, sob curadoria de Francis Vogner dos Reis e Cléber Eduardo; o de Preservação, curado por Ines Aisengart Menezes e José Quental, se norteia pela pergunta “Que caminhos trilhar?”; e o de Educação desenrola o tema “Processos de criação audiovisual e metodologias de ensino”, com Adriana Fresquet e Clarisse Alvarenga como curadoras.
A homenagem da edição é para o ator Chico Diaz, figura cuja trajetória no audiovisual se relaciona de forma direta com os diferentes cenários do setor. Filho de mãe brasileira, pai paraguaio e nascido no México, o artista viveu no Peru até se mudar, ainda criança, para o Brasil. A estreia no cinema se deu em 1982, com "O Sonho Não Acabou", de Sérgio Rezende, e lá se vão quatro décadas de experiências na linguagem.
O debate inaugural, hoje à noite, será dedicado ao percurso do ator nas décadas de cinema, do início em cenário promissor, passando pelos desmontes do Governo Collor, o processo da Retomada, o refortalecimento do setor nos governos Lula e Dilma e o novo momento de descontinuidades pós-impeachment, nas gestões de Temer e Bolsonaro.
Presença cearense
Quatro filmes do Ceará compõem as diferentes mostras da CineOP. Entre os curtas da Contemporânea, serão disponibilizados para o público "Pequenas Considerações sobre o Espaço-Tempo", de Micheline Helena, e "Foi um tempo de poesia", de Petrus Cariry.
O filme de Petrus, que apresenta um material inédito em Super-8 no qual o poeta Patativa do Assaré divide vida e obra, será um dos abordados no debate “Imagens guardadas e memórias revisitadas”, que acontece no domingo, 27, às 18 horas. A proposta é refletir sobre as escolhas do que guardar e o que retomar a partir do audiovisual. Com mediação da curadora Camila Vieira, o debate contará também com Lorran Dias (RJ), Sofia Badim (RJ) e Rafael Conde (MG).
O longa "Corisco & Dadá", de Rosemberg Cariry e com Chico Diáz, será apresentado dentro da Mostra Homenagem. O debate "Preservação: da criação ao acesso" (sábado, 26, às 18 horas) terá presença do diretor cearense e pretende pensar os processos de planejamento de preservação de filmes. Lara Beck Belov (BA), Marina Thomé (SP) e Vladimir Carvalho (DF) também participam do momento, mediado por Camila Vieira.
Completam a lista o filme "Bizú", de Dan Jonathan, Gil Sousa e Pedro Higor, apresentado na mostra Curtas TV UFOP; e a animação "Vento Viajante", produzida por alunos da rede pública de ensino de Icapuí com orientação de Analúcia Godoi, que compõe as Sessões Cine-Escola. O documentário “Operação Camanducaia”, de Tiago Rezende de Toledo, é uma co-produção SP/BA/CE e reconstitui um episódio da ditadura no qual a polícia de São Paulo apreendeu e abandonou 93 crianças e adolescentes em Minas Gerais
Outros destaques
No eixo histórico, serão disponibilizados três filmes que são o ponto de partida do debate “Revisão dos mitos de formação”, que ocorre na sexta, 25, às 18 horas. Na ocasião, as cineastas Ana Carolina (de “Amélia”, 2000), Carla Camurati (de “Carlota Joaquina - Princesa do Brazil", 1995) e Lúcia Murat (de “Brava Gente Brasileira”, 2000) irão discutir sobre construções e desconstruções da formação do País a partir das obras - que ficarão disponíveis entre os dias 24 e 28.
Destaca-se, também, a disponibilização do documentário “A Negação do Brasil” (1996), de Joel Zito Araújo, que analisa o mito da democracia racial no País a partir das telenovelas. A obra será um dos motes do debate "Arquivos, mito, realidade", que acontece amanhã, às 18 horas.
16ª CineOP
Quando: de hoje, 23, até segunda, 28 Onde:no site da CineOP Programação completa aqui
Em tempo
Na 12ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, em 2017, tive a oportunidade de entrevistar a cineasta Ana Carolina. Ela apresentou na edição o seu mais recente longa, "A Primeira Missa, ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum", de 2014. O filme, que demorou a ser financiado e não teve plena distribuição, fala justamente sobre problemas que marcam a produção nacional - e a da própria diretora.
"Só porque conheço os meandros e as dificuldades do cinema brasileiro é que me meti a fazer um filme sobre isso", sentenciou. Um dos nomes mais importantes do cinema brasileiro, Ana Carolina dividiu impressões sobre desenvolvimento do mercado, dificuldades de financiamento e adiantou um novo projeto que, na ocasião, já aguardava três anos para ser concretizado. É possível ler a entrevista aqui e acessar os seis longas realizados por Ana Carolina aqui.
Mais recentemente, há dois meses, foi realizado o festival Cinema Brasileiro: Anos 2010, 10 olhares, que convidou curadoras e curadores para lançar pontos de vista à produção recente do país. Na ocasião, a coluna publicou "vislumbres de futuro" divididos por integrantes da equipe curatorial. O material mapeia, entre desejos e especulações, ideias do porvir que se ligam às reflexões propostas na 16ª Cine OP. O conteúdo por ser encontrado aqui.
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